O presidente Bush, assim como a Igreja Católica e a direita religiosa, considera que os embriões congelados utilizados para a pesquisa sobre células-tronco já representam um início de vida humana.

O Senado americano desafiou abertamente o presidente americano, George W. Bush, ao aprovar nesta terça-feira um projeto de lei para promover a pesquisa com células-tronco embrionárias que o chefe de Estado anunciou que vetará.

O projeto de lei – que visa a dilatar os limites para o financiamento com recursos federais para a pesquisa com células-tronco embrionárias – foi aprovado por 63 votos contra 37.

Horas antes, a Casa Branca havia reafirmado que Bush usaria o veto pela primeira vez em seu mandato, pois considera “imoral” este projeto de lei, que busca flexibilizar os limites para a pesquisa com células-tronco embrionárias, adotados há cinco anos por iniciativa do presidente.

“O presidente acredita firmemente que não é certo que o governo federal, em nome da pesquisa, financie o que muitos consideram um assassinato”, explicou o porta-voz de Bush, Tony Snow.

Bush, assim como a Igreja Católica e a direita religiosa, considera que os embriões congelados – que sobraram de tratamentos de fertilização in vitro – utilizados para a pesquisa sobre células-tronco já representam um início de vida humana.

Os defensores da pesquisa explicam, ao contrário, que querem usar embriões in vitro excedentes que seriam destruídos para avançar na luta contra doenças como o diabetes, o câncer o mal de Alzheimer.

Quase três quartos dos americanos se dizem favoráveis ao desenvolvimento da pesquisa médica sobre células-tronco e o projeto de lei, já aprovado pela Câmara de Representantes há mais de um ano, é apoiado por personalidades da direita americana, como Nancy Reagan, viúva do ex-presidente republicano Ronald Reagan (1981-1989), que faleceu em 2004 após uma longa luta contra o mal de Alzheimer.

Cientistas políticos avaliam que Bush mostra neste debate a posição da direita mais radical para um benefício político incerto.

Para Stephen Hess, da Brookings Institution, o veto presidencial “não o fará ganhar grande coisa entre os conservadores e poderia lhe custar caro entre os moderados”.

De fato, a menos de quatro semanas das eleições legislativas, que se anunciam disputadas, a oposição democrata não hesita em fazer da bioética um tema de campanha.

“Temos na ponta dos dedos terapias muito inovadoras, mas por razões políticas poderiam ficar fora de alcance”, lamentou nesta terça-feira o ex-candidato democrata à Presidência, John Kerry.

Atualmente os cientistas só podem usar recursos federais para trabalhar com colônias de células-tronco cultivadas antes de agosto de 2001, muitas das quais já são inutilizáveis. Com a nova lei, poderiam trabalhar com material mais recente, em um âmbito estritamente regulamentado.

A Câmara de Representantes organizará uma nova votação do projeto nesta semana, mas é difícil que receba a maioria de dois terços necessária para contrabalançar o veto.

O Presidente, por sua vez, promulgaria rapidamente dois textos sobre bioética, debatidos no Senado e na Câmara de representantes na terça-feira.

Um se refere ao desenvolvimento da pesquisa com células-tronco não-embrionárias, consideradas menos promissoras que as embrionárias pela maioria dos cientistas.

O outro visa a “proibir a aceitação ou a pesquisa com tecidos provenientes de fetos especialmente desenvolvidos com fins de pesquisa”.

Fonte: AFP

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