A Anistia Internacional (AI) decidiu apoiar o aborto em casos de estupro, determinação que oporá a entidade defensora dos direitos humanos ao Vaticano.
O jornal inglês The Independente noticiou hoje que a AI tornará pública, durante uma reunião de organizações de direitos humanos no México, sua determinação em apoiar a realização de aborto por mulheres que tenham sido violadas.
Uma porta-voz da Anistia, consultada pela ANSA, declarou em Londres que a organização “não fará comentários no momento”.
A decisão, que contempla também casos em que a gravidez apresente risco à gestante, foi tomada pela ONG principalmente devido ao grande número de casos de estupro em Darfur, na África.
Segundo o jornal londrino, a Anistia enfureceu o Vaticano. Este ano, o cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício de Justiça e Paz, ameaçou pedir à congregação católica para boicotar a AI, a menos que o grupo mude suas políticas.
“Se, de fato, a Anistia Internacional persistir nesse curso de ação, indivíduos e organizações católicas poderão retirar seu apoio, porque ao decidir promover o aborto, a Anistia Internacional está traindo sua missão”.
Delegados de organizações católicas presentes na conferência internacional desta semana no México debaterão tema e, ao que tudo indica, a maioria é favorável à postura da entidade humanitária.
A Anistia foi fundada em 1961 pelo advogado britânico convertido ao catolicismo Peter Benenson para fazer campanha por presos políticos. Desde então, a entidade é apoiada pelo Vaticano, e conta hoje com cerca de 1,8 milhões de membros em todo o mundo. Em 1977, a ONG, com sede central em Londres, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
Segundo a secretária geral da Anistia Internacional, Kate Gilmore, “nossa organização apóia vítimas e sobreviventes de violações de direitos humanos. Nossa política reflete nossa obrigação de solidariedade como movimento de direitos humanos, por exemplo, no caso de uma sobrevivente de violação em Darfur, que ficou grávida como resultado de um ataque inimigo, o que provocará seu afastamento da comunidade”.
Ainda de acordo com ela, a AI “é um movimento dedicado a defender os direitos humanos, e não teologias específicas. Nosso objetivo invoca a lei e o Estado, não a Deus”.
Para o Vaticano, a Anistia é incoerente, já que se opõe à pena de morte em todas as circunstâncias mas, em alguns casos, apóia a morte de crianças ainda por nascer.
“O aborto não é solução para nada. O que deveriam é lutar para dar ajuda adequada às mães que engravidam depois de serem violadas”, afirmou Luke Coppen, editor do jornal Catholic Herald, principal publicação católica da Grã-Bretanha. Ele sustenta que “é profundamente incorreto que a Anistia apóie abortos. Está traindo a luta dos direitos humanos”.
Em sua opinião, a Anistia usa os exemplos de mulheres violadas em Darfur, “porque são muito sentimentais e emotivos”. E completou: “É uma tática. A realidade é que não se pode ser favorável ao assassinato de crianças”.
Fonte: Ansa