O bispo da diocese de Presidente Prudente, d. José Maria Liborio Saracho, que representa a Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Estado de São Paulo, desencadeou uma campanha contra o projeto de lei do governador José Serra (PSDB) que propõe a regularização das áreas com mais de 500 hectares no Pontal do Paranapanema.
Um manifesto contra o que ele chama de ‘legalização da grilagem’ foi lido nas missas de domingo em igrejas da região. O texto chama a atenção do Estado por não ter tomado ‘medidas suficientes para cumprir a Constituição no sentido de reaver as terras públicas griladas e de destiná-las para a reforma agrária’.
Ontem, d. José Maria disse que, se o governo quer a paz na região, o melhor caminho será apressar a Justiça para que julgue as ações que discutem se as terras pertencem ou não ao Estado. O projeto de Serra, segundo ele, pode agravar os conflitos. ‘O MST luta há 25 anos por essas terras e não vai dar paz nem tranqüilidade enquanto houver dúvida.’
O bispo justificou as invasões – foram mais de 30 este ano na região. ‘O movimento tem uma posição clara: quando invade, é porque é duvidoso que o dono seja mesmo o dono. O único jeito de ser ouvido é invadir as fazendas.’
Dívidas
D. José Maria disse que sua posição é também a da CPT estadual e deve encontrar apoio em outras dioceses. Ele criticou o governo por apoiar a expansão da cana-de-açúcar, que segundo ele está transformando São Paulo num ‘deserto verde’.
No manifesto, o bispo afirma que o Estado tem ‘dívidas sociais’ com o povo da região que devem ser resgatadas. Ele disse que as terras em discussão na Justiça seriam suficientes para assentar mais de 15 mil famílias. ‘É quatro vezes o que já tem assentado.’
O projeto do governador tramita em caráter de urgência na Assembléia. No dia 21, durante um fórum sobre a expansão da cana e do etanol que se realizará em Presidente Prudente, o bispo voltará a atacar a proposta de Serra. ‘É uma agressão à razão e uma usurpação ilegítima do bem comum’, criticou.
‘Boa vontade’
O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, contestou os argumentos do bispo. ‘Estamos ganhando a maioria das ações e o total de terras efetivamente dadas como devoluta é de meio por cento.’
O líder ruralista afirmou que o projeto contempla apenas a ‘boa vontade’ dos proprietários de pôr fim à disputa judicial e disse que a postura do bispo é ideológica. ‘A CPT e o MST têm o mesmo discurso.’
Segundo Nabhan, há dois anos, d. José Maria teria convocado os sem-terra para invadir fazendas. ‘Eu o critiquei e entrei com processo. Ele também me processou pelo que eu falei.’
Fonte: Estadão