Edir Macedo, líder e fundador da Igreja Universal
Edir Macedo, líder e fundador da Igreja Universal

Há 40 anos, no dia 9 de julho de 1977, em um sábado, um pastor de 32 anos liderava o primeiro culto da Igreja Universal do Reino de Deus. O nome do pastor, Edir Macedo, o local era um galpão de uma antiga funerária no subúrbio do Rio, preenchido por bancos de madeira “comprados em prestações a perder de vista”, segundo Macedo em sua autobiografia “Nada a Perder”.

A perder de vista, nas décadas seguintes, era o empenho da Universal em erguer seu império num país onde a expansão evangélica veio a galope. Naquele 1977, nove em dez brasileiros se diziam católicos, e cerca de 6%, evangélicos. Corta para 2017: o primeiro grupo despencou para 50%, enquanto o segmento de Macedo quintuplicou para 30%, segundo pesquisa Datafolha.

A Universal percorreu um longo caminho do suado começo na periferia à chegada ao metro quadrado mais caro do país, com a abertura em abril de uma sede no Leblon –”lugar onde sempre sonhamos entrar e nunca conseguimos, mas para o nosso Deus nada é impossível!!!”, como definiu um convite virtual para a inauguração.

O Reino de Deus hoje, em estimativas da igreja: 320 bispos e 14 mil pastores em ação (para comparar, há 24 mil padres assessorando 103 milhões de católicos). Essa trupe conduz 7.157 templos para 7 milhões de seguidores no Brasil. Outros 2.857 estão à disposição de dois milhões de fiéis em mais de cem nações, da Rússia aos Emirados Árabes.

O que também multiplicou foi a vontade interna de “desconstruir a imagem caricata do cristão associada à pessoa fanática, imersa em dogmas e preconceitos”, diz o professor de sociologia da USP Ricardo Mariano. “A Universal tem se reinventado como organização cristã focada na autoajuda e no empreendedorismo.”

Vide o lançamento, em 2013, da campanha “Eu Sou a Universal”, que “representa o cristão batalhador e confiante, uma ‘pessoa independente’ e com ‘opinião própria'”, afirma Mariano sobre a peça publicitária que traz do sushi chef Matsumoto ao surfista Piruca.

Para Mariano, “a campanha procurou dissociar a imagem da igreja à dos estratos de baixa renda e escolaridade, por meio de fiéis com perfis de classe média bem-sucedidos profissionalmente, ocupando variadas posições na sociedade”.

A autoajuda transborda em projetos como Godllywood. Sob guarda de Cris Cardoso, filha de Macedo, o grupo de mulheres evangélicas se insurge contra “os valores errados que a nossa sociedade tem adquirido através de Hollywood”.

“Historicamente, as igrejas evangélicas atingiram mais significativamente as classes D e E. Com a ascensão social dos últimos anos, boa parte do público da Universal é a classe C”, diz o pesquisador da Unicamp Carlos Gutierrez, autor de uma tese sobre a igreja.

“Muitos atribuem a transformação em suas vidas à fé evangélica. Diversas igrejas têm adotado linguagem não necessariamente religiosa, mas sim pautada em saberes como motivação empresarial, manuais de administração etc. Assim, cultos tornam-se ‘palestras’ e ‘terapias'”, afirma.

Em “Deus, o Demônio e o Homem: A Igreja Universal do Reino de Deus”, coescrito com o teólogo sueco Anders Ruuth, o antropólogo Donizete Rodrigues vale-se do conceito de “igreja de supermercado”, extraído da sociologia do francês Pierre Bourdieu. “A religião é bem de consumo num altamente competitivo mercado simbólico-religioso, daí o eficiente marketing da Universal”, afirma Rodrigues.

O poder da igreja tem dois poderosos troncos. Um deles é o midiático, com a compra da Record em 1989. Macedo lembrou da transação em seu blog: “O representante de Silvio [Santos, então sócio da emissora] disse o valor. Respondi na fé: ‘Não tem problema. Negócio fechado!'”.

“Mais recentemente, as novelas bíblicas da Record têm criado um espaço que visam se opor à dramaturgia de outros canais”, diz a professora da UFPR Karina Belloti, que estuda evangélicos e mídia. Campeã de audiência, “Dez Mandamentos” virou filme homônimo, que ultrapassou “Tropa de Elite 2” como maior bilheteria do cinema nacional.

Outro braço é o político, com o PRB. A Universal nega vínculo com o partido, que contudo tem vários bispos licenciados em seu alto escalão e emplacou na Prefeitura do Rio um deles, Marcelo Crivella, sobrinho de Macedo e ex-ministro de Dilma Rousseff.

Em “Plano de Poder” (2008), Macedo diz que “a potencialidade numérica dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo”. No livro, o bispo defende que apenas um presidente evangélico poderia criar um Estado laico, “sem privilégios à Igreja Católica”, destaca o pesquisador Carlos Gutierrez.

Para a igreja, a expansão assusta e faz dela alvo de uma campanha difamatória amplificada pelas redes sociais. A Universal chegou a criar um blog para desbaratar “fraudes sórdidas”. Algumas: pastores ungem vassouras para vender, uma campanha ataca a crença dos católicos na hóstia, o “pão do mal”, e a prefeitura de Crivella financia a cinebiografia do tio Macedo.

