Após uma repercussão negativa nas redes sociais, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) vetou a alteração do nome da estação Vila Mariana, na linha 1-azul do metrô paulistano. Um projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa buscava acrescentar à denominação da parada o nome de um pastor evangélico que declarou apoio à ditadura militar. Porém, apesar de o tucano ter barrado a homenagem no metrô, decidiu “transferi-la” para outro espaço público, situado na mesma região, a Fatec (Faculdade de Tecnologia) Ipiranga, na zona sul da capital paulista.

[img align=left width=300]https://thumbor.guiame.com.br/unsafe/840×300/top/smart/media.guiame.com.br/archives/2015/03/02/1584436053-eneas-tognini.jpg[/img]O [url=https://folhagospel.com/modules/news/article.php?storyid=33190]decreto que adiciona o nome “Pastor Enéas Tognini” à instituição de ensino superior[/url] foi publicado no “Diário Oficial do Estado” no sábado (31), na própria edição em que consta o [url=https://folhagospel.com/modules/news/article.php?storyid=33172]veto de Alckmin ao projeto de lei para a estação do Metrô[/url]. Funcionários da Fatec Ipiranga consultados pela reportagem criticaram a medida.

Em sua justificativa para homenagear o pastor na faculdade, Alckmin menciona o deputado estadual André Soares (DEM), autor da proposta para mudar o nome da estação Vila Mariana para “Enéas Tognini-Vila Mariana”. Segundo o governador, sua ação foi tomada “considerando a proposta formulada” pelo parlamentar, ou seja, a “de homenagear o Ilustre Pastor atribuindo seu nome a próprio estadual”.

Com isso, Alckmin buscou conciliar o desejo de um deputado da bancada evangélica e a reação negativa suscitada pelo risco da mudança do nome da parada metroviária.

Um abaixo-assinado virtual direcionado ao governador –que poderia sancionar ou vetar o projeto– chegou a reunir quase 25 mil assinaturas de pessoas contrárias à alteração. No texto, o grupo afirma que a mudança “não agregará nada para a população paulistana”, além de gerar “gastos desnecessários com a mudança de toda comunicação do metrô, que sairá dos cofres públicos”.

De fato, no veto ao projeto para alterar a designação da estação, o tucano argumentou que “eventuais alterações [de nomes de estações] acarretam confusão para os usuários e exigem a substituição de toda a comunicação visual implantada, implicando custos, mostrando-se, nesse aspecto, contrária ao interesse público”. No entanto, logo em seguida, Alckmin sinaliza que “não faltará outra oportunidade para que se concretize o tributo desejado”.

O projeto original de Soares agora segue para o presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB). A Casa ainda pode derrubar o veto de Alckmin e promulgar a mudança à revelia do governador.

[b]Custo elevado
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O portal UOL revelou que propostas de lei para modificar o nome de estações do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) são relativamente comuns na Assembleia Legislativa de São Paulo. Nos últimos anos, paradas como Jardim São Paulo, na linha 1-azul de metrô, e São Caetano do Sul e Ribeirão Pires, ambas na linha 10-turquesa de trem, receberam nomes de políticos ou figuras públicas após projetos apresentados por deputados estaduais.

O problema, segundo o Metrô e a CPTM, é que trocar a designação das estações obriga as duas empresas –que são controladas pelo Estado– a ter que desembolsar dinheiro público para substituir, em todo o sistema, placas, mapas e outros meios de comunicação com os passageiros.

Um estudo recente da CPTM mostra que cada alteração de nome de estação onera a empresa em R$ 710 mil, na média. De acordo com a CPTM, esse custo varia conforme a “característica da estação”, ou seja, se ela é de baldeação entre linhas ou não, bem como se conta com terminal de ônibus acoplado. No caso do Metrô, a situação se agrava em um momento em que a empresa passa por uma de suas piores crises orçamentárias.

[b]Apoio à ditadura
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Na quarta-feira (4), a reportagem conversou com alguns funcionários da Fatec Ipiranga que se mostraram insatisfeitos com a homenagem. “Já ouvi falar desse pastor, mas acredito que os alunos não ficarão felizes com a mudança, pois ele apoiou a ditadura militar”, disse um servidor, que não quis se identificar. Segundo ele, a comunidade acadêmica –estudantes, funcionários e professores– não foi consultada pelo governo do Estado sobre a mudança de nome.

A Fatec Ipiranga, aberta em 2010 pelo Centro Paula Souza (uma autarquia do governo estadual), tem cerca de 1.300 estudantes. A diretoria administrativa da unidade informou que não iria se manifestar sobre a nova designação.

