Em janeiro de 2006 ele escandalizou a cúpula da Igreja ao rezar uma missa vestido de índio e com roupas de candomblé. Em fevereiro, até deu um “selinho” em Caetano Veloso. Um ano depois, vive uma rotina de recolhimento, na Comunidade e Casa de Encontro Sagrada Família, mantida pela Igreja Católica, em Salvador (BA).

José de Souza Pinto, 58 anos, conhecido como padre Pinto, abandonou o silêncio e falou com o G1.

Ao contrário do ano passado, padre Pinto prometeu ficar em recolhimento neste Carnaval. O polêmico padre garantiu que vai descansar no período da folia nacional. No entanto, disse que não se arrepende do que fez. “São coisas que acontecem, mas foi providencial. Pode parecer incômodo, mas isso nos leva a uma análise. Foi um momento de se mexer em alguns temas e isso me fez bem”, disse.

Em 6 de janeiro de 2006, durante a celebração da Festa dos Reis em Salvador, ele rezou missas maquiado, com trajes de índio guerreiro e de Oxum, orixá das águas doces, segundo o candomblé. Até arriscou passos do candomblé. O episódio incomodou a cúpula da Arquidiocese de Salvador, que o afastou da Igreja da Lapinha, que comandava havia 32 anos.

Outra atitude do padre que causou polêmica foi ter dado um beijinho no músico Caetano Veloso durante o Festival de Verão de Salvador, em fevereiro do mesmo ano. Em seguida, teria se convertido ao candomblé.

Hipertenso e diabético, precisou ser internado no final do primeiro semestre de 2006. Desde então, está afastado do altar da Igreja Católica, em tratamento médico. Padre Pinto disse que tem saudades da Igreja da Lapinha e da comunidade local. “Ainda não voltei para a paróquia. Não tem nada programado para mim por lá. Algumas pessoas querem me ver lá, pois foram 32 anos de convivência.”

O padre disse que não sabe o que está programado para o seu futuro religioso e se poderá voltar a comandar uma paróquia em Salvador. “Não estou ansioso, estou tranqüilo.”

Hoje, na Comunidade e Casa de Encontro Sagrada Família, padre Pinto segue uma rotina regrada. “Aproveitamos para fazer retiro, leituras e encontros. Tenho lido muito sobre a espiritualidade vocacionista. Eu tinha pouco tempo para aprofundar isso, agora aproveito mais. Minha vontade é de ficar aqui, num ambiente tranqüilo, sereno”, explicou Padre Pinto, que faz parte da Ordem das Divinas Vocações.

”Essa polêmica toda poderia ter sido evitada”

Bailarino de formação clássica e artista plástico, padre Pinto sempre adotou roupas e atitudes irreverentes ao longo de sua história como pároco. Segundo ele, seus atos no início de 2006 foram uma representação artística.

“Foi um período turbulento. Houve uma série de mal-entendidos. Nunca tive o pensamento de transgredir normas, nem de desrespeitar alguém. Foi um trabalho de ‘inculturação’, como chamamos na igreja, que é a parte da contemplação da cultura dos povos. Foi algo que sempre estudei e procurei colocar em prática”, explicou.

Ele lamenta ter provocado mal-estar à comunidade e à Igreja Católica. “Nunca tive intenção de maltratar alguém. Tudo ganhou força na comunidade e na imprensa. Essa polêmica toda poderia ter sido evitada. Não sei, mas o fato é que tudo passou, estamos num período novo.”

Padre Pinto contou que sua saúde ficou debilitada depois de um tratamento cardíaco e que acabou ainda mais enfraquecido durante a polêmica. “Fiz uma cirurgia de grande porte em 2003. Tratei de um aneurisma na aorta, mas estou bem, graças a Deus. Estou fazendo tratamento médico e repousando, pois vinha trabalhando direto.”

Fonte: G1

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