Se na década de 70 sociólogos estudavam um possível fim das religiões, 20 anos depois o fenômeno é inverso: uma busca intensa pela renovação da fé. Consequência direta da insegurança e medo que rondam a sociedade atual, que por sua vez faz proliferar as ofertas de cultos e crenças.

A análise é do arcebispo de Londrina, Dom Orlando Brandes, que esteve na Folha na manhã de ontem, e falou sobre política, suas características de trabalho e ainda a vocação e celibato na Igreja Católica.

Sempre direto e objetivo, o arcebispo defende uma renovação na comunicação da liturgia católica, sem perder o rito que garante a tradição da mesma. Com a procura de alento diante da violência, muitos fiéis encontram paz nas religiões, que ele classifica como pentecostais. ”Isso é bom e acontece porque estas religiões falam com simplicidade e pegam direto no que o povo mais quer, que é socorro imediato. Porém corre-se o risco de se explorar o emocionalismo ou pior: o comércio religioso. Nós temos que buscar a santidade da Igreja e rever como nos aproximamos da população”, propõe.

Na prática, Dom Orlando procura execer o diálogo. ”O ecumenismo é a solução. Se queremos a paz, precisamos vivê-la pelo diálogo. A Igreja Católica ainda tem estruturas sólidas e tradicionais que nos distanciam de uma parcela da população, mas através da conversa nos aproximaremos do povo”, defende.

Ele analisa que atualmente se vive numa sociedade dispersa, que sofre de síndrome do pensamento acelerado. ”Por isso a necessidade de missas adaptadas para os jovens, com linguagem mais sintética e dinâmica”, completa. Dom Orlando, em visitas a algumas paróquias do Paraná, diz ter percebido a necessidade até de uma revisão estética nos prédios. ”Nesse calor existem igrejas sem janela, acredita?”, se impressiona.

Sobre a necessária modernização da Igreja, o próprio arcebispo não se classifica como conservador ou progressista. ”Devemos ser conservadores nos Dez Mandamentos e do Pai Nosso. Temos o dever de conservar o tesouro da fé”. E ressalta: ”Temos que olhar para o céu, com os pés no chão e as mãos no leme da história, porque eu não posso perder o que temos de precioso e tradicional, mas não dá para deixar de olhar para nosso contexto histórico”.

Esse perfil mediador de Dom Orlando Brandes se reflete também na perspectiva política. Defende que o bispo é ”pai de todos”, por isso não pode ver legendas ou partidos. Acrescenta-se a isto que ”a palavra de um bispo tem muito peso, por isso não pode carregar ideologia”. Mesmo assim, aposta na necessidade de presença pública da Igreja e diz já perceber que a sociedade londrinense é aberta para isso.

Com características pessoais bem definidas, o arcebispo arrisca com segurança: ”Não vim aqui para agradar. Vim para servir. Acredito que com diálogo podemos construir e nos aproximar da comunidade, que é o objetivo principal de nosso trabalho”.

Celibato precisa de trabalho direcionado

Polêmica, a exigência do celibato é sempre pauta na discussão sobre a Igreja Católica. Nos últimos oito anos, pelo menos quatro padres deixaram suas paróquias para se casar e constituir família em Londrina.

Para o arcebispo de Londrina, Dom Orlando Brandes, a questão não se situa simplesmente no fato deles não poderem se casar, mas na necessidade afetiva que o padre, como qualquer humano, tem.

Para tentar amenizar isto, ele aposta num trabalho mais próximo e direcionado aos padres. ”Lá em Joinville (SC), era obrigatório um acompanhamento psicológico. Além disso temos que cuidar de uma formação mais humanística dos seminaristas e padres”, acredita. Ele defende a necessidade de um trabalho vocacional mais fortalecido em Londrina. ”A cidade é grande e temos poucos seminaristas. Precisamos conquistar mais jovens e isso pode ser feito com incentivo dos párocos. Muitos rapazes buscam essa força e não encontram”, afirma.

Dom Orlando também percebe que uma dificuldade no trabalho vocacional é o fracasso familiar. ”Quando ele existe, a persistência é mais debilitada. A família é a base e por isso pode dar sustento à missão do jovem padre”, argumenta.

Fonte: Folha de Londrina

Comentários