A Câmara Municipal do Rio de Janeiro rejeitou nesta quinta-feira (12) a admissibilidade dos pedidos de impeachment do prefeito Marcelo Crivella (PRB).
Por 29 votos contra e 16 a favor, o Parlamento decidiu que não houve irregularidade durante a reunião do prefeito com um grupo de evangélicos no Palácio da Cidade, na semana passada, quando Crivella ofereceu facilidades a pastores e líderes de igrejas.
O assunto foi debatido em uma conturbada sessão extraordinária, que dividiu as galeras do Palácio Pedro Ernesto e foi marcada por confusões dentro e fora do Parlamento. Apoiadores de Crivella comemoraram a decisão cantando “eu só quero ser feliz andar tranquilamente na favela que eu nasci”.
Por decisão da Procuradoria da Câmara, a admissibilidade do pedido de impeachment foi definida por maioria simples de votos –isto é, um terço mais um dos presentes. Em meio ao recesso, 47 dos 51 parlamentares compareceram à Casa. Até as 17h, mais de 20 oradores haviam se dirigido à tribuna para atacar ou defender o governo Crivella.
Durante os discursos, houve um desentendimento entre os vereadores David Miranda (PSOL), homossexual assumido e defensor da causa LGBT, e o parlamentar evangélico Otoni de Paula (PSC). O psolista disse que o colega teria feito um gesto homofóbico para provocá-lo.
Miranda afirmou que levará o assunto à Justiça e ao Conselho de Ética da Câmara Municipal. A reportagem não conseguiu abordar Otoni para ouvir a sua versão.
Também houve menções ao nome da vereadora Marielle Franco (PSOL) no decorrer dos trabalhos. Na tribuna, o bispo Inaldo Silva, colega de partido de Crivella, disse “sentir saudade da Marielle” e argumentou que, em sua visão, ela demonstrava bom senso e capacidade de diálogo, ainda que na oposição.
Seria, de acordo com o parlamentar, uma postura diferente em relação aos correligionários do PSOL que hoje pedem o impeachment do prefeito. “A Marielle conseguia entender, conseguia separar. Estou com saudade dela.”
O caso da reunião fechada no Palácio da Cidade foi revelado pelo jornal “O Globo” na quinta-feira passada (5). Um dia antes, Crivella disse ao grupo de evangélicos presente na reunião, intitulada “Café da Comunhão”, que procurassem uma funcionária do gabinete do prefeito a fim de agilizar o agendamento de cirurgias de catarata e varizes na rede pública. Na ocasião, o gestor do município também ofereceu ajuda para resolver problemas relacionados à cobrança do IPTU nos templos.
Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal, nega ter cometido qualquer irregularidade e diz ser vítima de perseguição religiosa.
Dois pedidos de impeachment chegaram à Mesa Diretora, sendo um por iniciativa da bancada do PSOL, que encabeça a oposição, e outro pelas mãos do vereador Átila Alexandre Nunes (MDB) –um terceiro foi enviado por servidores ao TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).
Os requerentes alegavam que houve descumprimento decreto-lei federal de 1967, que “dispõe sobre as responsabilidades de prefeitos e vereadores”. Para o bloco de oposição, Crivella “procedeu de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo” ao oferecer privilégios a determinado grupo de pessoas, o que ensejaria o crime de responsabilidade e daria lastro à cassação do mandato.
Os pedidos de impeachment também argumentaram que Crivella teria cometido crimes de improbidade administrativa e propaganda eleitoral antecipada. Na ocasião do encontro com os evangélicos, o prefeito discursou por mais de uma hora ao lado do colega de partido Rubens Teixeira, pré-candidato a deputado federal pelo PRB. A Procuradoria Regional Eleitoral do RJ apura se houve, de fato, a irregularidade.
Em reunião na noite de anteontem, a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus decidiu comprar a briga da crise envolvendo Marcelo Crivella (PRB), de acordo com o jornal O Dia.
A ordem é a seguinte: reagir. Significa partir para cima dos vereadores que apoiarem o impeachment do prefeito.
Serão dois os caminhos. Primeiro: produzir dossiês contra os parlamentares e, caso seja preciso, divulgá-los nos meios de comunicação pertencentes ao grupo dos evangélicos.
Segundo: pastores de templos da cidade atacarão tais vereadores nos cultos e na presença dos fiéis, principalmente em seus redutos eleitorais.
Entenda o caso
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB) recebeu, na sede da prefeitura, 250 pastores e líderes evangélicos e prometeu várias facilidades para os fiéis.
O encontro foi a portas fechadas, e os convidados não podiam pegar no celular. Crivella marcou a reunião por mensagem. Segundo o jornal O Globo, os pastores podiam levar qualquer reivindicação e, em troca, a prefeitura falaria sobre o que teria a oferecer para os convidados.
Em áudios da reunião, Crivella promete solução para os problemas com IPTU. O encontro aconteceu na tarde de quarta-feira (4).
“Tem pastores que estão com problemas de IPTU. Igreja não pode pagar IPTU, nem em caso de salão alugado. Mas se você não falar com o doutor Milton, esse processo pode demorar e demorar”.
Crivella ofereceu ainda sinal de trânsito, quebra-molas e ponto de ônibus perto das igrejas.
“Às vezes, o pastor está na porta da igreja e diz assim: ‘Quando o povo atravessa, pode ser atropelado’. Vamos botar um sinal de trânsito. Vamos botar um quebra-molas. Ou então o pastor diz assim: ‘O ponto de ônibus é lá longe, o povo desce e vem tomando chuva até a porta da igreja’. Então vamos trazer o ponto para cá”.
Fonte: UOL, O Dia e G1