O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez um discurso em tom de guerra religiosa com apelo para pauta de costumes durante um culto da Assembleia de Deus de Madureira no Rio de Janeiro neste sábado.
Sem citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal adversário na corrida eleitoral, ele afirmou que grupos que governaram anteriormente o Brasil são hostis a pastores e padres e defendem a “ideologia de gênero”, o aborto e a liberação das drogas.
Bolsonaro criticou o que chamou de “desconstrução da heteronormatividade” e disse quem “manda quem pode, obedece quem tem esposa”.
Bolsonaro foi convidado pelo líder da igreja, o bispo Abner Ferreira, e falou durante quinze minutos ao lado do governador do Rio Cláudio Castro (PL), da candidata ao Senado, Clarissa Garotinho (União-RJ), e do deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) numa arena lotada com milhares de fieis na Vila Militar, Zona Oeste do Rio. A imprensa foi impedida de entrar ou filmar o culto.
Ele saudou o pastor Abner, anfitrião do evento, de forma jocosa: “Sabemos que manda quem pode, obedece quem tem esposa. Se alguém diz o contrário, não é um homem feliz.”
Apesar de Abner ter iniciado o culto dizendo que o presidente participaria do culto como uma autoridade e que os religiosos não deveriam fazer manifestações exaltadas com gritos de “mito”, o que se viu foi um discurso de campanha. Bolsonaro seguiu sua cartilha de apelar para pautas morais enfileirando insinuações de que a esquerda seria contra os valores cristãos.
“Se não falarmos em política hoje, não podemos amanhã falar em Deus. O que peço nesse momento como cidadão é que Deus ilumine cada um de vocês para que naquele dia tome a decisão mais certa para o futuro de todos nós”, disse Bolsonaro.
O presidente criticou a pauta de costumes, classificando como “ameaça” tópicos relacionados à suposta “ideologia de gênero”. “Qual mãe aqui ficaria tranquila, sabendo que sua filha, na escola, de 10 anos, ao entrar no banheiro, pode encontrar um moleque de 13, 14, 15 anos também ocupando o mesmo banheiro?”.
E prosseguiu: “Qual mãe, qual pai, ao mandar seu filho para a escola, atrás de conhecimento, e ver que ele está sendo educado – entre aspas – para daí a poucos anos ser homem ou ser mulher. Crianças a partir de 5 ou 6 anos de idade.”
Na crítica à “desconstrução da heteronormatividade”, Bolsonaro citou um projeto de lei que foi aprovado na Câmara em 2010 e, segundo ele, propunha cadeia a pastores e padres que se recusassem a realizar casamento de pessoas do mesmo sexo. “Em 2010, aprovou-se um projeto de lei na Câmara, que visava botar na cadeia padres ou pastores que se negassem a realizar o casamento de dois seres humanos do mesmo sexo. Foi uma briga muito grande, só vencida no Senado Federal”, disse.
À plateia reunida, o presidente fez uma fala focada em costumes. “Tem muitos grupos que defendem o aborto, que relativizam como uma extração de dente”, disse aos presentes. “Não quer mais ir ao dentista, arranca. Vai no médico e aborta.”
Com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro – que lidera a corrida pelo governo do Estado – entre os convidados no evento evangélico, Bolsonaro abordou também o debate sobre descriminalização de drogas. “Temos também grupos por outro lado que fala em liberar as drogas. Esse grupo não sabe o que é o sofrimento de uma mãe com filho no mundo das drogas.”
Castro tem, como principal opositor na corrida pelo Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, o deputado Marcelo Freixo, que foi questionado sobre o tema nas sabatinas desta corrida eleitoral.
O governador, que é católico, também participou do evento a convite de Bolsonaro, como contou.
Estratégia de campanha
A visita do presidente ao culto marca uma estratégia de Bolsonaro de visitar com frequência espaços evangélicos. Entre o eleitor deste segmento, o chefe do Executivo supera o ex-presidente Lula em votos.
De acordo a pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, a vantagem do candidato à reeleição neste segmento passou de 16 para 23 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, divulgado há uma semana.
Bolsonaro saltou de 48% para 51% em uma semana, enquanto Lula foi de 32% para 28% no período. As movimentações ficam perto do limite da margem de erro, que, para este nicho, é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos.
Não havia material de campanha na Arena onde foi realizado o culto. Porém centenas de fiéis seguravam bandeiras do Brasil e bexigas nas cores verde e amarelo. Em diversos momentos o presidente enfatizou a importância dos evangélicos tomarem uma decisão, insinuando que o futuro deles estaria ameaçado.
Bolsonaro encerrou sua participação no evento e, conforme a assessoria de imprensa, seguiu para Brasília sem falar com a imprensa.
Folha Gospel com informações de O Globo e UOL