Uma igreja evangélica e um jornal católico entraram com um processo contra o governo depois de autoridades governamentais legislarem contra o uso da palavra “Alá” (Deus, em árabe) em publicações cristãs.
O governo ameaçara fechar o jornal “The Herald”, um jornal católico publicado semanalmente. Ao mesmo tempo, a Igreja Evangélica de Borneo (Sidang Injil Borneo, ou SIB) contestou a decisão de proibir a importação de material educacional cristão para crianças que contivessem o nome “Alá”. As autoridades apreenderam dois outros livros que a igreja tentava importar.
Depois de protestos por parte da comunidade cristã, a permissão para a publicação do “Herald” foi renovada, apenas dois dias antes de expirar. Uma audiência para o caso dos livros importados pela SIB foi transferida do dia 27 de dezembro para o dia 16 de janeiro. Há um grande esforço de vários partidos para que a situação se resolva.
Ameaças e proibições
O “The Herald” do dia 27 de dezembro publicou uma declaração de que entrara com um processo contra o governo em 5 de dezembro pela proibição da utilização do nome “Alá”.
O jornal semanal disse que o Ministério de Segurança Interna, encabeçado pelo primeiro- ministro Abdullah Badawi, emitiu uma série de diretrizes à publicação dizendo que deveria parar de usar o nome “Alá” e começar a usar “Deus” ou então a licença para publicar seria suspensa ou revogada.
Em 17 de dezembro, o jornal recebeu uma carta do Ministério de Segurança Interna aconselhando-o a extinguir o segmento malaio (onde a palavra “Alá” é usada) se quisessem renovar a licença da publicação para 2008.
Segundo o Ato de Publicação de Imprensa e Publicações, o Ministério de Segurança Interna tem o poder absoluto de garantir, suspender ou renovar uma licença para publicar.
O “The Herald” é publicado em quatro diferentes idiomas – inglês, malaio, mandarim e tâmil – porque as congregações são multirraciais e plurilingüísticas. O segmento malaio é destinado aos nativos malaios que não falam inglês, mandarim ou tâmil.
Questionado sobre a lógica das diretrizes ministeriais, o representante do ministério, Johari Baharum, disse que a palavra “Alá” só pode ser usada dentro do contexto islâmico. “Não podemos deixar que outras religiões a utilizem para não confundir as pessoas”, ele declarou.
Apreensão de livros
A SIB, maior denominação da Malásia Oriental, está desafiando a decisão do governo de proibi-la de importar quatro títulos de materiais educacionais cristãos para crianças e de apreender outros dois títulos contendo a palavra “Alá”.
O carregamento dos materiais foi apreendido por oficiais depois de chegar ao terminal de transportadoras de baixo-custo em Sepang, no dia 15 de agosto de 2007.
Em sua petição, a SIB argumenta que o uso cristão de “Alá” é mais antigo do que o islâmico, uma vez que a palavra é a palavra usada para Deus tanto nas Bíblias em árabe antigo quanto no moderno.
Protestos dos cristãos
Debates sobre o uso da palavra “Alá” em contextos não-islâmicos vêm acontecendo de maneira acalorada na mídia desde que os dois processos vieram a público.
O Dr. Firdaus Abdullah, diretor-geral do corpo governamental encarregado de cuidar de assuntos referentes às questões de idiomas nacionais, também conhecido como Dewan Bahasa e Pustaka, argumentou que o governo agiu certo ao proibir o uso do nome “Alá” para se referir a Deus por não-muçulmanos.
“Se olharmos para a palavra ‘Alá’ perceberemos que ela é usada há anos exclusivamente para referir-se a noção islâmica (de Deus)”, declarou o Dr. Firdaus ao “The Sun”, em um artigo do dia 31 de dezembro.
O editor do “Herald” manteve a opinião de que o jornal tem o direito de usar a palavra “Alá”.
Cristãos usam Alá para designar Deus
Patrocinadores da publicação lembram que os cristãos no Egito, Líbano, Iraque, Indonésia, Malásia e Brunei – além de outros países da Ásia e África onde os idiomas locais estão em contato com o árabe – ainda usam “Alá” para se referir a Deus.
O Dr. Ng Kam Weng, diretor de pesquisa do Centro de Pesquisa Kairós, argumenta que, historicamente, cristãos no sudeste da Ásia usam o nome Alá para se referirem ao Deus que eles adoram há muito tempo. Isto está evidenciado por alguns dos textos cristãos mais antigos escritos em malaio: Kitab salat as-sawai (orações cristãs), publicado em 1514, assim como uma versão do Evangelho de Mateus em malaio (1629) e a Bíblia em malaio (1731 – 1733).
Além disso, Bernard Dompok, ministro no departamento do primeiro-ministro e cristão, criticou o Ministério de Segurança Internacional por agir de maneira inconsistente com o esforço do governo em promover o uso do idioma malaio, que é o idioma nacional da Malásia.
O padre Lawrence Andrew, editor do “Herald”, não falou se o jornal retiraria o processo contra o governo, agora que a licença para a publicação em 2008 foi renovada sem restrições.
Fonte: Portas Abertas