Os candidatos à Presidência estão de olho no voto dos evangélicos. Não por acaso. Juntos, eles representam cerca de 25% do eleitorado brasileiro, que é de 135 milhões de pessoas. Ou seja, uma massa de 33 milhões de eleitores.
Na corrida por essa saborosa fatia do eleitorado, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) estão na frente. Eles brigam ferozmente pelo apoio das gigantes Assembleia de Deus e Igreja Universal. Ironicamente, a candidata do PV, Marina Silva, única evangélica da disputa, é quem tem mais dificuldades para costurar apoios com uma das frentes religiosas.
O maior imbróglio está na Assembleia de Deus. A igreja é dividida em duas partes – a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (Ministério de Madureira) e a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). No total, a instituição conta com 16 milhões de seguidores, sendo que dez deles estão na corrente majoritária, a CGABD, liderada pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa. Neste campo, é o tucano José Serra quem tem vantagem, já que é amigo do pastor e contou com seu apoio no segundo turno das eleições de 2002.
De acordo com o presidente do Conselho de Comunicação da CGADB, pastor Mesquita, a Assembleia de Deus “não apoia nenhum candidato oficialmente”. Ele afirma que a ala majoritária “demonstra apoio e proximidade a José Serra”. “Há uma resistência da CGADB a Dilma Rousseff, que é muito progressista e liberal em assuntos como ser favorável ao aborto e ao casamento gay. Não limitamos direitos. Eles [os homossexuais] têm direito a fazer o que quiserem, mas não absorvemos essas ideias e somos totalmente contrários”.
A outra ala da Assembleia de Deus, conhecida como Ministério Madureira, conta com 6 milhões de seguidores e está com Dilma. Neste sábado, o deputado federal Pastor Manoel Ferreira (PR-RJ), líder da convenção nacional, organizou um evento em Brasília que com fieis de diversas igrejas evangélicas para apoiar a petista, como Assembleia de Deus, Sara Nossa Terra e Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo o deputado-pastor, o apoio à ex-ministra foi negociado e eles teriam recebido uma promessa de Dilma de que um eventual governo petista deixaria questões polêmicas como a legalização do aborto e a união civil entre homossexuais para ser discutida apenas pelo Congresso.
[b]A escolha de Marina[/b]
Enquanto isso, a candidata do PV à Presidência, Marina Silva, não encontra apoio oficial nem mesmo na igreja à qual pertence. A verde é da Assembleia de Deus desde 1997 e, segundo a CGADB, “a igreja deveria ter amadurecimento para anunciar um apoio oficial a Marina”. O objetivo, dizem representantes da convenção, é que a igreja poderia exigir dela um governo norteado pelos “ensinamentos cristão”. Mas não foi isso que aconteceu.
A assessoria de Marina Silva, por sua vez, afirma que a candidata defende um estado laico e não discrimina a fé. “Marina reconhece que os evangélicos são um público a quem ela deve atenção por fazer parte dele, mas não faz um direcionamento específico para nenhum grupo religioso”.
[b]Universal e a confusão de Dilma[/b]
A ex-ministra ganhou – mais uma vez – uma herança do governo Lula: o apoio da Igreja Universal. Com 13 milhões de fieis, a instituição apoiou Lula em 2002 e 2006. Outro elo de Dilma com a igreja é o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) que, de acordo com sua assessoria, tem uma amizade “antiga e pública” com o presidente Lula.
No entanto, Dilma tem defendido que o aborto seja tratado como questão de saúde pública e negou que seja a favor da descriminalização. A petista afirmou ainda apoiar a união civil entre homossexuais, mas não o casamento, o que fez milhares de evangélicos – e católicos – torcerem o nariz.
Para tentar resolver os impasses, Lula precisou interferir: nomeou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, um ex-seminarista, para aproximar a petista da Igreja Católica. O bispo de Guarulhos (SP), dom Luiz Gonzaga Bergonzini, já havia defendido o boicote à candidatura de Dilma por considerar que o PT é a favor da interrupção da gravidez.
[b]Fonte: Veja on-line[/b]