O papa Bento 16 apresentou a um grupo de cardeais e bispos um documento que facilitará a celebração da missa em latim e será divulgado nos próximos dias, informou o Vaticano.

A apresentação ocorreu ontem no Palácio Apostólico e contou com a presença do cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, e de outros 15 cardeais e bispos –entre eles o vigário de Roma, Camillo Ruini, e o presidente da Conferência Episcopal Italiana, o arcebispo Angelo Bagnasco.

Também estiveram presentes o bispo francês Philippe Barbarín, o alemão Karl Lehmann e o britânico Murphy O’Connor, o arcebispo suíço Kurt Koch e o americano Patrick O’Malley.

Bertone foi o encarregado de apresentar o “Motu Proprio” –documento que o papa escreve por iniciativa própria, e não como resposta a uma solicitação–, depois Bento 16 “teve uma profunda conversa durante cerca de uma hora” com os presentes, segundo o Vaticano.

O “Motu Proprio” “Sobre o uso do Missal Promulgado por João 23 em 1962” –como foi denominado pelo Vaticano no comunicado desta quinta-feira– será publicado nos próximos dias e será acompanhado de uma extensa carta do Papa aos bispos, afirmou a Santa Sé.

O documento papal é esperado há muito tempo e permitirá celebrar mais livremente a missa de São Pio 5º, conhecida como tridentina, e que era oficiada antes das mudanças na liturgia introduzidas pelo Concílio Vaticano 2º (1963-1965).

O Concílio Vaticano 2º introduziu o “Novus ordo missae”, a nova forma de celebrar a missa e que substituiu a realizada em latim, celebrada até 1969, apresentando a possibilidade de oficiá-la em vários idiomas.

O encontro também dispôs que o sacerdote oficiasse a missa olhando para os fiéis, ao contrário do que era feito até então.

Missa em latim

O cardeal colombiano Dario Castrillón Hoyos, presidente do Conselho da comissão “Ecclesia Dei”, afirmou que o que Bento 16 pretende é “estender para toda a Igreja Latina a possibilidade de celebrar a Santa Missa e os Sacramentos segundo os livros litúrgicos promulgados pelo beato João 23 em 1962 (antes do Vaticano 2º)”.

“Atualmente vemos um novo e renovado interesse por esta liturgia, que nunca foi abolida e que é considerada um tesouro por muitos”, afirmou o cardeal colombiano.

“Por isso Bento 16 considera que chegou o momento de facilitar –como teria proposto uma comissão de cardeais em 1986– o acesso a esta liturgia como forma extraordinária do único Rito Romano”, acrescentou.

A missa em latim, nunca oficialmente suspensa, foi caindo em desuso, e, em 1982, o Papa João Paulo 2º decretou que para oficiar a missa tridentina seria necessário recolher assinaturas e pedir permissão ao bispo da diocese onde ela seria celebrada, que, no entanto, poderia rejeitar o pedido.

Retorno

A autorização pode representar a volta à Igreja Católica dos seguidores do arcebispo Marcel Lefebvre, fundador em 1968 da Fraternidade Sacerdotal de São Pio 10, ferrenha defensora da tradição e da liturgia tridentinas.

Lefebvre foi excomungado pelo Vaticano em 30 de junho de 1988 após ter consagrado quatro bispos sem a permissão de Roma.

O “Motu Proprio” de Bento 16 permitirá, segundo as fontes, a celebração da velha missa de maneira “extraordinária”, cumprindo determinadas condições, como já é feito com outros ritos, como o bizantino, o moçárabe ou o sírio-antioquenho.

Fonte: Folha Online

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