[img align=left width=300]http://imguol.com/c/noticias/d8/2016/07/16/16jul2016—o-virtual-candidato-republicano-a-presidencia-dos-estados-unidos-donald-trump-fala-antes-de-apresentar-mike-pence-governador-de-indiana-durante-um-evento-em-nova-york-neste-sabado-16-na-1468689283779_615x300.jpg[/img]

Quando o governador de Indiana, Mike Pence, estava na faculdade, ele se viu admirando uma cruz de ouro pendurada no pescoço de um irmão de sua fraternidade. A resposta que recebeu deixou uma impressão tão forte que ele se recordaria dela décadas depois, no plenário do Congresso.

“Lembre-se, Mike, é preciso carregá-la em seu coração antes de carregá-la em seu pescoço”, Pence contou que seu irmão de fraternidade lhe disse.

Logo depois dessa conversa, em um festival de música cristã em Kentucky, Pence fez um juramento muito diferente do que fez ao se juntar à fraternidade Phi Gamma Delta. “Eu dei minha vida à Jesus Cristo”, ele lembrou anos depois, “e isso mudou tudo”.

Foi uma decisão que redefiniria Pence, o colocando no caminho de se tornar um cristão evangélico e um dos principais legisladores social e religiosamente conservadores do país.

Mas ela também fez com que rompesse com duas instituições centrais para a família Pence: a Igreja Católica Romana e o Partido Democrata.

Pence, 57, que será o candidato a vice-presidente republicano, é o único dos seis irmãos Pence que não é mais católico. Apesar de sua família se manter próxima, tornar-se evangélico foi por muito tempo uma fonte de desgosto para sua mãe, segundo o reverendo Clement T. Davis, padre da igreja em Columbus, Indiana, onde Pence foi batizado.

As raízes católicas irlandesas da família são profundas. O avô materno de Pence, do qual ele era particularmente próximo, chegou da Irlanda aos Estados Unidos em 1923 e se estabeleceu em Chicago, onde posteriormente se tornou motorista de ônibus.

A família idolatrava John F. Kennedy, o primeiro presidente católico irlandês do país. Na adolescência, Mike Pence foi o coordenador jovem dos Democratas do Condado de Bartholomew. Todos os quatro meninos Pence foram coroinhas na igreja deles, Saint Columba, e frequentaram a escola da paróquia. Eles estavam na igreja seis dias por semana, às vezes sete, quando havia missa no sábado. Mesmo depois de partirem para a faculdade, a igreja ligava para a casa dos Pence durante as férias ou durante o verão quando precisava de um coroinha.

“Nossa vida girava em torno da igreja”, disse Gregory Pence, um dos dois irmãos mais velhos de Mike Pence, em uma entrevista, acrescentando que ele ainda ia à missa matinal ali algumas vezes por semana com sua mãe.

Mas na Faculdade Hanover, uma pequena faculdade de artes liberais em Indiana próxima das margens do rio Ohio, Mike Pence passou a sentir que algo estava faltando em sua vida espiritual. O catolicismo de sua juventude, com sua formalidade e rituais, não lhe deu a intimidade com Deus pela qual se viu ansiando.

“Eu comecei a conhecer homens e mulheres jovens que falavam sobre ter um relacionamento pessoal com Jesus Cristo”, ele disse anos depois, em uma entrevista para a “Christian Broadcasting Network”. “Aquilo não fazia parte da minha experiência.”

Mesmo assim, não foi fácil para ele abandonar a igreja na qual foi criado. Após se formar, ele trabalhou como ministro da juventude católico e até mesmo considerou se tornar padre. Ele descreveu a si mesmo por anos como “um católico evangélico”. Amigos disseram que ele se debateu por anos em como conciliar seu passado religioso com seu futuro religioso.

“Ele fez parte de um movimento de pessoas, como eu chamaria, que cresceram católicas e ainda amavam muitas coisas a respeito da Igreja Católica, mas também amavam o conceito de ter um relacionamento muito pessoal com Cristo”, disse Patricia Bailey, que se tornou próxima de Pence quando ela e seu marido, Mark, trabalharam com ele em um escritório de advocacia em Indianapolis, em meados dos anos 80.

