Qualquer lugar é lugar para abrir uma igreja em São Paulo. O andar de cima de uma borracharia ou de um salão de beleza, a garagem de casa ou de uma antiga agência de motoboys.

Para verificar as condições de segurança e a situação legal dos locais de reunião de fiéis na capital, o Estado percorreu dez templos menores, de igrejas criadas nas últimas décadas – além do improviso das instalações, constatou que, dentre as igrejas, sete não têm alvará de funcionamento, outras duas sequer constam da numeração de logradouros da Prefeitura e uma última, instalada duas semanas atrás, continuava registrada como outra congregação.

Os estabelecimentos visitados recebem, principalmente em fins de semana, entre algumas dezenas e até cerca de 300 fiéis, segundo funcionários das igrejas e comerciantes de lojas próximas. “Parece algo inocente, mas as pessoas se arriscam em locais assim. Essa é uma mostra do que pode ser a situação na cidade”, disse o superintendente da seccional paulista do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-SP), Ademir Alves do Amaral. “Não é difícil encontrar esse tipo de exemplo na capital.”

Os tamanhos dos locais visitados variam entre 124 m² e 682 m², segundo registros das subprefeituras. Entre as sete sem alvará, quatro funcionam sem jamais terem solicitado o documento. As outras três tiveram pedidos indeferidos pela Prefeitura e foram intimadas a apresentar a documentação ou multadas. Em todos os locais, há exemplos de descaso com a segurança. Num templo da Avenida Celso Garcia, aberto há duas semanas e que ainda não consta dos registros da Prefeitura, não há saídas de emergência, nem extintores de incêndio no local, um antigo teatro, com capacidade para 300 pessoas. No teto, há rachaduras e um buraco de cerca de um metro de diâmetro.

Na Avenida da Aclimação, uma igreja funciona “há décadas” na mesma casa em que há uma borracharia e um bar. Não há registros de pedido de retirada de alvará para funcionamento do templo. No Cambuci e no Butantã, mais exemplos de descaso – de igreja adaptada que reúne até 70 fiéis em espaço de 50 m² a outra, de 632 m², construída especificamente como templo, mas que também não pediu alvará.

Todas as igrejas visitadas – localizadas em locais centrais, mais acessíveis para fiscalização – realizam cultos ao menos três vezes por semana. O secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, admite o problema, mas diz que a fiscalização nunca arrefeceu. “Há igrejas ilegais como há muitos outros estabelecimentos. É uma grande irresponsabilidade.” Segundo a secretaria, os locais apontados pela reportagem serão vistoriados nesta semana.

Fonte: Estadão

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