Cerca de mil crianças e adolescentes atendidos pelos programas sociais da Pastoral do Menor fluminense estão assolados pela incerteza desde a última quarta-feira, quando os 17 funcionários foram demitidos pela Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Segundo o padre Leandro Cury, porta-voz da Arquidiocese, auditoria encomendada à Fundação Getúlio Vargas determinou a reavaliação da estrutura e dos custos do serviço, que atua em oito frentes, atingindo 54 comunidades carentes.
“Essa visão empresarial vai de encontro à própria missão da igreja” critica Cristina Sá, que participou, ao lado do cardeal e ex-arcebispo do Rio, dom Eugenio Sales, da fundação da Pastoral, em meados dos anos 1980, e está afastada do trabalho há quatro anos.
“O trabalho é precioso e continuará, mas que seja feito por voluntários e não por assalariados.”
Enquanto o serviço não é retomado ¿ e nem há data prevista para isso ¿ os beneficiados pelas oportunidades de capacitação profissional e de ingresso no primeiro emprego, atividades esportivas e culturais, aumento da renda e fortalecimento de laços familiares, esperam ansiosos pela definição.
No vermelho
A alegação para a reformulação é uma dívida de R$ 510 mil.
“Lembramos da Igreja quando vemos um padre rezando missa ou ajudando os carentes, mas poucos atentam para o fato de que ela administra e presta contas. Se não fizer isso, desanda”, argumenta Cury.
O balanço negativo, de acordo com a ex-coordenadora técnica da Pastoral, Regina Leal, é fruto de problemas de documentação da Mitra, o órgão juridicamente responsável pela administração do patrimônio da Arquidiocese, bem como das paróquias.
“Sem a documentação, ficamos impedidos de receber doações, firmar convênios com estatais e até realizar rifas, que correm pela Loteria Federal. Nosso custo de funcionamento é de R$ 55 mil por mês, e nesses momentos precisamos do apoio da Arquidiocese.”
Regina, também demitida, não concorda com o que considera como visão tecnocrática imposta a uma obra social que já ajudou mais de 10 mil pessoas desde sua fundação.
“A Arquidiocese não deu a contrapartida, como era feito no tempo em que dom Eugenio estava à frente”, lembra Regina. “A palavra déficit não se aplica. O certificado do Conselho Nacional de Assistência obriga a Igreja a gastar 20% em atividades sociais.”
O padre Cury confessou ontem que não tinha idéia do que estaria acontecendo nas sedes da Pastoral na Glória (Zona Sul) e em Campinho (zona norte) ontem, no primeiro dia sem a equipe demitida.
“Realmente, nesse período de reajuste do projeto podem ocorrer problemas pontuais”, reconheceu. “Precisamos melhorar a fluidez em algumas áreas de atuação.”
Regina frisa que o projeto nunca foi assistencialista, procurando dar aos beneficiários condições de se tornarem produtivos.
“Sempre fizemos tudo com critério e tivemos que sair sequer reorganizar os convênios e as relações com os parceiros.”
Ela diz que, segunda-feira, haverá uma reunião de ex-funcionários com as lideranças comunitárias para dar uma satisfação.
“Eles não precisam de mais desesperança. Já têm muita.”
Fonte: JB Online