“Uma boa notícia, dirão os leitores ingênuos. A Igreja Anglicana, essa versão britânica de um catolicismo instituído no tempo de Henrique VIII como religião oficial do reino, anunciou uma importante decisão: pedir perdão a Charles Darwin”

Assim inicia o segundo post do blog de José Saramago que, de forma contundentemente, critica o anúncio anglicano.

O pedido de perdão a Darwin ocorre no marco de comemoração dos 200 anos de seu nascimento. A reparação refere-se à forma como a igreja tratou o cientista britânico depois da publicação de “A origem das espécies” e, sobretudo, depois de “Descendência do homem”.

“Nada tenho contra os pedidos de perdão”, afirmou o escritor português, que coloca em dúvida a sua utilidade. “Inclusive se Darwin estivesse vivo e disposto a mostrar-se benevolente, dizendo ‘sim, perdôo’, a generosa palavra não poderá apagar um só insulto, uma só calúnia, um só dos desprezos dos muitos que lhe foram proferidos”, afirma o escritor em seu blog “O caderno de Saramago”.

Talvez este arrependimento tardio, analisa com ironia, “estimule o papa Bento XVI, agora envolvido numa manobra diplomática em relação ao laicismo, a pedir perdão a Galileu e a Giordano Bruno, em particular a este, torturado com muita caridade, até chegar à fogueira onde foi queimado”.

O Prêmio Nobel de Literatura 1998 assegura que “este pedido de perdão da igreja anglicana não vai agradar aos criacionistas norte-americanos. Fingirão indiferença, mas é evidente que se trata de uma contrariedade para seus planos, para os republicanos que, como a candidata à vice-presidência (Sarah Palin), hasteiam a bandeira dessa aberração pseudo científica chamada criacionismo”.

Fonte: ALC

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