O incidente mostrou que a questão do papa Pio 12 ainda é muito sensível entre os judeus.
Uma autoridade israelense que gerou polêmica no mundo judaico ao elogiar o papa Pio 12 por salvar os judeus na Segunda Guerra Mundial voltou atrás neste domingo, dizendo que seu julgamento foi “historicamente prematuro.”
Os comentários feitos na quinta-feira por Mordechay Lewy, embaixador israelense no Vaticano, foram entre os mais cordiais já feitos por uma autoridade judaica sobre o papa Pio 12. A maioria tem sido muito crítica de seu histórico.
O incidente mostrou que a questão do papa Pio 12 ainda é sensível entre os judeus, e Lewy foi rapidamente criticado por alguns grupos judaicos, inclusive sobreviventes do Holocausto.
Em comunicado, aparentemente tentando acalmar a disputa dentro da comunidade judaica mundial, Lewis disse que seus comentários estavam “inseridos em um contexto histórico mais amplo.”
“Considerando que esse contexto ainda é tema de pesquisas atuais e futuras, fazer meu julgamento histórico pessoal sobre a questão foi prematuro,” disse Lewy.
A questão sobre se o papa Pio 12 ajudou ou não os judeus tem atormentado as relações entre católicos e judeus por décadas, e é raro que uma autoridade judaica ou israelense elogie o papa.
Muitos judeus acusam Pio 12, que governou entre 1939 e 1958, de fechar os olhos para o Holocausto. O Vaticano afirma que ele trabalhou discretamente nos bastidores, porque se manifestar publicamente teria gerado represálias nazistas contra os católicos e judeus na Europa.
Lewy, em discurso realizado durante uma cerimônia para honrar um padre italiano que ajudou os judeus, disse que conventos e monastérios católicos abriram suas portas para salvar os judeus no dia após um arrastão nazista no gueto de Roma, em 16 de outubro de 1943.
Em seu discurso na noite de quinta-feira, Lewy disse: “Existem motivos para acreditar que isso aconteceu sob supervisão das mais altas autoridades do Vaticano, que foram informadas sobre os acontecimentos.”
“Então seria um erro dizer que a Igreja Católica, o Vaticano e o próprio papa eram contra as ações para salvar os judeus. Pelo contrário, o oposto é verdade,” afirmou.
Os judeus pediram o congelamento de um processo que levaria à beatificação do papa Pio 12 na Igreja Católica até que os arquivos do período fossem abertos e estudados.
[b]Fonte: Estadão[/b]