Três pessoas que afirmavam terem sofrido abusos sexuais por padres católicos retiraram suas queixas contra o Vaticano na Justiça dos EUA, eliminando a possibilidade de a Igreja ir ao banco dos réus no país.
Em Roma, a Santa Sé comemorou e disse que recebe a notícia “com satisfação”.
As informações são do advogado da Santa Sé nos Estados Unidos, Jeffrey Lena. Segundo ele a Igreja aguarda somente a assinatura dos juízes americanos sancionando o arquivamento do processo para oficializar a decisão.
As supostas vítimas de pedofilia acusavam o Vaticano de negligência. Seus representantes legais procuravam obter o status de ação coletiva, sustentando que milhares de menores são molestados por sacerdotes no país.
O episódio do Kentucky –apresentado em 2004 a uma corte de Louisville– é um dos três que citam a Santa Sé em tribunais norte-americanos.
Recentemente, outro procedimento foi encaminhado ao Estado de Wisconsin pelas vítimas do padre Lawrence Murphy, que teria abusado de ao menos 200 alunos de uma escola para surdos-mudos e que foi, ainda no início deste ano, o estopim da grande crise de pedofilia que ainda abala a Igreja Católica em todo o mundo.
O processo menciona o papa Bento 16 –que na época dos episódios era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé– e os cardeais Angelo Sodano e Tarcisio Bertone, o atual secretário de Estado do Vaticano e então número dois do dicastério responsável por checar este tipo de denúncia.
O outro caso corre no Oregon e cita a Santa Sé, já que ela teria aprovado a transferência da Irlanda a Chicago, e depois a Portland, do sacerdote Andrew Ronan, mesmo sabendo das repetidas denúncias associadas a ele, tornando-se assim corresponsável pelos abusos.
No final de junho, a Suprema Corte americana resolveu não se pronunciar sobre um recurso encaminhado pelo Vaticano referente a este processo, e reenviou a um tribunal local a decisão sobre se a instituição pode ou não ser civilmente responsável pelas ações de padres que cometeram abusos.
[b]CELEBRAÇÃO [/b]
A notícia da retirada das queixas contra o Vaticano na Justiça americana foi bem recebida em Roma. “A Santa Sé recebe com satisfação as notícias referente à causa do Kentucky”, declarou o porta-voz da instituição, padre Federico Lombardi.
“Naturalmente isso não significa de algum modo minimizar o horror e a condenação pelos episódios dos abusos sexuais e a compaixão pelo sofrimento das vítimas, porque, como justamente enfatizou o advogado [Jeffrey] Lena, a Justiça nos confrontos das vítimas e na proteção dos menores deve permanecer o objetivo prioritário”, completou.
De acordo com Lombardi, “é positivo que uma causa que durou seis anos, sobre um suposto envolvimento da Santa Sé em responsabilidades de ocultação de abusos, que teve também fortes reflexos negativos na opinião pública, tenha sido ao final demonstrada ser originada por uma acusação não fundamentada”.
Lena deu entrevista à Radio Vaticana, onde deixou claro que não se pode concluir que os abusos não tenham acontecido somente porque as queixas foram retiradas, apesar de a tese da acusação ser “errônea”.
“A teoria elaborada pelos advogados das partes lesadas, há seis anos, induziu ao erro a opinião pública”, comentou ele, contrapondo que o fato do caso “interposto contra a Santa Sé ter sido errado no mérito não significa que as partes lesadas não tenham sofrido pelos abusos”.
Segundo ele, no entanto, o processo contra a Santa Sé “somente distraiu” a atenção “do importante objetivo de proteger as crianças”.
Além de acusar o Vaticano de negligência, os representantes legais das vítimas procuravam obter o status de ação coletiva para a causa, sustentando que milhares de menores já foram molestados por sacerdotes nos Estados Unidos.
[b]Fonte: Folha Online[/b]