Numa cerimônia polêmica e sem precedentes na história da Igreja, o Vaticano beatificou, neste domingo, 498 católicos mortos pelas milícias de esquerda durante a guerra civil espanhola (1936-1939), entre eles dois bispos, 24 padres e um grande número de monges e freiras.

A beatificação dos chamados “mártires” da guerra civil foi duramente criticada na Espanha, principalmente pelo governo socialista do primeiro-ministro José Luiz Rodriguez Zapatero, que pretende reabilitar as vítimas de perseguição da ditadura de Franco.

O Parlamento espanhol deverá aprovar um projeto de lei nesse sentido na próxima quarta-feira, contra os votos da oposição conservadora. O avô de Zapatero, que lutou ao lado dos republicanos na guerra civil, foi executado por seguidores de Franco.

Esteio da ditadura

A Igreja Católica espanhola apoiou, em 1936, o levante do futuro ditador Francisco Franco contra o governo republicano. Em consequência, ela virou alvo de atos de violência anticlerical. Mais tarde, Franco mandou executar milhares de republicanos, com a conivência da Igreja – ainda hoje estão sendo resgatados restos mortais das vítimas das valas comuns.

Parentes das vítimas do regime de Franco também criticaram a beatificação. Eles lembraram o apoio dado pela Igreja ao ditador espanhol, que chegou ao poder com a ajuda da Alemanha nazista e a da Itália fascista. Estima-se que mais de meio milhão de pessoas morreram na guerra civil espanhola.

O cardeal português José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para Beatificação e Canonização, que presidiu a cerimônia diante de 40 mil pessoas na Praça de São Pedro, tentou acalmar os críticos, afirmando que nas beatificações não trata de valores universais “e, sim, de um apoio pessoal a Cristo, salvador do cosmo e da História”.

O papa Bento 16 disse que os beatificados “nos ensinam a atuar incansavelmente pela caridade, a reconciliação e a convivência pacífica”. A Igreja Católica até hoje não pediu perdão por seu apoio à ditadura de Franco.

O secretário-geral da Conferência dos Bispos Espanhóis, Juan António Martínez, desmentiu qualquer relação entre a beatificação em massa e o projeto de lei a ser votado pelo Parlamento espanhol. Durante o pontificado do papa João Paulo 2º, o Vaticano já havia beatificado 471 católicos espanhóis.

Fonte: DW World

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