[b]O segredo do sucesso
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Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, neste domingo, 9 de julho, o fundador da Igreja Universal diz que naquele 9 de julho de 1977, de dentro de uma antiga funerária no subúrbio do Rio de Janeiro, quando pregava para algumas poucas pessoas que ali compareciam, ninguém poderia imaginar que estavam iniciando um dos maiores movimentos de fé e de solidariedade que, rapidamente, ganharia o Brasil e se espalharia pelo mundo.

Segundo Edir Macedo, a Universal enfrentou preconceitos e injustiças, lutou contra tentativas de cerceamento praticadas por quem não aceita que é o homem que escolhe a fé que atende a suas aspirações, não a fé ou igreja que escolhem o homem. Diz ainda que a igreja estimula seus 9 milhões de fiéis para que busquem o sucesso profissional e o conforto material que merecem.

Confira abaixo, a íntegra do artigo de Edir Macedo:

O segredo da Universal
Qual é o segredo do sucesso da Igreja Universal do Reino de Deus? Essa é uma das perguntas que mais ouvi nos últimos 40 anos.

Em 9 de julho de 1977, de dentro de uma antiga funerária no subúrbio do Rio de Janeiro, quando pregava para algumas poucas pessoas que ali compareciam, ninguém poderia imaginar que estávamos iniciando um dos maiores movimentos de fé e de solidariedade que, rapidamente, ganharia o Brasil e se espalharia pelo mundo.

Enfrentamos preconceitos e injustiças. Lutamos contra tentativas de cerceamento praticadas por quem não aceita que é o homem que escolhe a fé que atende a suas aspirações, não a fé ou igreja que escolhem o homem.
Por outro lado, parte dos nossos agressores talvez não conheça o verdadeiro trabalho da Universal e o resultado dele na vida das pessoas.

Por exemplo, no estímulo aos nossos 9 milhões de fiéis para que busquem o sucesso profissional e o conforto material que merecem.

Nossos 7.157 templos e catedrais instalados em todos os Estados e no Distrito Federal e nossas 2.857 igrejas no exterior são campo fértil para encontrar gente que se reencontrou com a vida e hoje prospera.
Na união de homens e mulheres solitários, ajudamos na busca do verdadeiro amor que estabelece casais e forma famílias, por intermédio da Terapia do Amor.

Resgatamos dependentes do inferno do vício. Somente em 2016, foram mais de 55 mil auxiliados por nosso programa Vício Tem Cura.

Acolhemos moradores de rua, em um total de 560 mil atendimentos por ano, em nossos “Anjos da Madrugada”. Ressocializamos detentos em todo o Brasil. Entre os presos e seus familiares, fazemos mais de 837 mil atendimentos por ano pelo programa social Universal nos Presídios.

Amparamos 56 mil mulheres vítimas da violência doméstica com nosso programa Raabe.

Mobilizamos milhões de jovens carentes ou sem perspectiva na busca de um futuro como cidadãos de bem com a Força Jovem Universal.

Ofertamos afeto e atenção a 386 mil idosos abandonados por suas famílias com o programa Calebe.

A força para realizar tanto vem de uma só fonte: da Palavra.

Os professores, verdadeiros esteios de nossa sociedade, sabem o quanto suas palavras e ações podem afetar seus alunos.

Assim formam médicos, que exercem a arte da cura; forjam engenheiros nas mais variadas vertentes; arquitetos que projetam casas, pontes e cidades.

As palavras dos professores também concebem políticos e governantes que criam, fiscalizam e executam leis para beneficiar a população.

Mas se a palavra de um professor forma aqueles que desenvolverão nações e feitos incríveis, o que dizer da Palavra de Deus, do que Ela pode fazer na vida daqueles que A praticam?

Essa Palavra nunca volta vazia. Ela se cumpre, exatamente como está escrito, independentemente da passagem do tempo. Ela é eficaz.

Pois bem: é por causa d’Ela que a Universal trabalha. E é por isso que tem superado todo tipo de adversidade e chegou até aqui com relativo sucesso.

Sucesso por ter atravessado fronteiras, superando barreiras de diferentes línguas, costumes, culturas, religiões, sociedades ultraconservadoras e muito mais.

O êxito, no entanto, é relativo. Ainda há muito o que se fazer para divulgar essa Palavra mundo afora. E esse é o nosso principal foco.

Essa Palavra é o poder das Sagradas Escrituras fluindo como o vento do Espírito na transformação de vidas recuperadas em todos os sentidos. A Palavra de Deus é a razão para termos chegado até aqui. E é por causa dela que temos a certeza de que vamos atingir muito mais.

Aos 40 anos de existência, nós, da Universal, dedicamos tudo isso a Deus e à Sua Palavra.

Estamos firmes na certeza, absoluta, de que o Céu e a Terra passarão, mas as Palavras do Altíssimo não hão de passar (Mateus 24:35).

BISPO EDIR MACEDO BEZERRA é líder espiritual e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus

Fonte: Folha de São Paulo

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