O teólogo brasileiro Leonardo Boff, ex-colega de Joseph Ratzinger, classifica Bento 16 como um papa “politicamente desastrado” e um “pastor medíocre” pela forma como geriu as declarações de bispos católicos sobre o holocausto.

“Este papa é politicamente desastrado. Irritou todas as igrejas saídas da Reforma negando-lhes o título de igrejas. Entrou em conflito com os muçulmanos, e agora com os judeus e todo o povo alemão, a ponto de a primeira ministra Merkel ter que intervir junto ao Vaticano. Na verdade, ele pode ser um bom professor, mas é um pastor medíocre que não sabe suscitar direção à igreja e ânimo nos fiéis”, cita Leonord Boff em entrevista escrita à Agência Lusa.

O fundador da Teologia da Libertação no Brasil, corrente de pensamento que envolve teologias cristãs de países do Terceiro Mundo, interpreta a suspensão da excomunhão dos quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio 10, entre eles o inglês Richard Williamson, como um ato conservador de Ratzinger.

O bispo negacionista Richard Williamson integra um grupo de prelados que contesta o Concílio Vaticano 2° e as propostas de reconciliação entre católicos e judeus e, recentemente, em entrevista a uma televisão sueca, negou a existência do holocausto durante a 2ª Guerra Mundial.

Segundo Boff, “Bento 16 sempre olhou com simpatia o grupo de Lefebvre [Marcel, fundador da Irmandade em 1970], pois se move na mesma onda conservadora” e cita que “tais bispos são seus aliados naturais. Quando se apresentou a oportunidade, logo os indulgentou da excomunhão”.

Leonardo Boff coloca em questão a escolha de Ratzinger para papa: “Até hoje é um mistério, pois é uma figura de desunião, de polêmica, quando a função de papa é manter unido o corpo eclesial e animar a fé e a esperança dos cristãos. Ele faria bem a todos se aplicasse para si as leis canônicas, segundo as quais um bispo ou cardeal que ultrapassou 80 anos solicitasse afastamento voluntário de sua função”.

Boff, de 71 anos, chegou a partilhar o mesmo pensamento teológico de Ratzinger, contudo, devido às suas teorias da Teologia da Libertação, em 1984, foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, ex-Santo Ofício, no Vaticano, tendo sido afastado de todas as suas funções de magistério no campo religioso.

“Houve uma época em que apreciei muito a sua teologia, mas depois que foi feito cardeal e presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, [Ratzinger] mostrou suas raízes bávaras, de um cristianismo rústico e muito tradicional”, afirma, dizendo que o atual papa foi seu inquisidor em 1984.

Nesta altura, diz Leonardo Loff, o papa “puniu mais de 150 teólogos e cerceou a liberdade de pensamento na igreja” e acrescenta que Ratzinger “vive cercado pelos grupos mais bajuladores que existem na igreja, movimentos extremamente conservadores, tristes como se fossem ao próprio enterro, mas cheios de dinheiro e de capacidade de manipulação do poder sagrado no interesse da mera manutenção institucional da igreja e não de sua missão evangélica de serviço ao mundo, especialmente aos pobre e sofredores”.

Segundo Boff, a hierarquia central da igreja está “vastamente desmoralizada”, pois sustenta teses “sem sentido de humanidade e de misericórdia” e citou posições que o Vaticano assumiu contra homossexuais, contraceptivos e relação ecumênica.

Defensor da causa dos Direitos Humanos, durante 22 anos, Boff lecionou Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudos e universidades no Brasil e no exterior, além de professor-visitante nas universidades de Lisboa, Salamanca, Harvard, Basiléia e Heidelberg.

Fonte: Lusa

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