Foi-se o tempo em que bastava apelar aos anjos pela proteção das igrejas. Para garantir que fiéis possam rezar em paz e que as obras de arte sacra continuem onde estão, as igrejas de São Paulo investiram em sistemas de segurança mais modernos e aumentaram o número de vigias nos últimos anos.

“Atualmente temos três seguranças de dia e um de noite. Vinte e quatro horas há alguém cuidando daqui, mesmo com a igreja fechada”, conta o padre Peter Fenech, responsável pela Catedral da Sé, no Centro de São Paulo. “E estou querendo aumentar, colocar mais dois seguranças”, diz.

O padre aponta que a Praça da Sé ainda é cenário de muitos roubos, o que afasta os fiéis. “As pessoas precisam se sentir seguras. Dentro da Catedral é lugar de silêncio, de respeito, não de coisas erradas.”

Mas a segurança da Sé ainda é muito simples. Além dos quatro vigias, conta apenas com um sistema de alarme. A única câmera de segurança está ao lado de fora, na praça. “O que tem fora isso é o anjo da guarda da Catedral. E as portas, muito fortes, que são de madeira jacarandá vinda da Bahia”, conta o padre Peter.

Por isso, as peças mais valiosas da igreja não estão expostas e ficam trancadas no porão. Entre elas, está um presépio trazido em 1746 de Porto, em Portugal, pelo primeiro bispo de São Paulo, dom Bernardo Rodrigues Nogueira.

Outra igreja que teve de deixar trancadas as peças sacras é a de São Judas, no bairro de Jabaquara, Zona Sul. “Tem pessoas que, às vezes, por recordação, querem levar a imagem ou um dedo da imagem. Temos uma de madeira, por exemplo, da qual quiseram levar a cabeça. A gente tem poucas [obras valiosas] e, mesmo assim, deixamos guardadas por causa do valor histórico”, relata o padre Marcelo Alves dos Reis. Ele não deixou o G1 fotografar as imagens “por questões de segurança.”

“Nós nos precavemos antes que aconteça alguma coisa. A segurança é tanto para as obras e bens da igreja quanto para as pessoas”, afirma. A Igreja de São Judas possui sistema de alarme, monitoramento 24 horas com empresa especializada, câmeras de segurança e seis vigias.

O cuidado pode parecer excessivo, mas não é. O segurança Lismar Lemos, de 29 anos, trabalha há um ano na São Judas. No período, já presenciou duas tentativas de furto ao cofre da igreja. “Um foi em abril e o outro, em junho ou julho. O primeiro usou arame e o segundo tentou com piche”, lembra. Nas duas vezes, Lemos chegou a tempo de deter os criminosos, e os mandou para a delegacia da região.

Pegou o ladrão com a buzina

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no Sumaré, Zona Oeste de São Paulo, ainda deixa à mostra os tesouros de arte sacra que guarda, como a Via Sacra pintada pelo artista plástico romeno Samson Flexor e as portas feitas por artesãos do Liceu de Artes e Ofícios.

Há cerca de oito anos, a segurança também foi reforçada com câmeras e vigilantes à paisana. Além disso, as portas da frente ficam sempre trancadas a cadeado nos dias de semana. “Não impede, mas dificulta. Ladrão é preguiçoso senão, não seria ladrão”, filosofa o frei Yves Terral, responsável pela igreja.

Ele ainda lamenta o furto do cálice com que fez sua primeira celebração. O crime aconteceu há 10 anos, dentro da sacristia da igreja, após a missa. “Ele tinha sido feito pelo melhor artesão francês. Era um pedaço de cobre, não tinha valor econômico, só o desenho”, conta. “O ladrão não ganhou nada. Só eu perdi”, lamenta.

Para ele, até os criminosos se sentem mais seguros dentro dos templos religiosos. “O ladrão em uma casa de padre não arrisca nada. No máximo, leva um empurrão. E depois, o padre ainda fica se culpando”, diz.

Mas o frei Yves ainda lembra da vez em que a Lâmpada do Santíssimo, que fica ao lado direito do altar, foi levada por um bandido. Ele acabou devolvendo a peça após ser pego de uma forma, no mínimo, diferente: a buzina da lambreta do frei Armando, então responsável pela igreja.

“Ela [a lambreta] tinha buzina de caminhão. Não sei quantas libras de pressão, mas era assustadora”, conta. “Frei Armando foi atrás do ladrão e, quando chegou perto, deu uma buzinada”, completa. Depois de assustar o criminoso, o frei conseguiu alcançá-lo, e acabou recuperando a lâmpada furtada.

Sem números

Não há números para os furtos de peças sacras em São Paulo. “Não há, porque [os furtos] não são repassados. Cada paróquia tem autonomia e elas mesmas resolvem isso”, diz o padre Juarez de Castro, secretário de comunicação da Arquidiocese paulista.

Segundo ele, em São Paulo, a maior parte das peças sacras está em museus. Por isso, o número de furtos não é expressivo. Mas o padre admite que a violência fez com que as igrejas reforçassem a proteção. “Algumas têm instalado novos sistemas para garantir a segurança de quem está rezando.”

Fonte: G1

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