[img align=left width=300]http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/08/padre-julio-lancelotti-e-processado-por-bolsonaro/julio%20lancelotti%20bolsonaro.jpg[/img]
Um sermão com críticas ao machismo e à homofobia feito março, em uma igreja da cidade de São Paulo, rendeu ao padre Júlio Lancelotti uma ação por danos morais, com pedido de indenização de R$ 50 mil, movida contra ele pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
Lancelotti é coordenador da Pastoral do Povo de Rua, ligada à Igreja Católica, e militante de direitos humanos há décadas na capital paulista. Em 5 de março deste ano, ele citou Bolsonaro no sermão que antecedia o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, como exemplo de como não tratar a mulher ou a população LGBT – alvos de recentes declarações polêmicas do parlamentar.
No sermão, o religioso defendeu que não bastava dar os parabéns a uma mulher por seu dia. “Você tem que ser alguém que mude a cabeça e a forma de pensar, para que não haja mais a cultura do estupro, onde os meninos pensam que são mais fortes do que as meninas ou que eles podem fazer o que quiserem, e as meninas, não”, disse o padre, para quem o machismo é aprendido em casa.
“Temos que dizer aos meninos, na educação, que eles têm que respeitar as meninas e que o corpo delas é tão sagrado quanto o corpo de todos –e que o corpo dela não pode ser tocado sem que ela aceite ou queira”, afirmou.
Bolsonaro foi citado pelo religioso como contraponto e exemplo de “pessoa homofóbica e violenta” para quem a mulher “tem que ser submissa”.
“Em uma sociedade como a nossa, fico impressionado de aparecer nas pesquisas [eleitorais] que uma pessoa homofóbica e violenta como Bolsonaro seja seguida por tanta gente no Brasil. Isso é vergonhoso”, opinou. “Alguém que propõe a violência, o assassinato e o extermínio dos gays, ou que o homem é mais importante do que a mulher e que ela tem que ser submissa… Isso é inaceitável no tempo em que vivemos”, criticou o padre.
[b]Parlamentar pede retratação; padre diz ter sofrido “bombardeio” nas redes
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Em entrevista ao UOL, nessa terça (15), Lancelotti afirmou que foi notificado pela Justiça do Rio há cerca de um mês sobre a ação movida pelo parlamentar. Também a Arquidiocese de São Paulo foi comunicada pelo deputado, por meio de carta, sobre a iniciativa, de acordo com o padre. Na ação, além da indenização, Bolsonaro pede ainda que o coordenador da Pastoral de Rua se retrate das afirmações feitas durante o sermão de março.
“Não me surpreendeu essa ação do deputado, porque, à época, ele teria dito que faria isso. Curioso é que já um mês depois desse meu sermão, ele próprio disse no Clube Hebraica, no Rio, que negros têm que ser medidos com arrobas, e que, dos filhos dele, a última ‘deu uma fraquejada’ e nasceu mulher. O deputado, que, aliás, afirmou uns anos atrás [em entrevistas, durante o ano de 2014] que ‘ter filho gay é falta de porrada’. Tudo isso configura o quê? Acredito que fiz uma avaliação literal do discurso dele, e acho que o mínimo razoável é que a Justiça considere essas declarações todas para avaliar a acusação dele contra mim”, disse o religioso.
No evento a que Lancelotti fez menção, no Clube Hebraica, Bolsonaro disse ter ido a um quilombo e observou que “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas [medida usada para pesar gado; cada uma equivale a 15 kg]. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”, afirmou o deputado a uma plateia de cerca de 300 pessoas, na ocasião.
“Quando é criticado sobre essas declarações, o deputado alega que se vale da liberdade de expressão – mas não pode ser só a liberdade dele, e não para os outros. Dependendo da posição em que se está, aliás, não se pode falar tudo o que se pensa quando isso ofende ou diminui pessoas de alguma forma mais frágeis ou em situação de maior vulnerabilidade na sociedade”, disse o padre.
Segundo o Lancelotti, após a publicação do vídeo com um trecho do sermão de março, nas redes sociais, ele recebeu uma série de comentários “com ofensas morais muito fortes” em seus perfis pessoais. “Muitos comentários foram de robôs, mas teve gente que chegou a levar cartazes à missa dizendo que o deputado não era nada daquilo que eu falei. Em um desses casos, o rapaz ficou na porta da paróquia – eu fui até ele, vi que era um jovem de quem eu tinha celebrado o casamento, conversamos e ele tentou me convencer que não havia machismo ou racismo por parte do parlamentar'”, relatou.
[b]Deputado rebate padre: “Calúnia”
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A reportagem fez contato com o gabinete do deputado, em Brasília, e com o escritório dele no Rio, mas o pedido de entrevista não foi respondido.
Em março, logo após o sermão de Lancelotti viralizar nas redes sociais, Bolsonaro gravou um vídeo rebatendo o padre e o chamando de “ferrenho defensor do PT” e dizendo que as acusações eram “absurdas”. “Usar a igreja para calúnia e blasfêmia é o fim”, afirmou Bolsonaro na ocasião.
O advogado que subscreveu a ação, Vítor Granado Alves, argumentou que o parlamentar “se sentiu ofendido com as palavras do padre e procurou os meios legais cabíveis para manifestar a insatisfação dele”. “Ele quer apenas reparar o dano que sofreu, mas só se manifestará nos autos do processo, que é público, para não dar margem a interpretações equivocadas”, afirmou Alves.
[b]Fonte: UOL[/b]