Em uma carta mandada para centenas de eleitores esse mês, o representante Virgil H. Goode Jr. alertou que a recente eleição do primeiro muçulmano no Congresso representava uma séria ameaça aos valores tradicionais da nação.
Goode estava se referindo a Keith Ellison, um advogado criminal que se converteu ao islamismo quando estava na faculdade e foi eleito para o Congresso em novembro. O plano de Ellison de usar o Alcorão durante sua cerimônia privada de juramento em janeiro insultou alguns eleitores da Virginia, estimulando Goode a escrever uma resposta para eles, de acordo com seu porta-voz.
Em sua carta, datada em 5 de dezembro, Goode disse que os americanos precisavam acordar ou senão seria “provável que mais muçulmanos se elegessem e exigissem o uso do Alcorão”.
Goode recusou Quarta-feira a comentar sua carta, que logo provocou um furor entre alguns congressistas democratas e muçulmano-americanos, que o acusaram de inveja e intolerância.
Eles observaram que a constituição especificamente barra qualquer tipo de separação religiosa de membros do Congresso e que os atuais juramentos desses legisladores ocorrem sem nenhum tipo de texto religioso.
Ellison dispensou os comentários de Goode, dizendo que eles pareciam mal informados sobre suas origens pessoais assim como as proteções constitucionais da liberdade religiosa. “Eu não sou imigrante”, acrescentou Ellison, que traça seus ancestrais americanos até 1742. “Eu sou afro-americano”.
“Eu estou esperando para fazer amizade com Goode, ou ao menos conhecê-lo”, comentou Ellison, falando no telefone de Minneapolis. “Eu quero que ele saiba que não há nada a temer. O fato é que existem muitas fés, cores e culturas diferentes na América, tornando sua grande força”.
Em Washington, Brendan Daly, um porta-voz do próximo discursante do Congresso, Nancy Pelosi, da Califórnia, atacou a carta de Goode como “ofensiva”. Corey Saylor, diretor legislador de Conselho das Relações Americana-Islâmicas, criticou o que ele descreve como a “mensagem de intolerância” de Goode.
O representante Bill Pascrell Jr. pediu para Goode estender a mão para muçulmanos na Virginia e aprender a “dissepar idéias erradas ao invés de promovê-las”.
“Keith Ellison é um grande exemplo de muçulmano-americanos em nossa nação, e ele não tem que responder para você, para mim, ou qualquer um outro em relação a questões sobre sua fé”, disse Pascrell, que tem distritos que incluem muitos árabe-americanos.
Linwood Duncan, um porta-voz da Goode, disse que o legislador da Virginia não tem intenções de voltar atrás, apesar do furor.
“Ele defende sua carta”, afirmou Duncan. “Ele não tem intenção de pedir desculpa”.
Fonte: The New York Times