O papa Bento 16 reafirmou fortemente nesta terça-feira (13/3) a oposição da Igreja ao aborto, eutanásia e casamento gay, dizendo que os políticos católicos são “especialmente” obrigados a defender as crenças da Igreja em seus deveres públicos.

“Estes valores não são negociáveis”, escreveu o papa em uma “exortação apostólica” de 130 páginas, uma destilação das opiniões de um encontro mundial de bispos no Vaticano em 2005.

Conseqüentemente, os políticos e legisladores católicos, conscientes de sua grave responsabilidade perante a sociedade, devem se sentir particularmente obrigados, com base em uma consciência apropriadamente formada, a apresentarem leis inspiradas pelos valores baseados na natureza humana. Enquanto isso, na mesma terça-feira, o papa se reuniu no Vaticano com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, no primeiro encontro entre eles desde que Bento se tornou papa em abril de 2005.

Uma declaração do Vaticano disse que os homens discutiram como melhorar as relações entre católicos e ortodoxos – uma questão que Bento colocou próxima do centro de seu papado. Os dois homens conversaram na residência papal, principalmente em alemão, a língua natal do papa e que Putin também fala.

As relações foram tensas ao longo dos 1.000 anos desde que as duas Igrejas se dividiram, assim como recentemente, com as alegações da Igreja Ortodoxa de que os católicos estão buscando converter ortodoxos. A questão foi um grande obstáculo para a visita de João Paulo 2º à Rússia, um polonês que expressou freqüentemente seu desejo de viajar até lá.

Apesar dos convites dos líderes russos, a hierarquia ortodoxa sempre se opôs a qualquer visita papal e, nesta terça-feira, um assessor de Putin disse que ele não negociaria assuntos da Igreja. “Não há intermediários no diálogo entre as Igrejas”, disse Sergei Prikhodko aos repórteres em Moscou, segundo agências de notícias. Putin se encontrou com João Paulo 2º duas vezes, em 2000 e 2003.

O documento divulgado na terça-feira não contém surpresas, repetindo de forma mais ampla posições que a Igreja mantém há muito tempo e que Bento expressa freqüentemente. Uma exortação apostólica é a segunda forma mais elevada de ensino papal, atrás da encíclica.

Ainda assim, o momento da divulgação do documento teve repercussão política na Europa, onde um número cada vez maior de países permite tanto a eutanásia quanto o casamento de mesmo sexo. O debate em torno destas questões tem sido particularmente potente na Itália, onde o Vaticano continua influente apesar da freqüência à igreja continuar caindo.

Nas últimas semanas, os líderes do Vaticano, incluindo o próprio papa, têm se manifestado contra uma lei proposta pelo governo do primeiro-ministro Romano Prodi, que expandiria os direitos dos casais não casados, incluindo os homossexuais. A proposta tem sido uma grande fonte de tensão na frágil coalizão de Prodi, já que as autoridades da Igreja têm afirmado que os políticos católicos são obrigados a se oporem a ela.

Apesar da preparação do documento ter levado quase dois anos, desde o encontro dos bispos, ele sugere que a Igreja continuará se manifestando fortemente sobre os assuntos políticos que considera fundamentais, mesmo sob risco de acusações, como tem acontecido na Itália, de que está interferindo na política.

Tais questões, escreveu Bento, incluem o “respeito pela vida humana, sua defesa da concepção à morte natural, a construção da família em torno do casamento entre um homem e uma mulher, a liberdade de educação das crianças e a promoção do bem comum em todas suas formas”.

No documento, o papa também repetiu que o celibato continua “obrigatório” para os padres católicos. No encontro de 2005, muitos bispos lamentaram a escassez de padres em muitas partes do mundo, abrindo um raro debate público entre os líderes da Igreja sobre possíveis mudanças limitadas, como permitir o sacerdócio a diáconos casados.

Mas como seu antecessor, João Paulo 2º, Bento 16 descartou tais mudanças. “Eu reafirmo a beleza e importância de uma vida sacerdotal vivida em celibato como um sinal de devoção total e exclusiva a Cristo, à Igreja e ao Reino de Deus”, escreveu.

Fonte: The New York Times

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