Desde a tragédia causada pelo rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão há uma semana, em Brumadinho (MG), uma igreja evangélica foi transformada em lavanderia coletiva.
No local, 20 voluntárias se revezam 24 horas para garantir que os uniformes dos bombeiros que atuam nas operações de buscas em meio à lama provocada pelo rompimento da barragem de rejeitos fiquem limpos, higienizados e passados.
Técnica em vestuário, Laura Miranda Baggio, de 57 anos, viajou seis horas de Monte Sião (MG) para Brumadinho exclusivamente para trabalhar na lavanderia. Ela contou que o maior desafio não está na lavagem ou higienização das fardas, mas em lidar com as emoções.
“A parte mais difícil é ficar aqui trabalhando, pensando na dor das pessoas que perderam seus entes queridos”, afirmou Laura Baggio. “Volto [para casa] com a sensação do dever cumprido. Mas o coração ficará aqui.”
De acordo com as voluntárias, são lavadas 200 peças de roupa por dia, incluindo a higienização com formol. Depois, são passadas e embaladas individualmente em sacos plásticos. Os soldados recebem ainda um bilhete carinhoso e uma barrinha de cereal.
A dona de casa Maria Águida dos Santos Coelho saiu de Belo Horizonte para Brumadinho determinada a ajudar como voluntária. “[Fico feliz em saber que os bombeiros] vão receber uma roupa limpa depois de passarem o dia trabalhando”, disse.
Marilda Augusta Ferreira Santos, dona de casa, viajou uma hora e meia do distrito de Barreiro de Cima para Brumadinho, trabalha na lavanderia e também com a distribuição de cestas básicas. Segundo ela, o fato de estar ali é a recompensa pelo que acredita. “Eu amo fazer isso aí: estar servindo aos outros.”
Fé
Para as famílias que perderam seus entes, ficam muitas perguntas. Onde estará? Ainda é possível ter esperança? Os culpados serão punidos como a lei determina? E, sobretudo, por quê?
Em busca de uma resposta para esses porquês, a fé e a religião, muitas vezes, trouxeram a força e o conforto para que parentes e amigos atravessassem esta semana de aflição e luto.
Na noite desta quinta-feira, na Igreja Matriz de São Sebastião, no Centro de Brumadinho, uma missa de sétimo dia foi celebrada em nome das vítimas da tragédia.
Além do alento das palavras dos padres, aos pés da escadaria da igreja, voluntários, como em tantos momentos durante esta semana, ofereciam solidariedade – desta vez, em forma de abraços e flores.
“A gente sabe quanto que eles estão sofrendo. Muitos até ainda não encontraram seus entes queridos. Aqui é uma cidade que está de luto e parece que é parte de uma cidade que se foi. E ainda é mais difícil de se perguntar por quê”, afirma o Frei Hudson Barcelos.
Ao mesmo tempo em que a missa de sétimo dia era celebrada, na Igreja Batista Ebenézer, no bairro Tejuco, um culto era realizado. Os fiéis oravam pelas famílias daqueles que se perderam em meio à lama e agradeciam pela vida de quem conseguiu escapar da avalanche de lama. Na mensagem da missionária Andreia de Paula, a mesma tentativa de se responder os porquês de tamanha tragédia.
“Nós cremos em um Deus que trabalha para aquele que espera por ele, e a nossa esperança está em Jesus Cristo de que o Senhor Jesus vai fazer algo sobrenatural em Brumadinho, de que o Senhor vai consolar a família brumadinense, de que Deus vai levantar essa população e que Brumadinho vai superar a dor desse trauma”, disse a missionária.
Mensagem de missionária
Uma mensagem de uma mulher que diz ser missionária está circulando pelos grupos de WhatsApp. Nela, a missionária, que não diz seu nome, fala das dificuldades em Brumadinho e pede cobertura espiritual. Leia abaixo:
“Estou em missões aqui em Brumadinho voluntariando junto a PIB (primeira Batista de Brumadinho) e venho pedir cobertura espiritual.
Além do apoio emocional para famílias em velório / enterro / visita às casas, estou também ajudando a lavar os uniformes sujos e contaminados dos bombeiros/socorristas/etc.
Estamos seguindo os procedimentos de segurança, mas mesmo assim corre-se o risco de contaminação por respingos e pelo ar – aí eu teria que tomar um coquetel de remédios em uma injeção. Mas oro para que o Senhor me guarde!
-Sobre os bombeiros:
Estão abalados emocionalmente. Exaustos. A roupa pesa muito. A situação mais ainda. Eles choram.
Precisam de força em todos os sentidos
Eles choram quando encontram alguém ou pedaços, não estão mais encontrando pessoas inteiras,
tá difícil pra eles.
Muito obrigada pela cobertura espiritual e apoio. Obrigada de coração. Deus nos abençoe!
Acabei de ajudar a lavar a roupa de todos os bombeiros e oficiais que estão trabalhando no Córrego do Feijão
Entreguei cartas e orei por varias pessoas que precisavam de consolo.
Obrigada por orarem. (Is.)“
Até o momento, foram contabilizados 110 mortos na tragédia ocorrida na última sexta-feira (25), dos quais 71 foram identificadas por exames realizados pela Polícia Civil. Há ainda 238 pessoas desaparecidas.
Fonte: SBT Interior, G1 e WhatsApp