Em sua mensagem para a Quaresma 2007, Bento XVI afirma que “o amor de Deus também é eros”, e pede aos cristãos que lutem contra toda forma de desprezo da vida e de exploração das pessoas, e que aliviem os dramas da solidão e do abandono, vividos por muitos.
A mensagem para a Quaresma 2007, que tem como lema o versículo “Hão de olhar Aquele que transpassaram”, do Evangelho de João, foi apresentada ontem no Vaticano pelo arcebispo Paul Josef Cordes, presidente do Conselho Pontifício “Cor Unum”, organismo da Santa Sé que se encarrega de espalhar a caridade do Papa.
Em sua mensagem, o Papa voltou a falar sobre o ágape e o eros, que considera as duas formas fundamentais do amor, das quais também tratou em sua encíclica “Deus caritas est” (Deus é amor), para ressaltar o amor d’Ele pelos homens, e sua difusão “em todos os gestos e palavras”.
Segundo Bento XVI, a palavra ágape indica o amor oblativo (oferenda que se faz a Deus), de quem procura exclusivamente o bem do próximo, ao tempo que o eros denota, “ao contrário, o amor de quem deseja possuir o que lhe falta, e anseia pela união com o amado”.
“O amor com o qual Deus nos envolve é, sem dúvida, ágape, mas também é eros”, afirmou o Papa. Bento XVI lembrou de como o profeta Oséas mostra a predileção de Deus por Seu povo, “com imagens audaciosas, como a do amor de um homem por uma mulher adúltera”, e de como Ezequiel “não tem medo de usar uma linguagem ardente e apaixonada” ao falar da relação de Deus com a gente de Israel.
Esses textos, segundo o Papa, indicam que o eros faz parte do coração de Deus, “que espera o sim de Suas criaturas, como um jovem esposo espera pelo de sua esposa”.
Bento XVI lamenta que a humanidade, “seduzida pelo diabo”, tenha se fechado ao amor de Deus, desde suas origens.
Para reconquistar o amor de Sua criação – prossegue o Papa – Deus aceitou pagar um preço muito alto: a morte de Seu Filho.
“Na cruz se manifesta o eros de Deus por nós. Cristo na cruz é a revelação mais impressionante do amor de Deus; um amor no qual o eros e o ágape, longe de se contraporem, se iluminam mutuamente. Na cruz, Deus mendiga o amor de Sua criatura”, destaca o Papa, que ressalta que a resposta que Deus deseja dos homens “é a aceitação de Seu amor”.
Mas aceitar o amor não é suficiente, segundo o Papa, que afirma que é preciso corresponder a ele, e comprometer-se a comunicá-lo aos demais.
Bento XVI pede aos cristãos que vivam a Quaresma como um tempo no qual, aceitando o amor de Jesus, devem espalhá-lo, “com todos os gestos e palavras”.
“Isso nos levará a abrir o coração para o próximo, reconhecendo as feridas infligidas à dignidade do ser humano, e a lutar contra toda forma de desprezo à vida, para aliviar os dramas da solidão e do abandono de muitos”, afirmou.
Segundo o arcebispo Cordes, o objetivo do Papa com esta mensagem é alertar para o fato de que a ausência de Deus é pior do que a miséria material, “já que mata qualquer forma de esperança, e deixa o homem sozinho com sua dor e seu lamento”.
Também compareceu à apresentação o sacerdote italiano Oreste Benzi – fundador da Associação “Papa João XXIII”, que presta ajuda a prostitutas e dependentes químicos -, que denunciou que a sociedade atual se considera “auto-suficiente” e está fechada para Deus.
“Os jovens se deram conta de que a sociedade atual é uma sociedade de velhos, capazes apenas de apagar as coisas mais belas criadas por Deus, como o casamento, a família, a dignidade da mulher, a liberdade do espírito, o amor de Deus e do próximo”, disse Benzi.
O sacerdote defendeu a luta contra o aborto e as drogas, e pediu o reconhecimento da “verdadeira família”. Ele fez um apelo ainda à “verdadeira” acolhida aos imigrantes, ciganos e presos, e pediu a libertação das mulheres da escravidão da prostituição.
Esta mensagem antecede as atividades do Papa durante a Quaresma.
Em 21 de fevereiro, Bento XVI irá à basílica romana de Santa Sabina para presidir os ritos da Quarta-Feira de Cinzas, que abrem o período da Quaresma.
No domingo, 25 de fevereiro, o Papa se retirará durante uma semana para exercícios espirituais no Vaticano, que terminarão no sábado, 3 de março. Durante essa semanas, todas as atividades públicas do Papa ficarão suspensas, entre elas a audiência geral das quartas-feiras.
Fonte: EFE