Quem cursa teologia não quer fazer parte de um mercado de trabalho competitivo, mas, antes de tudo, satisfazer uma necessidade pessoal. A teologia tem hoje 107 graduações reconhecidas pelo MEC no país, a maioria de orientação cristã. Alunos podem se tornar padres, pastores, professores de religião ou líderes comunitários. Em São Paulo existe até graduação própria de umbandistas.

Edinaldo Julio, 41, é um estudante de teologia típico. Do sexo masculino, com mais de 25 anos e com outra graduação no currículo, ele diz ter escolhido o curso por vocação.

Quem cursa teologia não quer fazer parte de um mercado de trabalho competitivo nem fazer fortuna. Pretende, antes de tudo, satisfazer uma necessidade pessoal.

Com Edinaldo foi assim. Percebeu que direito não era o que queria no terceiro ano da faculdade. Não falou nada para ninguém e, ao completar o curso, avisou em casa: estava decidido a fazer teologia.
A mulher, de início, protestou. Preferia que o marido continuasse em Barra Mansa (interior do Estado do Rio) e ali advogasse. Mas não teve jeito.

“Os pais dela só acreditaram quando o caminhão da mudança encostou”, conta.

Edinaldo, a mulher e a filha do casal, com dez anos, se mudaram no início do ano para São Paulo para que ele estudasse teologia na Metodista.

Hoje ele já está indo para o segundo semestre e, assim como boa parte da sua turma, quer ser pastor.

No catolicismo e nas chamadas denominações históricas, como a presbiteriana, a batista e a metodista, o curso de teologia é pré-requisito para a ordenação como padre ou pastor.

O reverendo Wilson Silva, coordenador do curso de teologia do Mackenzie, confirma que parte dos alunos quer se dedicar ao pastorado, mas aponta outras opções de carreira. “O teólogo pode também dar aula em universidades, trabalhar em capelanias de hospitais e das Forças Armadas, ser líder em sua comunidade e, o que está crescendo nos últimos anos, trabalhar em ONGs.”

É a primeira opção apontada pelo reverendo a que interessa Sunamita Castro, 30, aluna do quinto período do curso no Mackenzie. “Minha intenção é ingressar no mundo acadêmico, não propriamente na área teológica, mas sim nas correlatas a ela”, diz Sunamita, que cita psicologia, antropologia e filosofia como áreas do conhecimento em que tem interesse.

O curso

Regulamentada como curso superior desde 1999, a teologia tem hoje 107 graduações reconhecidas pelo MEC no país, a maioria de orientação cristã.

A resolução que reconheceu o curso deixou a composição curricular a cargo de cada instituição. Exigiu, no entanto, que houvesse a carga horária mínima de 2.400 horas, que houvesse infraestrutura e corpo docente suficientemente qualificados e, por fim, que a forma de acesso fosse um vestibular.

Como a grade curricular é livre, as instituições estão ligadas a igrejas e, por isso, não dão uma formação genérica sobre religião. Assim, um curso pode ter uma orientação católica, como acontece na PUC, ou protestante, como ocorre no Mackenzie e na Metodista.

Ao contrário de grande parte das carreiras, diz Rui Josgrilberg, diretor da faculdade de teologia da Metodista, “os teólogos não têm uma profissão regulamentada”. Dessa forma, não estão reunidos em um sindicato, não há definição de piso salarial nem mínimo de horas trabalhadas por semana.

“É difícil saber quantas horas por dia alguém é pastor”, afirma Josgrilberg.

Umbandistas têm graduação própria em SP

Uma das poucas exceções, no Brasil, aos cursos de teologia cristã se localiza em um prédio amarelo, de dois andares e de fachada simples, na zona sul da cidade de São Paulo. É a FTU (Faculdade de Teologia Umbandista).

Reconhecido como graduação em 2004 pelo MEC, o curso teve a primeira turma de teólogos umbandistas formados no ano passado.

São quatro anos, com disciplinas como administração templária, botânica e medicina umbandista aliadas às tradicionais sociologia, retórica e língua portuguesa.

Roger Soares, que é neurologista, além de sacerdote de umbanda e diretor acadêmico da FTU, diz que o curso tem três diferenciais.

O primeiro é que os alunos estudam todas as religiões brasileiras, com foco na umbanda. Depois, o currículo prevê disciplinas sobre as principais religiões do mundo, como as asiáticas e as africanas. Por último, há um intenso diálogo com a ciência e filosofia atuais.

Fonte: Folha de São Paulo

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