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Depois da estreia da série 13 Reasons Why, produto da Netflix que trata de bullying e suicídio em uma escola americana, subiu 445% o número de e-mails com pedidos de ajuda recebidos pelo [url=http://www.cvv.org.br/index.php]Centro de Valorização da Vida (CVV)[/url]. Houve alta ainda de 170% na média diária de visitantes únicos no site.

Em 13 episódios, o programa retrata a dor de Hannah Baker, adolescente que sofre bullying e grava em fitas os motivos pelos quais teria dado fim à vida.

Segundo o centro, a maioria das pessoas que está buscando atendimento nos canais do CVV nos últimos dias é jovem e se identifica com a dor da personagem principal. A organização alerta que pais e familiares devem ter um olhar atento para mudanças de comportamento de adolescentes e não hesitar em pedir ajuda profissional. Especialistas ouvidos pelo Estado apontam que adolescentes devem ter acompanhamento de adultos ao assistir a série.

No site da entidade, que dá apoio psicológico 24 horas por e-mail, chat, skype e telefone, a média diária de 2,5 mil visitantes únicos saltou para 6.770 em abril – a série foi lançada em 31 de março. Depois que a série foi alvo de críticas nas redes sociais, houve pico: 9.269 pessoas visitaram o site.

Em relação aos e-mails, entre 1.º e 10 de abril, o CVV registrou 1.840 mensagens, ante 635 no mesmo período de março. De uma média de 55 e-mails diários que chegam ao CVV, nos primeiros dez dias de abril esse número cresceu para mais de 300. Na semana passada, ao menos cem pessoas mencionaram a série.

Presidente do CVV e voluntário há 23 anos, Robert Paris afirma que os jovens têm buscado ajuda da entidade e citam a série por se sentirem tocados pelo conteúdo. “[ELES DIZEM]Então, na conversa que temos com essa pessoa, podemos trafegar livremente pelo personagem e por ela. Às vezes, dessa maneira, a pessoa fica mais à vontade para desabafar”, explica.

Paris orienta que os pais devem observar mudanças e comportamento e sempre ter um diálogo aberto. “Pergunte: ?O que está se passando com você? Posso ajudá-lo? Vamos conversar??. Às vezes, essas perguntas são mágicas.”

Em casos de mudança radical no comportamento do jovem, a ajuda profissional é indicada. O CVV, aponta o presidente, serve de “canal para alívio das dores psíquicas dos que precisam conversar”, mas não promove terapia. “Não pode ter aquele tabu de que ajuda profissional é ?coisa para louco?, aquelas coisas que se dizem popularmente. Esta é a maior barreira à causa de prevenção do suicídio. O assunto tem de ser tratado com naturalidade. Falar é terapêutico.”

[b]Acompanhamento [/b]

A grande repercussão de 13 Reasons Why tem levado psicólogos e pedagogos a se posicionarem sobre a série, que vem sendo assistida por estudantes e também pacientes.

A psicóloga e pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Luciana Zobel Lapa, que é orientadora educacional da Escola Stance Dual, diz que a série não é adequada para adolescentes que ainda não entraram no ensino médio. Ela também recomenda que os episódios sejam assistidos com acompanhamento dos pais. “Ou, pelo menos, assista primeiro e avalie a pertinência de os filhos assistirem”.

A gerente de Comunicação da Netflix, Amanda Vidigal, disse ao Estado que a empresa teve “total cuidado” ao produzir a série, por tratar de “temas sensíveis”, e destacou que toda a produção contou com apoio de uma consultoria de profissionais da saúde. “Também foi criado um after show de 30 minutos, exibido após a série, com produtores, atores e esses consultores que falam da importância do tema. Além disso, criamos um site que dá o contato dos grupos de suporte.” Nos três episódios com cenas mais pesadas – 9, 12 e 13 – há alertas para o espectador.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), quando o assunto é veiculado ao público de modo adequado, pode ocorrer o efeito de prevenção de mortes e discussão saudável. Por outro lado, quando feito de modo descuidado –como muitos avaliam ser o caso–, o resultado pode ser exatamente o oposto.

A preocupação dos especialistas é que o seriado possa causar um efeito de imitação no mundo real, conhecido como “efeito Werther”. Após a publicação do livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther” em 1774, houve diversas mortes relacionadas à obra.

Para Neury Botega, professor da Unicamp e fundador da Abeps (Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio), um dos problemas da série é a ideia de apontar os culpados. “O suicídio é um fenômeno complexo o bastante para não suportar uma explicação simplista, uma causa e efeito”, afirma.

Segundo recomendações da OMS para a veiculação de conteúdos relacionados ao suicídio, não se deve tentar atribuir culpas.

Outra questão problemática levantada por especialistas ouvidos pela Folha e também por participantes de grupos de discussão sobre a série é a romantização do suicídio. A história da adolescente contada no pós-morte já traz esse elemento, de acordo com Luís Tófoli, professor de psiquiatria da Unicamp.

Mas a cena mais perigosa da série, segundo os médicos, é a que mostra o suicídio.

“É sensacionalismo deletério, prejudicial para os jovens”, diz Alexandrina Meleiro, coordenadora da comissão de estudo e prevenção de suicídio da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

Segundo a OMS, não se deve mostrar métodos ou imagens de suicídio. A preocupação é com adolescentes vulneráveis, que podem estar enfrentando problemas ou doenças mentais como a depressão. “A série pode, sim, mobilizar uma pessoa que está muito vulnerável para um ato autoagressivo”, diz Botega.

Botega afirma que, ao fim de cada episódio, seria adequado a série destinar alguns poucos minutos para uma fala mais real sobre o assunto, sobre modos de buscar ajuda e pessoas que superaram os problemas presentes.

Segundo Amanda Vidigal, gerente de comunicação da Netflix no Brasil, a série é uma adaptação do livro, no qual essa cena é descrita detalhadamente. “A abordagem foi discutida entre a equipe e consultores na área de saúde. Houve todo um cuidado de tratar um tema sensível com seriedade e autenticidade. São cenas fortes, gráficas, mas é preciso mostrar o quanto aquilo é doloroso às pessoas.”

Os especialistas afirmam que, mesmo errando bastante a mão em alguns pontos, a série pode incentivar a conversa e a observação do entorno para sinais de alerta.

Segundo Botega, pode ser interessante que pais e filhos assistam juntos ao seriado.

“Essa série coloca o problema na sala de visita das famílias”, diz Botega.

O [url=http://www.cvv.org.br/index.php]CVV — Centro de Valorização da Vida[/url], fundado em São Paulo em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal em 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo.

[b]Fonte: Jornal Floripa, Estadão e Folha de São Paulo[/b]

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