O filósofo brasileiro Leonardo Boff, um dos expoentes da Teologia da Libertação, advertiu nesta quinta-feira em San José que o desenvolvimento do sistema capitalista, que, segundo ele, submeteu os recursos naturais do planeta a uma exploração brutal, poderia levar ao desaparecimento da espécie humana.

“Há 300 anos vivemos num sistema que explora sistematicamente todos os recursos da terra e esta já não agüenta mais”, declarou Boff, que nesta quinta-feira foi o encarregado de dar uma aula magistral para inaugurar o ano letivo de 2007 da Universidade da Costa Rica.

Leonardo Boff, de 68 anos, também ex-sacerdote, foi condenado ao silêncio em 1985 pelo agora Papa Bento XVI que, na época, era Prefeito da Doutrina da Fé. Na aula, ele emocionou centenas de estudantes e professores universitários que se reuniram no auditório da Faculdade de Direito, e a todos os que assistiam à aula pelo telão do lado de fora da faculdade. Boff disse que há alguns anos os cientistas falam do perigo de estarmos caminhando para uma crise climática de dramáticas conseqüências, “mas de repente nos demos conta de que não vamos para a crise, mas já estamos imersos nela”.

Nesse sentido, Boff lembrou que em fevereiro passado um grupo de cientistas convocados pelas Nações Unidas em Paris destacou que a exploração irracional dos recursos naturais e o efeito estufa poderiam provocar mudanças de temperatura de entre 1,8 grau Celsius e 6,4 graus em diversas regiões do planeta nas próximas décadas.

“Uma mudança de temperatura desse nível poderia provocar a devastação de milhões de seres humanos. Fala-se de desertificação de imensas regiões da selva amazônica. Um cientista nos dizia que o sol de que agora gozamos no Brasil seria a pior desgraça para o Brasil”, explicou o pensador, para exemplificar as conseqüências da mudança climática.

Boff também fez alusão à corrida armamentista e ao perigo de destruição do planeta pelo eventual uso de armas nucleares, e acrescentou que o último líder da extinta União Soviética, Mikhail Gorbachov lhe disse recentemente que hoje há mais armas de destruição em massa no mundo do que durante a Guerra Fria.

“A venda de armas de guerra é o maior mercado da terra, junto com a droga”, destacou. No entanto, Boff afirmou que o ser humano ainda tem a possibilidade de mudar o rumo do planeta, “voltando a suas origens, à espiritualidade, que não é a mesma coisa que a religião, porque a espiritualidade está baseada na cooperação e na solidariedade”.

Boff afirmou que o primeiro passo é colocar “um freio político” ao desenvolvimento baseado na depredação. Depois, é preciso colocar um fim à indústria armamentista e dar um passo em direção à “verdadeira unidade da família humana” para combater a pobreza e a desigualdade.

O teólogo brasileiro enfatizou que, atualmente, 1,6 bilhão de seres humanos resolveram suas necessidades básicas, mas outros cinco bilhões continuam submersos na miséria e na desesperança.

Fonte: AFP

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