O nono aniversário dos atentados terroristas dos Estados Unidos colocou à prova a tolerância religiosa no país, em um momento em que a crescente comunidade muçulmana vê sinais de rejeição em todas as partes.
A ameaça de um pastor de queimar o Corão e a polêmica pela construção de uma mesquita dentro de um centro cultural islâmico a duas quadras do Marco Zero em Nova York, refletem as expulsões e os ataques que viveram, por exemplo, os católicos no século XIX nos EUA.
O próprio presidente dos EUA, Barack Obama, defende que os muçulmanos têm direito a praticar sua fé e a construir uma mesquita onde quiserem.
Obama destacou que o pastor Terry Jones, de Gainesville (Flórida), não representa os valores dos EUA e colocou em perigo a segurança dos soldados americanos no exterior, sem cumprir sua ameaça de queimar o livro sagrado dos muçulmanos.
Jones, cuja igreja não chega a 50 fiéis, é autor do livro “Islã é do Diabo”.
“Não nos voltemos uns contra os outros. Somos uma nação perante Deus, podemos chamar por diferentes nomes mas seguimos sendo uma nação”, disse Obama na sexta-feira durante uma entrevista coletiva convocada para falar, principalmente, de assuntos econômicos.
No entanto, segundo Richard Cohen, presidente do Southern Poverty Law Center (SPLC), que estuda assuntos de justiça social e das minorias nos EUA, o diálogo e a tolerância, pedidos por Obama e por vários grupos cívicos e religiosos, se perdem entre as “denúncias incendiárias contra o islã”.
Se no século XIX os protestantes viam um inimigo em cada imigrante católico e achavam que nada de bom podia vir deles, agora são os seguidores de Maomé o alvo de grupos conservadores nos Estados Unidos.
São apenas 2,5 milhões dos pouco mais de 300 milhões de habitantes dos EUA e representam 0,6% da população adulta, mas por causa dos atentados de 11 de setembro de 2001 os muçulmanos veem ameaçada sua fé por culpa dos militantes da Al Qaeda que planejaram os ataques.
Agora, em pleno século XXI, o país que se fundou sobre o princípio da liberdade, é palco de incidentes de violência, segundo o SPLC, que documenta os delitos motivados pelo ódio.
Em Nova York, um taxista foi apunhalado depois que um passageiro perguntou se ele era muçulmano. Em outra ocasião, um homem urinou em vários tapetes de oração em uma mesquita enquanto gritava ofensas contra os muçulmanos.
Em Jacksonville (Flórida), uma bomba caseira explodiu em um centro islâmico onde estavam 60 pessoas, enquanto no Tenessee, um desconhecido ateou fogo em funcionários de uma obra no local onde seria erguida uma mesquita.
À sombra do debate nacional sobre a construção de uma mesquita perto do Marco Zero, grupos como o direitista “Greve à Islamização dos EUA” convocaram um protesto para hoje em Nova York contra o projeto chamado “Park51”.
Pam Geller, co-fundadora do grupo, recorreu aos principais meios de comunicação para advertir que os muçulmanos estão crescendo em número e influência, até o ponto que “tentarão a tomada do poder político, e se isso não funcionar, lançarão mão de intimidação, assassinatos e terrorismo, como já demonstraram em dezenas de países no mundo todo”.
Para Pam, é grave o possível impacto da “satanização” da religião muçulmana nas milhares de crianças criadas nessa fé, muitas delas nascidas nos EUA.
Dalia Mogahed, do Centro Gallup para Estudos Muçulmanos, diz que quem expressa e propaga o ódio contra os muçulmanos nos EUA “ironicamente reflete um princípio básico dos radicais islâmicos” que sugere, erroneamente, que neste país não há lugar para o islã.
O islã floresceu nos EUA com a chegada dos escravos africanos e, no nono aniversário dos atentados terroristas, deve-se lembrar que dezenas das três mil vítimas eram muçulmanas.
[b]Fonte: EFE
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