A Campanha Nacional pela Vida está recolhendo assinaturas contra a legalização do aborto, um projeto de lei a ser votado no Congresso Nacional. A expectativa é recolher cinco milhões de assinaturas em todo o país.
Em Juiz de Fora, as listas já estão sendo distribuídas nas igrejas e a estimativa é arrecadar, no mínimo, 150 mil assinaturas.
A representante da campanha, também integrante do Núcleo Pró-Vida, da Arquidiocese de Juiz de Fora, Maria José Meireles de Aquino, explica que a Igreja Católica é contra qualquer tipo de aborto, sem exceção.
Embora o clero esteja engajado, os católicos ainda não entendem bem o porquê de defender o desenvolvimento de um embrião, segundo a militante. “Noventa por cento das mulheres não sabem o que é um embrião. O católico não entende o que é o aborto, principalmente nos três primeiros meses de vida. As pessoas que defendem a legalização argumentam que nesse período o que existe é apenas um aglomerado de células. Mas o embrião já tem sentimentos, já é um ser vivo”, declara.
Quando a vida começa?
A questão do começo da vida humana é polêmica e ainda não há consenso. Em matéria divulgada no site da Câmara dos Deputados, no mês agosto, o relator do projeto de descriminalização do aborto, deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), afirmou que só vai divulgar seu parecer quando o Supremo Tribunal Federal (STF) apresentar um conceito sobre o início da vida humana durante a gestação.
O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em entrevista publicada na Revista Superinteressante, defende que a vida começa quando se forma o sistema nervoso central. Ele afirma ainda que a diferença entre classes sociais é fator determinante da realização de abortos bem ou mal-sucedidos.
Adiamento da votação se deve às pressões populares
O Projeto de Lei 1135/ 91, que prevê a total legalização do aborto, era para constar da pauta de votação no Congresso Nacional da semana passada. No entanto, segundo Maria José, o assunto só será definido no ano que vem, devido às manifestações populares contrárias à descriminalização do aborto.
A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados é a responsável pela análise, discussão e aprovação do projeto. Uma das argumentações a favor da legalização é a quantidade de abortos clandestinos realizados no país: mais de um milhão por ano.
A estudante universitária, Marília Lima Xavier, que participa do Coletivo de Mulheres Maria, Maria, explica que há contradição no fato de a Igreja Católica se declarar contra o aborto. “Esse posicionamento é questionável porque até determinado século a Igreja era favorável ao aborto, mas depois mudou de idéia e resolveu ser contra”.
Marília Lima aponta a ambigüidade do direito à vida defendido pela campanha, questionando se se refere à mãe ou à criança. Ela acredita ainda que a aprovação do projeto, além de garantir liberdade à mulher para decidir sobre o próprio corpo, vai tornar o processo mais seguro. “Se houver legalização, as clínicas vão ser bem preparadas, com profissionais para assistir bem as mulheres, com tratamento psicológico e apoio moral”, afirma.
Já Maria José diz que as mulheres que optam por abortar têm de assumir o risco. “Se a mulher gera o filho por promiscuidade ou por descuido com anticoncepcionais ela tem de se preparar para as conseqüências. O sexo foi feito para a procriação, não exclusivamente para o prazer. Eu considero o aborto como execução sumária, porque o ser não tem direito à defesa e é punido por uma irresponsabilidade dos pais”, afirma.
Gravidezes de risco ou resultado de estupro
Mesmo quando o feto tem mal-formação, a gravidez oferece risco à gestante, ou a geração de um novo ser é conseqüência de um estupro, a Igreja reitera seu posicionamento contrário ao aborto.
Maria José defende que é melhor para a saúde da mulher ter o filho do que abortar. “Quando há anencefalia, ou seja, quando o bebê vai nascer sem cérebro, seria aconselhada a interrupção da gravidez. Mas é melhor para a saúde da mulher, física e psicológica, ter o filho. E, religiosamente, nem se fala, porque imagina você exterminar um ser indefeso? No caso dos fetos com mal-formações, não cabe às mulheres decidirem sobre o nascimento. Temos que fazer de tudo pela salvação da criança, biológica e espiritualmente. Só a Deus cabe pôr fim à vida. Se a criança vai viver 15 ou 20 minutos não é questão com a qual devemos nos preocupar, mas sim fazer de tudo pela vida do ser”, defende.
Maria José explica que as mulheres que optaram por deixar nascer a criança com mal-formação não se arrependeram. “Se a gente decide matar, por exemplo, o feto com Síndrome de Down ou algum tipo de deficiência, nós estamos voltando ao nazismo, que praticava a eugenia. Parece fácil exterminar o que é defeituoso e vai dar trabalho e despesa, mas até mesmo os ateus são contra esse procedimento que fere a vida”.
Outro ponto apontado que refuta a descriminalização é o possível incentivo à prática abortiva. Marília Lima declara que é um mito dizer que vai aumentar o número de abortos, se houver a legalização. “O que vai acontecer é que a mulher terá liberdade de escolha, o que não significa que ela vai abortar mais”, diz.
Em defesa daquele que vai nascer
No dia 8 de outubro comemora-se o Dia do Nascituro. Em Juiz de Fora haverá manifestação concentrada, às 9h, em frente à Câmara Municipal, de onde vai sair uma passeata em direção à Catedral Metropolitana. O nascituro é lembrado ainda no dia 25 de março. A data varia também conforme o país.
Fonte: Barbacena Online