Dos 66 congressistas ligados a igrejas evangélicas tradicionais ou neopentecostais, 25 -mais de um terço da bancada- estão envolvidos nas irregularidades, tiveram a cassação de seus mandatos sugerida e responderão a processo por suposto envolvimento na fraude das ambulâncias. O Conselho de Pastores Evangélicos pediu perdão por ‘sanguessugas’.

Entre os 25 envolvidos, que receberam juntos R$ 5,3 mi, Lino Rossi (PP-MT) teria sido o primeiro parlamentar a contatar a máfia, diz Vedoin

Integrantes da bancada evangélica do Congresso receberam 58% do total da propina repassada a parlamentares pela máfia das ambulâncias, aponta o relatório da CPI dos Sanguessugas aprovado anteontem.

Dos 66 congressistas ligados a igrejas evangélicas tradicionais ou neopentecostais, 25 -mais de um terço da bancada- estão envolvidos nas irregularidades e tiveram a cassação de seus mandatos sugerida.

Juntos, receberam ao menos R$ 5,3 milhões dos cerca de R$ 9 milhões que a família Vedoin afirma ter pago como “comissão” pelo direcionamento de emendas. Dos 23 congressistas, 10 são ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, e nove, à Assembléia de Deus.

Nos depoimentos à Justiça Federal e à CPI, Darci e Luiz Vedoin, os donos da Planam, mostram que a bancada dos evangélicos esteve na origem da máfia. Eleito com o apoio da bancada Batista, Lino Rossi (PP-MT) teria sido, segundo eles, o primeiro parlamentar a fazer contato com a Planam.

“Na origem do caso, há dois deputados da base evangélica. É natural que eles chamassem para o esquema aqueles colegas com quem tinham mais contato”, disse Walter Pinheiro (PT-BA), da Igreja Batista. Além de Rossi, Pinheiro se refere a Carlos Rodrigues (sem partido-RJ), que era da Universal.

O petista diz que não há envolvimento da bancada na fraude, mas de pessoas que usaram as igrejas para montar um esquema eleitoral. Foi Lino Rossi quem teria apresentado os Vedoin a boa parte dos que mais tarde viriam a integrar a máfia.

Dos evangélicos, Rossi foi quem mais teria lucrado com a fraude -R$ 3,1 milhões. Segundo a família Vedoin, Carlos Rodrigues também teve participação decisiva na arquitetura da máfia coordenando o grupo de evangélicos e supervisionando o direcionamento de emendas.

Segundo a CPI, depois de Rossi, o evangélico que levou a maior propina foi Nilton Capixaba (PTB-RO). Segundo-secretário da Câmara e ligado à Assembléia de Deus, ele teria recebido ao menos R$ 646 mil.

Também acusado pela CPI, Adelor Vieira (PMDB-SC), hoje coordenador da bancada, diz ver uma perseguição em torno dos evangélicos. Questionado sobre o motivo de tantos deputados da bancada estarem envolvidos, disse que “não tem nenhum juízo a esse respeito”. Segundo a CPI, Vieira teria recebido pelo menos R$ 40 mil.

Além dos 72 congressistas contra os quais foi pedida a cassação, a CPI apura a atuação de 27 ex-deputados e um ex-senador. Seus nomes foram repassados à Folha de São Paulo pela CPI e devem constar do relatório final. Eles não tiveram seus casos citados anteontem porque não estão no exercício do mandato.

Um exemplo é de Gessivaldo Isaías, que, disse Vedoin, teria recebido R$ 20 mil. Luís Eduardo de Oliveira, o Luisinho, também teria recebido R$ 20 mil, em 2002, disse Vedoin.

Deputados alegam falta de provas

Deputados da bancada evangélica citados no relatório da CPI dos Sanguessugas garantem que vão provar a inocência no Conselho de Ética.

Segundo Carlos Nader (PL-RJ), não há prova de seu envolvimento no caso e nenhuma de suas emendas foi executada pela Planam. “A CPI só levou em conta a acusação leviana de um bandido confesso, cheio de contradições.”

Lino Rossi (PP-MT) disse que vai se defender no Conselho e nega envolvimento. “Não nego que sou amigo do Darci [Vedoin, dono da Planam], que ele me ajudou nas campanhas e a comprar aquele carro. Tenho dívidas com ele. Não peço atestado de antecedentes criminais para as pessoas.”

O senador Magno Malta (PL-ES) disse que nunca pediu emenda para ambulância. “O senhor Vedoin e o filho disseram que acertaram com o deputado Lino Rossi de dar um carro para mim, como se minha honra valesse uma Van”.

Cabo Júlio (PMDB-MG) disse ter recebido a notícia com alívio. “Agora posso apresentar defesa ao Conselho de Ética, já que saberei as denúncias contra mim”, disse.