A mulher de Pence, Karen, também fez parte desse movimento. Eles se conheceram quando ele cursava Direito na Universidade de Indiana e a viu tocando violão em um coral de igreja em Indianapolis. Após começarem a namorar, ela comprou uma cruz de ouro com a palavra “Sim” gravada, e a manteve guardada em sua bolsa até que ele a pediu em casamento.

“Ele foi uma parte importante da jornada dele de fé”, disse Mark Bailey, que costumava começar seu dia orando com Mike Pence em uma das salas do escritório de advocacia deles. “Ele se referia à sua mulher como guerreira das orações da família.”

Em meados dos anos 90, Pence e sua mulher frequentavam uma igreja evangélica em Indianapolis.

À medida que mudava a fé de Mike Pence, o mesmo passou a acontecer com sua política. Ele votou em Jimmy Carter em 1980, mas logo passou a pender para Ronald Reagan e à oposição ferrenha do Partido Republicano ao aborto.

Seu cristianismo evangélico agora é a força motriz por trás de sua agenda política, seja trabalhando para negar fundos federais à Planned Parenthood (organização de planejamento familiar que oferece serviços que vão desde exames de HIV até métodos contraceptivos e aborto) ou para tornar legal que conservadores religiosos se recusem a atender casais gays.

“Sanciono esta lei com uma oração para que Deus continue abençoando essas crianças preciosas, mães e famílias”, ele disse em março, ao assinar um amplo projeto de lei que proíbe as mulheres de abortar um feto por ter uma invalidez como síndrome de Down. (Um juiz federal suspendeu a lei no mês passado.)

“Pence não apenas exibe sua fé, ele realmente veste a camisa de Jesus”, certa vez colocou Brian Howey, um colunista político de Indiana.

Durante o período de Pence no Capitólio, ele não frequentava eventos sem sua mulher se álcool estivesse sendo servido. Colegas deputados às vezes brincavam sobre a necessidade de tomarem cuidado com a linguagem quando ele se aproximava deles nos corredores do Congresso.

Pence nem mesmo se envolve em propagandas de ataque, tendo renegado campanhas negativas após participar de uma campanha malsucedida particularmente feia no início de sua carreira política. “Jesus Cristo veio salvar os pecadores, dentre os quais sou um dos maiores”, ele escreveu após a eleição, citando as Escrituras.

Quando Pence estava em uma disputa apertada para governador em 2012, seu estrategista de mídia, Rex Elsass, invocou um trecho diferente da Bíblia em um esforço para persuadi-lo de que os ataques de seu oponente democrata justificavam uma resposta direta e vigorosa, desde que não faltasse com a verdade, lembrou Elsass. Pence recusou.

Mas nos últimos dias ele não hesitou em atacar Hillary Clinton, a virtual candidata democrata: ele a chamou de “Hillary corrupta”, imitando o rótulo de “Hillary desonesta” usado por Donald Trump.

Gregory Pence disse que não vê a conversão de seu irmão ao cristianismo evangélico como uma rejeição de sua criação católica, mas sim um reflexo do fato de ele ter necessidades espirituais diferentes.

Os dois ainda rezam juntos, apenas não na igreja como costumavam. De fato, Gregory Pence disse que quando seu irmão lhe telefonou após saber que Trump o escolheu como companheiro de chapa, eles choraram e trocaram versos da Bíblia. (“Muito bem, servo bom e fiel”, Gregory Pence disse ao irmão.)

Ele se recusou a dizer se apoiava Trump antes de seu irmão se juntar à chapa. Mas ao ser perguntado se achava que seu irmão teve alguma dúvida a respeito de se unir a um homem cujo currículo inclui três mulheres e um império de cassinos, e que faz uso à vontade de linguagem e imagens chulas, ele respondeu sem hesitação.

“Não julgueis para não serdes julgados”, ele disse.

Tradutor: George El Khouri Andolfato

[b]Fonte: The New York Times via UOL[/b]

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