No segundo dia da visita do papa ao Brasil, a “guerra santa” na TV teve capítulo importante: a Record, do evangélico Edir Macedo (Igreja Universal do Reino de Deus), declarou-se favorável ao aborto, condenado por Bento 16 na visita ao país.

O “Jornal da Record”, principal telejornal da emissora, concentrou a cobertura do papa na polêmica do aborto e fez uma edição claramente contrária à posição da Igreja Católica.

Repetiu declaração do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de que quem não reconhece que essa é uma questão de saúde pública “está delirando”, “surtou” ou tem “algum problema de confusão mental”.

Além de entrevistar católicas favoráveis “à liberdade para a interrupção da gravidez indesejada”, afirmou que o Instituto Ressoar, projeto social da Record, defende o aborto. Mostrou uma campanha do instituto no qual uma mulher pergunta: “Será que não posso decidir o que fazer com o meu corpo?” A peça se encerra com a frase: “Aborto. Porque toda mulher sabe o que é importante”. A reportagem seguiu com enviado à Cidade do México, onde o aborto foi aprovado. Foi entrevistada uma deputada que “culpou a Igreja Católica por interferir nas decisões do povo mexicano”. Outra disse que “a Igreja Católica é preconceituosa”.

O “Jornal Nacional” também destacou a polêmica do aborto, mas ouviu os dois lados.

À tarde, as TVs tentavam fazer de Bento 16 um papa pop. Mas Ratinho, em entrevista à Band, deu a senha: “O outro papa era mais jeitoso. Mas esse aí também é bem intencionado”.

Record nega interferência e defende isenção de sua cobertura

Duas reportagens sobre a vinda do papa Bento XVI ao País, uma delas com foco em Aparecida, teriam sido descartadas do Jornal da Record a poucos minutos de irem ao ar, na edição de segunda-feira. Há testemunhas. As duas matérias teriam sido derrubadas quando já constavam do ‘espelho’, jargão que denomina o script do telejornal, por ordem de um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus que ocupa o staff de comando da emissora.

A direção de jornalismo da Record, por meio de sua assessoria de comunicação, nega veementemente o episódio. Garante que nenhuma reportagem sofreu qualquer tipo de restrição e endossa que vem tratando a visita do papa como fato jornalístico. A casa alega ainda que escalou seus principais repórteres para tanto e não considera que o espaço dedicado a Bento XVI seja modesto: para a Record, é a Globo que está exagerando.

No Hoje em Dia, ontem, Britto Jr. dizia ao telespectador: ‘Você não precisa mudar de canal para se informar sobre a visita do papa; a Record está acompanhando toda a movimentação em torno desse chefe de Estado.’

Ibope

Os índices de audiência registrados na transmissão da chegada do papa, na tarde de anteontem, endossam a opção de abrir espaço ao tema. Entre 15h37 e 17h01, houve um aumento no número de televisores ligados na Grande São Paulo: o alcance chegou a 52% dos aparelhos (a média do horário em abril foi de 40%).

A Band ficou em segundo lugar no horário, com 4,5 pontos, ante 23,8 da Globo, 4 da Record e 2,3 da RedeTV!. O SBT, que ignorou a chegada do papa, ficou nos 2,4 pontos de média – às 16h21, tinha 1 ponto (menos que a Gazeta, com 1,4). Os dados são referentes à prévia do Ibope minuto a minuto na Grande São Paulo, onde 1 ponto equivale a 54,4 domicílios.

Fonte: Folha de São Paulo e Estadão

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