Membros de uma rede de igrejas batistas que não se registraram junto às autoridades do Cazaquistão – pois defendem que esta é uma forma de interferência do Estado nas atividades religiosas – reclamaram ao Fórum 18 do aumento da aplicação de multas financeiras como punição.
Na visão destes cristãos, há um objetivo claro por trás destas ações: destruir suas atividades.
“É claro que é guerra, é uma guerra econômica”, afirmou Dmitri Jantsen, de uma congregação batista na cidade de Temirtau, que fica próxima à capital Astana. “Multaram famílias, confiscaram carros e até porcos de quem se recusou a pagar. Querem que nossas igrejas fiquem sujeitas ao controle do Estado.” Segundo Dmitri, o número de multas e o valor delas estão aumentando cada vez mais.
O Fórum 18 não conseguiu encontrar nenhum oficial do Comitê para Assuntos Religiosos em Astana para descobrir por que o Conselho de Igrejas Batistas vem sido perseguido. Em ocasiões anteriores, oficiais do governo defenderam esse tipo de punição econômica como forma de pressão para que os batistas registrassem suas igrejas.
Multas pesadas
Há vários casos recentes de condenação de líderes batistas no Cazaquistão baseados no artigo 375 do Código de Ofensa Administrativa, que pune a atividade religiosa de comunidades sem registro. No dia 26 de abril a corte multou Oleg Kosenko, que liderava a igreja na vila de Borovoe, na região de Akmola, em 22 mil tenges (R$ 386 reais) – o que corresponde a quase o salário mensal de um trabalhador (nas grandes cidades o salário pode ser um pouco mais do que 35 mil tenges
(R$ 615) e no interior um pouco menos).
No dia 13 de março, a Corte de Aktobe, multou novamente Andrei Grigoryev em 109 mil tenges (R$ 1916), enquanto outros quatro cristãos foram obrigados a pagar 54 mil tenges (R$ 949). “A audiência estava cheia de acusações falsas e de provas falsificadas!”, disse Andrei ao Fórum 18, no dia 11 de maio. “Eles já tinham decidido que nos multariam”, contou.
Segundo Andrei, um dos cristãos multados disse à corte que não estava liderando o culto, mas confirmou que estava cantando e orando ao ser questionado. “Ele confirmou e só foi multado por cantar e orar”, disse. Os cincos cristãos apelaram da decisão, mas os todos os pedidos foram rejeitados pela corte em abril.
A igreja já havia sido previamente proibida pela Corte de Aktobe e Andrei Grigoryev condenado a pagar uma multa.
“Não somos culpados”, afirmou. “Os encarregados de executar a pena já começaram a avaliar a minha propriedade, incluindo o carro, a máquina de lavar e até a carroça. A maior parte das coisas é velha e não vale muito”, disse Andrei ao Fórum 18. No entanto, ele conta que os funcionários da corte receberam ordens para vasculhar as duas casas dele – uma onde a igreja se reúne e a outra onde ele mora com a família, herdada de seus pais.
“Ainda não nos expulsaram, mas não posso fazer nada, além de vender a eles. Isso é uma ilegalidade, eles estão fazendo tudo o que querem”, denuncia Andrei. Segundo ele, dois dos seus colegas condenados em março tiveram as suas propriedades confiscadas, incluindo um carro, enquanto um outro teve o dinheiro descontado do próprio salário – uma prática que também vem crescendo.
“Eles levaram 37 mil tenges (R$ 650) dele e ainda restam 17 mil (R$ 299) a pagar”. Andrei contou que a corte não leva em conta o tamanho da família de cada batista. “Dois de nós têm cinco filhos e não temos sustento. Os encarregados da execução dizem que só estão fazendo o trabalho deles e que levar a nossa propriedade é uma forma de nos forçar a ir embora ou de nos fazer pagar as multas”.
O pastor Yaroslav Senyushkevich – que é casado, tem cinco filhos e cuja esposa não está trabalhando – contou que terá metade do salário descontado todos os meses até que a multa de 103 mil tenges (R$ 1810) seja paga.
Quando Andrei Penner, que lidera uma congregação em Karaganda, se recusou a pagar uma multa de mais de 50 mil tenges (R$ 879), passou por um outro julgamento e foi preso por 24 horas. “Agora eles descontam direto do meu salário e não posso fazer nada”, disse ele.
O Conselho de Igrejas Batistas tem repetidamente solicitado às autoridades que o Tratado Internacional de Direitos Humanos – assinado pelo governo – seja respeitado, bem como a liberdade religiosa prevista na Constituição do país. Em janeiro, houve uma tentativa por parte do conselho, sem sucesso, de se encontrar com o presidente Nursultan Nazarbayev, para expor estas preocupações.
Fonte: Portas Abertas