Considerado um líder evangélico conservador, o pastor batista Enéas Tognini, que morreu em 2015, chegou a convocar, no início da década de 1960, um dia de jejum e oração para evitar que o Brasil se tornasse um país comunista. Nos anos de chumbo, Tognini se alinhou aos militares, não se arrependendo posteriormente: “Eles salvaram o Brasil do comunismo”, disse em reportagem publicada pela revista “IstoÉ” em 2011.

Na justificativa de seu projeto de lei, o deputado André Soares, que é filho do também pastor neopentecostal Romildo Ribeiro Soares, conhecido na TV como missionário R. R. Soares, argumenta que Tognini “foi um dos grandes líderes do avivamento espiritual, que originou a Convenção Batista Nacional (CBN)”.

Alckmin, por sua vez, diz que Tognini “exercia grande influência sobre lideranças batistas e de outras igrejas, tendo atuado como presidente da Sociedade Bíblica do Brasil”.

[img align=right width=300]http://imguol.com/c/noticias/00/2017/01/04/fachada-da-fatec-ipiranga-que-teve-o-nome-aprovado-para-ser-modificado-e-homenagear-pastor-1483556029609_615x300.jpg[/img]Ultimamente, ações para substituir as homenagens a apoiadores do regime militar existentes em logradouros e espaços públicos vêm ganhando força em São Paulo. No ano passado, por exemplo, o então prefeito Fernando Haddad (PT) sancionou um projeto da Câmara Municipal para trocar o nome oficial do Minhocão de “Presidente Artur da Costa e Silva” (um dos generais que comandaram o Brasil na ditadura) por “Presidente João Goulart” (que sofreu o golpe que instaurou o regime militar em 1964). A homenagem de Alckmin vai na contramão desse movimento.

Sucessor de Tognini na Igreja Batista do Povo, o pastor-presidente da entidade, Jonas Neves de Souza, disse ao UOL que a igreja não foi procurada pelo governo para a homenagem e que Tognini não apoiava o regime militar.

“Do conhecimento que temos, não é que ele apoiasse a ditadura militar: ele era contra o comunismo. Ele não era a favor de que qualquer sistema político comunista assumisse o país. Até porque, na ocasião em que houve o apoio [ao golpe de 1964], ninguém falava em ditadura. Era uma fase de transição que todo o mundo esperava que fosse rápida. A expectativa era que, quando eles [militares] assumissem, fizessem uma transição rápida e convocassem eleições e se elegesse logo, democraticamente, um governo. O pastor Enéas nunca foi apoiador de golpe. Ele apoiou o grupo que estava se levantando em oposição ao comunismo.”

Souza diz que a igreja se sentiu “honrada” com a homenagem proposta por Alckmin, mas que ninguém da instituição foi atrás do tributo. “Homenagear um pastor é como homenagear padre, professor, advogado, juízes e militares, inclusive. É uma coisa da democracia. Para nós não faz diferença. Políticos não têm acesso ao púlpito da nossa igreja, especialmente em anos eleitorais. Não temos preferência política.”

[b]O que o governo diz
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Procurado, o governo Alckmin informou que a escolha de nomes para edifícios e equipamentos públicos é “uma prerrogativa do governador do Estado, corroborada por acórdão do Tribunal de Justiça publicado em 29 de junho de 2016”. Apesar disso, segundo a nota, “a direção do Centro Paula Souza, que mantém as Fatecs, foi consultada a respeito e deu aval à decisão, uma vez que o pastor Enéas Tognini desenvolveu, ao longo da vida, diversas atividades docentes, tendo sido professor e orientador educacional”.

Segundo o governo do Estado, o pastor Tognini “lecionou sociologia, filosofia e teologia em instituições de ensino médio e superior”. O texto enviado à reportagem também informa que a escolha dos nomes “leva em conta a importância dos homenageados, seja em âmbito regional ou nacional” e que “Tognini foi um importante líder cristão protestante brasileiro no século 20”.

Além disso, informa o Palácio dos Bandeirantes, atualmente há nove Fatecs e Etecs do Estado têm nomes de líderes religiosos. “E haverá uma décima. Nesta quinta-feira [5], o ‘Diário Oficial do Estado’ publicará um decreto que dá o nome de d. Paulo Evaristo Arns à Fatec do Jardim São Luiz, na zona sul”. Arns, que morreu em dezembro, ficou conhecido por ter se tornado um crítico da ditadura militar brasileira.

[b]Fonte: UOL[/b]

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