O jornal L’Osservatore Romano defendeu em seu editorial que a declaração de “morte cerebral” não pode mais ser parâmetro para definir o fim de uma vida, e deve ser revista, em virtude dos novos avanços científicos.

A declaração contraria o “Relatório de Harvard”, que há 40 anos modificou a definição de morte. Na época, paradas cardíacas, circulatórias e respiratórias eram o que definia a morte, mas o relatório demonstrou que o parâmetro deveria ser a morte encefálica.

Na época, a Igreja católica havia aceitado a definição, proclamando-se favorável à retirada dos órgãos dos pacientes com morte cerebral. Posteriormente, porém, foi demonstrado que a “morte cerebral não corresponde à morte do ser humano”, ressaltou o Osservatore Romano.

Atualmente, a Igreja se encontra em uma situação delicada, pois “a idéia de que a pessoa deixe de existir quando o cérebro pára de funcionar considera a existência do ser levando em conta somente o funcionamento cerebral”, defendeu o jornal.

O editorial explicou ainda que “este fato entra em contradição com a concepção católica da existência e, desta forma, com as orientações da Igreja no que se refere aos casos de coma profundo”.

O artigo levantou a possibilidade de que a definição de morte “tenha sido motivada mais por interesse, ou pela necessidade, de transplante de órgãos do que por um real avanço científico”.

Segundo o Osservatore Romano, muitos médicos, juristas e filósofos norte-americanos estão de acordo que “a morte cerebral não é a morte do ser humano”.

Em anos recentes, a idéia de que a vida do ser humano está ligada à presença de um cérebro funcional foi invocada em uma série de polêmicas para defender posições que conflitavam com as posturas adotadas pela Igreja, como no caso da americana Terri Schiavo e no debate em curso, no Brasil, sobre a interrupção da gestação de fetos anencéfalos.

Fonte: Estadão

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