Pela primeira vez na França, um bispo se atreveu a ser parte civil num processo contra um padre de sua diocese, acusado de abuso sexual.
O monsenhor Abert-Marie de Monleon, bispo de Meaux, na região parisiense de Ile-de-France, anunciou uma “mudança de comportamento nos casos em que a ‘lei de silêncio’ é insustentável”, escreveu a revista L’Express em sua última edição.
Entre 24 e 25 de outubro, o bispo de Meaux será representado no tribunal pelo advogado Pierre-Olivier Sur no processo contra o padre da diocese, acusado de abusar várias vezes de um adolescente entre 1995 e 1998.
O sacerdote nega as acusações por estupro, e aceita apenas as de assédios sexuais.
Naquela época, Monleon ainda não era responsável pela cúria e não estava ciente dos crimes realizados pelo prelado, informou o L’Express.
“Para Monleon, a Igreja está do lado de quem sofre. Não estamos contra este prelado e não pedimos punições nem penas”, disse Sur à revista.
“O bispo nunca poderia ter tomado esta iniciativa ‘revolucionária’ sem o apoio da hierarquia e isto prova que a Igreja Católica está decidida a enfrentar a infâmia da pedofilia” dentro da instituição, diz a revista.
A Conferência Episcopal parece ter dado nos últimos anos os primeiros sinais de abertura, ao publicar em 2002 um documento que explica que o segredo da confissão, muitas vezes utilizado pela Igreja como álibi, não deve ser utilizado como um escape diante das “responsabilidades jurídicas e morais de cada um”.
O documento destaca também que o silêncio “nos casos de pedofilia é particularmente perverso. A prova da verdade não é negociável, mas se impõe”.
A L’Express recordou que mais de mil prelados foram condenados nos Estados Unidos desde 2002 e mais de cem apenas numa diocese de Dublin, Irlanda, sem contar os numerosos casos na Bélgica e Áustria.
Em 2001, a Congregação para a Doutrina da Fé anunciou um endurecimento das punições para os estupradores, seguido da decisão do Vaticano de cortar votos a alguns ministros de celebração na Irlanda e nos Estados Unidos.
Fonte: ANSA