O programa, que estreou em maio com 10 candidatos, conquistou uma audiência impressionante entre os jovens malasianos.

Os holofotes brilhantes do estúdio iluminam os rostos de quatro jovens nervosos, abraçados enquanto aguardavam ansiosamente seu destino. Os cameramen estavam preparados para capturar o momento decisivo. Finalmente, o juiz principal quebrou o suspense.

Dois dos candidatos foram eliminados. Os outros dois deram mais um passo na direção de seu sonho. Vencedores e derrotados, cada um deles vestindo um terno escuro e chapéu preto formal, se alternaram abraçando uns aos outros.

A competição se chama “Imam Muda”, ou “Jovem Líder” – um programa de reality TV malasiano com tema religioso.

A premissa básica pode ser igual a dos reality shows, mas aqui, dentro de um auditório em uma das maiores mesquitas de Kuala Lumpur, são notáveis as variações na fórmula testada e comprovada.

Antes de cada episódio, os candidatos se reúnem para recitar uma oração, enquanto os desafios pelos quais são julgados incluem a lavagem dos defuntos em preparação para o enterro e assegurar que os animais sejam abatidos segundo os princípios islâmicos.

A premiação, também, oferece uma indicação clara da diferença entre o programa e o roteiro habitual dos reality shows. Dinheiro e um carro novo são disputados, mas o vencedor também obterá um emprego como imã, ou líder religioso, uma bolsa para estudar na Arábia Saudita e uma peregrinação com todas as despesas pagas para Meca, a cidade mais sagrada do Islã.

O programa, que estreou em maio com 10 candidatos – dentre mais mil inscritos, com formações tão diversas, variando de bancários a agricultores – conquistou uma audiência impressionante entre os jovens malasianos. Ele é o programa mais assistido no “Astro Oasis”, um canal a cabo de estilo de vida muçulmano, e sua página no Facebook conta com mais de 50 mil fãs.

A audiência deverá aumentar na sexta-feira, quando o vencedor será anunciado em uma transmissão ao vivo de um salão de convenção. Os dois finalistas passaram os últimos dias em suas cidades natais, dando sermões e organizando eventos comunitários. Durante a final, eles terão que debater assuntos religiosos e do noticiário, assim como recitar passagens do Alcorão.

Alguns comentaristas políticos dizem que a popularidade do programa reflete a crescente islamização deste país de maioria muçulmana, de 26 milhões de habitantes. Os criadores do programa, que já estão planejando uma segunda temporada, dizem que estão tentando fornecer uma forma de entretenimento que torne o Islã mais relevante nas vidas dos jovens e que expanda o papel dos líderes religiosos além da mesquita.

Uma colaboração entre a “Astro Oasis” e um departamento de assuntos islâmicos do governo regional, o programa exige que os candidatos, com idades entre 18 e 27 anos, dominem e demonstrem os deveres de um imã por meio tanto de atividades práticas quanto teóricas. Além dos preparativos dos defuntos não reclamados para o enterro, uma tarefa que alguns candidatos disseram ter sido particularmente memorável, os homens também tiveram que aconselhar adolescentes rebeldes, consolar idosos abandonados por seus filhos e demonstrar seu conhecimento do Alcorão.

Izelan Basar, o criador do programa e diretor do canal “Astro Oasis”, disse que sua meta era encontrar uma forma de tornar o Islã mais atraente para os jovens.

“Em toda religião, o desafio mais difícil é atrair os jovens”, ele disse, notando que a maioria dos imãs do país são homens mais velhos.

Nos preparativos para o programa, os produtores pesquisaram entre os jovens a respeito do tipo de imã que gostariam de ver em suas mesquitas.

“Eles disseram: ‘Nós queremos ver alguém que possa falar a falar a nossa língua, que possa ser um de nós, um imã que saiba jogar futebol, que possa falar sobre Copa do Mundo, que possa falar sobre o meio ambiente e sobre discos voadores, por exemplo”, disse Izelan.

Apesar das principais tarefas de um imã incluírem a realização dos sermões de sexta-feira e a condução das orações, Izelan disse que os candidatos também foram treinados pelo programa para falar em público, se vestirem de forma adequada, a saberem como conversar com crianças, até mesmo como segurar os instrumentos de corte, assim como estudar o Alcorão.

Malina Ibrahim, 32 anos, uma bancária que assiste “Imam Muda” em casa com seus pais, previu que o programa encorajará os jovens a seguirem mais atentamente o Islã.

“Se você tiver um marido em sua família com esse tipo de conhecimento, as pessoas respeitarão você”, disse Malina, enquanto almoçava com amigas em uma praça de alimentação no centro da cidade.

O juiz é Hasan Mahmood al Hafiz, um ex-grão-imã nacional. Ele diz estar à procura de alguém com forte entendimento do Islã, mas também com conhecimento geral e habilidade de comunicação, “moralidade forte” e mente aberta. Há escassez de homens jovens com as qualidades para ser um bom imã, ele disse, algo que ele espera que o programa ajude a mudar.

Durante grande parte do programa, os candidatos ficaram confinados em um albergue, isolados da família e dos amigos, dos jornais, da televisão e da Internet. Um candidato, Mohammad Taufek bin Mohammad Noh, foi autorizado a sair brevemente para seu casamento, mas teve que retornar ao albergue após a cerimônia.

Assim, os candidatos só ouviam breves comentários sobre o sucesso do programa por meio da produção, e alguns ficaram agradavelmente surpresos pelo seu desempenho ter conquistado tamanha audiência, especialmente entre as telespectadoras.

Ahmad Hazran bin Ahmad Kamal, um bancário de 25 anos que foi eliminado na semifinal na semana passada, confessou que apesar de não ter problemas em falar perante uma multidão, ele ficava nervoso quando falava com garotas.

“Mas se quiserem casar comigo, por que não?” ele disse, sorrindo timidamente.

Na sexta-feira, os fãs do programa descobrirão se Hizbur Rahman bin Omar Zuhdi, 27 anos, ou Asyraf bin Mohammad Ridzuan, 26 anos, será nomeado o primeiro “Imam Muda” da Malásia. Hizbur, um professor colegial de religião, disse que espera “usar o ‘Imam Muda’ como plataforma para se transformar em um modelo para os adolescentes e para a comunidade”.

“O benefício deste programa – a fama– é um ativo para atrair os jovens para viverem a religião”, ele disse.

Asyraf, que já trabalhou como imã por quatro meses, disse que decidiu participar do programa porque queria atingir mais pessoas e melhorar seu conhecimento do Islã.

“Eu me sinto muito feliz e abençoado”, ele disse após saber que tinha chegado à final.

Izelan, que disse ter recebido consultas de emissoras de televisão na Turquia e no Egito sobre a produção de programas semelhantes, parece genuinamente surpreso com o sucesso de “Imam Muda”.

“Nós fornecemos uma plataforma e certo grau de fama”, ele disse. “O que eles farão agora cabe a eles.”

[b]Fonte: The New York Times[/b]

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