Margot Kässmann, presidente do Conselho da Igreja Luterana na Alemanha, desencadeia polêmica no país ao defender retirada dos soldados alemães estacionados no Afeganistão.

Desde o início de 2010, a opinião pública na Alemanha vem discutindo se a mais alta representante da Igreja Luterana no país pode realmente se posicionar com frases como essa: “Nada está correndo bem no Afeganistão”. Essas palavras foram pronunciadas por Margot Kässmann, presidente do Conselho da Igreja Luterana no país, em seu discurso de Natal e Ano Novo, no qual ela defendeu a retirada dos soldados alemães do Afeganistão.

“Todas essas estratégias mascaram o fato de que soldados usam armas e que, numa guerra, morrem civis”, afirmou Kässmann na ocasião. Esta não foi a primeira vez que a representante da Igreja Luterana criticou a presença das Forças Armadas alemãs no Afeganistão, embora esse tenha sido seu primeiro pronunciamento desde sua eleição como a mais alta representante desta Igreja no país.

Populismo?

Do lado do governo, surgiram críticas de que as palavras de Kässmann não seriam adequadas e que ela haveria se aproveitado do tema a fim de ter repercussão na política interna do país, criticou o deputado democrata-cristão Philipp Missfelder.

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, declarou que Kässmann teria ignorado em sua prédica que a Alemanha só atua no Afeganistão dentro de normas estabelecidas pelas Nações Unidas. O encarregado de questões militares do Partido Social Democrata, Reinhold Robbe, também criticou a postura de Kässmann.

O ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, por sua vez, não se pronunicou publicamente de início a respeito do assunto, tendo a seguir convidado Kässmann para uma reunião em seu gabinete. “A compreensão mútua é importante. E também é preciso ter uma imagem diferenciada da questão”, afirmou o ministro.

Kässmann reafirmou sua postura em prol de uma retirada dos soldados do Afeganistão em conversa com Guttenberg, num encontro no fim do qual ambos se propuseram a manter um diálogo em relação ao assunto.

“Os dois lados concordam que o apoio da sociedade é essencial para os soldados, aos quais um debate público seria útil. Saudamos o fato de que esse debate, por tanto tempo ignorado, esteja finalmente ocorrendo”, publicaram governo e a Igreja Luterana num comunicado oficial.

Tradição pacifista

Especialmente desde o período nazista, a Igreja Luterana na Alemanha vem defendendo com veemência o pacifismo. Envolver-se na política é para os luteranos uma tarefa cristã, uma postura sempre defendida por Kässmann nos últimos anos.

“Saber que você tem liberdade, que deveria refletir por si mesmo e que tudo é uma questão de formar sua própria opinião: essas são todas posturas absolutamente protestantes”, resumiu ela ao ser questionada sobre o cerne da Igreja Luterana.

Fiel a essas convicções, Kässmann declarou abertamente nos últimos dias sua posição contra a presença de soldados alemães no Afeganistão, apesar de todas as críticas que sofreu.

Fonte: DW World

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