O bispo católico Martín de Elizalde, da diocese à qual pertencia o ex-capelão Christian Von Wernich, condenado à prisão perpétua por crimes contra a Humanidade durante a ditadura argentina (1976-1983), pediu perdão nesta quarta-feira e expressou seu arrependimento.
O bispo prometeu resolver o futuro da situação do padre, que, no momento, continua sem ser punido pela Igreja, segundo um comunicado divulgado nesta quarta.
“Que um sacerdote, por ação ou omissão, tenha estado tão longe das exigências que lhe foram confiadas, isso nos leva a pedir perdão, com arrependimento sincero”, afirmou o bispo da cidade de Nueve de Julio, na província de Buenos Aires (centro-leste).
O dirigente religioso assinalou que “oportunamente será resolvida, conforme as disposições do Direito Canônico, a situação Christian Von Wernich”, sem mencionar a possibilidade de lhe seja aplicada alguma sanção eclesiástica.
Von Wernich, de 69 anos, foi considerado culpado de sete homicídios, 31 casos de tortura e 42 seqüestros, no primeiro julgamento contra um padre ligado a uma ditadura da América Latina.
O sacerdote escutou a sentença com um semblante imperturbável, diante do tribunal na cidade de La Plata, 60 km ao sul de Buenos Aires.
O cardeal primaz da Argentina, Jorge Bergoglio, disse que a Igreja ficou “comovida pela dor que nos causa a participação de um sacerdote em delitos gravíssimos”.
“Acreditamos que os passos que a Justiça dá no esclarecimento destes fatos devem servir para renovar os esforços de todos os cidadãos no caminho da reconciliação e são um apelo contra a impunidade, o ódio e o rancor”, disse a cúpula eclesiástica.
A decisão foi festejada por centenas de manifestantes de organismos de defesa dos direitos humanos e membros de partidos políticos, que cantaram e soltaram fogos, além de queimar um boneco de Von Wernich.
Eduardo Luis Duhalde, secretário de Estado dos Direitos Humanos do governo de Néstor Kirchner, destacou que é preciso “seguir condenando todos os culpados pela repressão ilegal”.
O ex-capelão era acusado de co-autoria nos homicídios de Domingo Moncalvillo, María del Carmen Morettini, Cecilia Idiart, María Magdalena Mainer, Pablo Mainer, Liliana Galarza e Nilda Salomone, todos seqüestrados pela repressão.
Von Wernich era acusado ainda de torturar o falecido jornalista Jacobo Timerman, fundador e diretor do jornal La Opinión, na década de 70.
Como capelão da polícia, Von Wernich atuou em centros clandestinos de extermínio na província de Buenos Aires, sob o comando do falecido general Ramón Camps, considerado pelos organismos humanitários como o senhor da morte durante a ditadura militar.
A ditadura argentina durou de 1976 a 1983 e neste período mais de 30.000 pessoas desapareceram.
Von Wernich foi preso em 2003, depois da anulação das leis de anistia na Argentina.
Fonte: AFP