A devoção a imagens da religiosidade popular adquire maior representatividade em momentos de crise sócio-econômica e diante de grandes acontecimentos, a exemplo da Copa do Mundo de futebol, pontuou o doutor em Ciências Sociais, José Rogério Lopes, que desde 1999 dedica-se ao estudo dos elementos iconográficos presentes na esfera religiosa.
Segundo o pesquisador, a contemporaneidade vem sendo profundamente marcada por experiências individuais da fé, nas quais a utilização dos santos caracteriza-se como um vínculo familiar e acessível entre os fiéis e o sagrado. “O Santo Expedito pode ser considerado hoje um dos maiores empregadores do Brasil”, salientou Lopes, referindo-se à grande demanda de pedidos de emprego ao santo das causas urgentes.
Atento às atribuições dos diversos santos na América Latina, Lopes constatou que o Santo Expedito tem similares em outros países do continente. Na Argentina, São Caetano tem a mesma função, assim como o Divino Menino também está associado a questões sociais no México, mais precisamente na província de Iucatan, esclareceu.
A devoção às imagens de santos nos momentos de dificuldade, destacou Lopes, deve-se à efetividade dos pedidos atendidos, o que é chamado de “eficácia simbólica”. “Na realidade, pessoas de diferentes denominações carregam santinhos na carteira ou trazem próximo ao corpo símbolos que são reconhecidos universalmente, a exemplo da cruz, da pomba ou do Espírito Santo”, destacou.
Além do Santo Expedito, Santa Rita de Cássia, São Judas Tadeu e Santa Edwiges são considerados “santos da crise” ou “santos da hora”. Na religiosidade popular, Rita de Cássia é a santa do impossível, enquanto Santa Edwiges é considerada a protetora dos pobres e dos endividados, e São Judas Tadeu é o santo dos desesperados e das causas sem solução. Lopes explicou que os poderes atribuídos aos santos são “fluídos” e podem perfeitamente “passar” de um santo para o outro.
O professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), autor da pesquisa “Os santos da hora e a produção dos sistemas de proteções sociais religiosas”, lembrou que a história do catolicismo na América Latina, e principalmente no Brasil, foi caracterizada por um número reduzido de sacerdotes, o que conduziu os santos a mais alta categoria do sagrado. “As práticas religiosas no Brasil, sobretudo católicas, sempre foram práticas mais devocionais do que institucionais”, definiu.
Questionado quanto ao número de santos, Lopes afirmou que se costuma dizer que “existe mais de um santo para cada dia do ano”. Durante o período da Reforma e da Contra-Reforma, explicou, a Igreja Católica canonizou muitos santos para poder ampliar a difusão dos exemplos de vida cristã. No Brasil, a experiência popular consagrou muitos casos de santos que não foram canonizados pela Igreja Católica, mas que são cultuados em âmbito local, apontou.
Fonte: ALC