Às vésperas da Copa das Confederações na Rússia, que terá início em 17 de junho, atletas brasileiros têm praticado o cristianismo de maneira quase clandestina.
Jogadores de modalidades como futebol, futsal, snowboard e lutadores de jiu-jítsu temem ser reconhecidos em cultos e enquadrados como possíveis suspeitos devido ao pacote de medidas contra o terrorismo sancionado pelo presidente Vladimir Putin no ano passado.
Embora o objetivo das medidas seja deter o avanço do extremismo e fortalecer a Igreja Ortodoxa, as restrições atingiram a Igreja Evangélica e religiões minoritárias.
Na Bola de Neve Church da Rússia, por exemplo, a maioria dos frequentadores é formada por jogadores de futebol. Fundada no Brasil pelo pastor e surfista Rinaldo Seixas, a denominação é representada na Rússia pelo médico e pastor brasileiro Felipe Campos Sestaro.
Os atletas estão espalhadas por sete células da igreja espalhadas por Moscou, São Petersburgo e Kursk, fato cada vez mais raro devido ao controle do estado russo sobre as reuniões religiosas.
“Sou pastor e estou no olho do furacão. Vivo na sombra e, se eu for denunciado, vou preso. Vivo apreensivo, na marginalidade. Mesmo assim, sou cauteloso em julgar”, disse Sestaro ao jornal O Globo.
[b]Exposição limitada[/b]
As manifestações públicas de fé são evitadas pelos atletas e praticantes do cristianismo em campo, quadras, tatames e nas ruas. Exposição religiosa nas redes sociais, ligações telefônicas e mensagens de texto também podem ser motivos de problemas, porque a lei determina que empresas de telecomunicações armazenem dados da população por até seis meses.
O pastor conta que as autoridades foram chamadas para fiscalizar a igreja em um culto realizado em São Petersburgo, no dia 2 de julho, mas eles conseguiram escapar. “Não podemos atrair a atenção dos vizinhos, é arriscado”, disse Sestaro. “É real. Eu posso ser preso se eu for denunciado”.
Sestaro tem reunido brasileiros, angolanos, moçambicanos, sul-americanos e russos na Bola de Neve. Os atletas costumavam expandir o Evangelho através de visitas a hospitais, aulas de esportes e evangelismo nas ruas. Hoje a realidade é outra. “Agora, evitamos o proselitismo em orfanatos, hospitais e na rua”, afirma o pastor.
“Este país recebeu imigrantes das ex-repúblicas soviéticas, como Cazaquistão, Uzbequistão, Chechênia… de maioria muçulmana. Enquanto os russos têm um filho, estes imigrantes teriam quatro ou cinco. O governo tenta conter o avanço muçulmano. Quase todo ataque terrorista tem uma motivação islâmica. Daí nasceria o preconceito, primeiro contra os muçulmanos, depois, contra as demais religiões”, explicou Sestaro.
A mesma análise é feita pelo professor e historiador da Universidade de Brasília (UnB), Argemiro Procópio, especialista em Rússia e terrorismo.
“A questão tem trazido problemas, de racismo inclusive, porque o russo se sente agredido, invadido. Algumas minorias religiosas correm risco de virar bode expiatório. Os brasileiros terão dificuldade, porque, além de jogadores, viramos exportadores de pastores para o mundo”, disse ele.
[b]Fonte: Guia-me[/b]