Relação dos deputados Evangélicos que serão levados ao Conselho de Ética:

Da Igreja Universal do Reino de Deus:

Almeida de Jesus (PL-CE)
Edna Macedo (PTB-SP) – desistiu da reeleição
Heleno Silva (PL-SE) – desistiu da reeleição
João Batista (PFL0SP)
João Mendes de Jesus (PSL-RJ) – deve desistir da reeleição
Jorge Pinheiro (PL-DF) – desistiu da reeleição
José Divino (PMDB-RJ)
Marcos Abramo (PFL-SP)
Marcos de Jesus (PL-PE) – deve desistir da reeleição
Paulo José Gouveia (PL-RS)
Reginaldo Germano (PFL-BA)
Vieira Reis (PRB-RJ)
Wanderval Santos (PL-SP) – deve desistir da reeleição

Da Igreja Assembléia de Deus:

Aguinaldo Muniz (PPS-RO)
Adelor Vieira (PMDB-SC)
Cabo Júlio (PMDB-MG)
Carlos Nader (PL-RJ)
Isaias Silvestre (PSB-MG)
Nilton Capixaba (PTB-RO)
Neuton Lima (PTB-SP) – deve desistir da reeleição
Pastor Amarildo (PSC-TO)
Raimundo Santos (PL-PA).

Da Igreja Internacional da Graça:

Almir Moura (PFL-RJ)

Da Igreja do Evangelho Quadrangular:

Josué Bengtson (PTB-PA) – deve desistir da reeleição

Da Igreja Batista:

Lino Rossi (PP-MT).

Além dos deputados acima, foi acusado, também, o senador evangélico Magno Malta (PL-ES)

A CPI dos Sanguessugas não encontrou provas contra 18 dos 90 parlamentares que foram investigados por suposta participação com a máfia das ambulâncias. Os processos abertos contra esses parlamentares serão arquivados “por falta de provas”, conforme o relatório da comissão divulgado nesta quinta-feira. Dentre os inocentados estão os evangélicos:

Gilberto Nascimento (PMDB-SP)

Jefferson Campos (PTB-SP)

Zelinda Novaes (PFL-BA)

Conselho de Pastores Evangélicos pede perdão por ‘sanguessugas’

O Conselho de Pastores Evangélicos de Bauru divulgou na sexta-feira manifesto condenando a participação de deputados evangélicos na “máfia das sanguessugas”.

Quase 30 parlamentares evangélicos foram denunciados pela CPI que apurou fraudes na compra de ambulâncias para municípios. Eles recebiam propina para encaminhar emendas ao Orçamento.

Ao todo, 69 deputados e três senadores responderão processo no Conselho de Ética e podem ter os seus mandatos cassados.

No manifesto, o Conselho de Pastores pede perdão ao povo. “O povo, principalmente o mais carente, sofre as conseqüências de tal desvairio. Nos envergonhamos e nos humilhamos pela participação dos evangélicos nesse esquema corrupto”, diz a carta.

O Conselho pede ainda que a população, e os fiéis em especial, busquem se informar dos nomes, partidos políticos, origem e fotos dos implicados no escândalo. “As eleições estão aí. É uma ótima oportunidade para mostrar nosso repúdio através do voto democrático. Gravem quem são e não votem neles.”

‘Nos sentimos atingidos’

O presidente do Conselho de Pastores, Edson Valentim, se diz indignado pelo fato de deputados da bancada evangélica terem participado da máfia das sanguessugas. “Nos sentimos atingidos e indignados, como parte desse mesmo povo, que se sentiu roubado, abusado e vilipendiado”, afirma, em nota conjunta.

Apesar de não ter nenhum deputado da região de Bauru na lista das “sanguessugadas”, o Conselho de Pastores não exime sua culpa em mais esse escândalo de corrupção na política.

“Nos identificamos e assumimos a responsabilidade pelo o que está acontecendo. Se foi o povo evangélico que os escolheu, então fomos nós que o fizemos. Se no Parlamento eles entraram para representar os evangélicos, então eles nos representavam”, fala.

A máfia das sanguessugas desviou dos cofres públicos mais de R$ 100 milhões.

Cartilha ensina a votar

Junto com o manifesto de repúdio aos deputados envolvidos no escândalo das sanguessugas, o Conselho de Pastores lançou também uma cartilha com “orientação para o voto ético e lúcido”.

“Se a gente escolhe o candidato pelo caráter, pelo o que ele já produziu, quanto ele já se envolveu em causas a favor do povo, a chance de errarmos diminui bastante”, explica Edson Valentim.

A cartilha tem 14 tópicos com dicas para o eleitor escolher seu candidato.

Ela pede atenção com as promessas de palanque e programas políticos e repudia a obrigatoriedade do voto em candidatos que contam com apoio de igrejas.

“Ao contrário. O fiel tem que escolher uma pessoa que tenha caráter e projeto para a população. Não há problema ou proibição em votar em alguém que não é evangélico”, diz Edson Valentim.

Fonte: Folha de São Paulo, Bom Dia Bauru, TV Cidade.com e Globo Online

Comentários