Um grupo de ginecologistas italianos propôs no fim de semana que fetos com vida, de forma natural ou não, passem a contar com toda assistência médica necessária para que consigam sobreviver.

A proposta está gerando grande polêmica na Itália porque prevê que a reanimação seja aplicada também nos casos de aborto provocado, em que a mãe deseja terminar a gravidez.

No documento, assinado por diretores das clínicas ginecológicas das principais universidades de Roma, os médicos propõem que os recém-nascidos sejam tratados como “qualquer paciente em condições de risco e tenham toda a assistência terapêutica necessária, não importando quanto tempo durou a gestação”.

“No documento, não determinamos a partir de quantas semanas a reanimação poderá ser feita porque queremos dar prioridade às chances de vida do recém-nascido”, afirmou Domenico Arduini, diretor da clínica de obstetrícia da Universidade Tor Vergata.

“Agindo logo, ganhamos tempo precioso porque não há necessidade de discutir com os pais antes de decidir, como acontecia antes.”

Contra a natureza

Outros médicos, no entanto, não concordam com a iniciativa. “O limite mínimo para a qualidade da vida humana tem como referência 24 semanas de gestação”, disse Gianpaolo Donzelli, diretor do departamento de Medicina Neonatal do hospital Meyer ao jornal La Repubblica.

“Antes disso, é quase impossível que haja uma resposta positiva do paciente”, acrescentou Donzelli.

A ministra da Saúde italiana, Livia Turco, também criticou a proposta. “Praticar a reanimação contra a vontade da mãe é uma crueldade insensata”, disse Turco aos jornais italianos.

Segundo os especialistas, há chances de um feto sobreviver se nascer a partir da 22ª semana de gravidez, mas o risco de que desenvolva doenças é muito grande.

Eles consideram que entre a 22ª e a 23ª semana, os órgãos vitais já estão formados, mas não estão bem desenvolvidos, e o feto ainda não pode respirar sozinho.

Entre a 26ª e a 27ª semana, o sistema cardiocirculatório já se desenvolveu, mas o respiratório ainda não, e só entre a 29ª e a 30ª semana o sistema cerebral pode ser considerado desenvolvido. Ainda assim, a prematuridade é considerada grave.

“Reanimar um feto que nasce na 22ª semana de gravidez é querer vencer de todo jeito a natureza”, afirma Claudio Giorlandino, presidente da sociedade italiana de diagnóstico pré-natal. “O sistema nervoso central do feto não está formado e quem consegue sobreviver pode ter danos neurológicos gravíssimos.”

Eutanásia

Mas, na opinião da especialista em bioética Cinzia Caporale, se há sinais de vitalidade claros, o recém-nascido deve ter uma chance.

“Sou a favor da eutanásia para os adultos, mas jamais para crianças, mesmo que seja a pedido dos pais”, afirma Caporale.

Na Itália, a lei 194, aprovada em 1978, garante que mães possam abortar durante qualquer fase da gravidez, mas geralmente os casos de aborto provocado não ultrapassam a 24ª semana.

“A 22 semanas de gestação, são feitos os exames que detectam má formação nos fetos”, diz a ginecologista Alessandra Felici, em entrevista à BBC Brasil. “A maioria das mulheres que não deseja filhos com problemas graves decide interromper a gravidez a partir daí.”

Na opinião da ginecologista, com os progressos da ciência, é possível manter em vida fetos com poucas semanas, mas antes de 22 semanas é muito difícil que se obtenha um resultado positivo.

O Vaticano e parte dos católicos italianos têm pressionado o Parlamento para que a legislação seja revista.

Em seu discurso aos fiéis na praça de São Pedro, no domingo, o papa Bento 16 voltou a reafirmar a posição da Igreja “em defesa da vida desde antes do nascimento até seu fim natural”.

Fonte: BBC Brasil

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