Várias egípcias com “niqab”, véu que cobre toda a face com exceção dos olhos, concorrem emparelhadas com outros candidatos nas eleições parlamentares do Egito, para provar que não precisam de um rosto para servir o país.
“Para que as pessoas precisam ver meu rosto? O que importa é meu trabalho. Além disso, uma passagem de Deus narrada pelo profeta Maomé diz que Alá não olha vossas imagens nem corpos, mas vossas ações”, disse à Agência Efe a candidata Muna Salah, de 53 anos.
Muna, que administra uma sociedade beneficente que ajuda órfãos, idosos e doentes com câncer, se apresenta como aspirante na lista do partido salafista (fundamentalista muçulmano) Al Nour, que entre suas candidatas tem 60% de “munaqaba” (mulheres com o véu).
“O uso do niqab foi ordenado por Alá. Eu nunca deixarei de usá-lo porque Deus não me perguntará sobre a política, mas sobre o cumprimento de sua lei”, afirmou a candidata, que deixou claro que se sua coalizão chegar algum dia ao poder não imporá o uso do “niqab” e apenas o recomendará. “No final elas serão livres para usá-lo ou não”, comentou.
Muna destacou que uma de suas motivações para concorrer ao pleito foi “representar um grupo da sociedade (os salafistas) que foi perseguido duramente nas últimas três décadas”.
“Desejo fazer com que minha voz seja ouvida no Parlamento para que o povo conheça nosso discurso e ideias, porque a imprensa nos desprestigiou. Mostraram-nos como extremistas e terroristas”, acrescentou.
A candidata ressaltou também que sua presença na Câmara Baixa servirá para vigiar a atuação dos ministros e “evitar que o Egito seja roubado como aconteceu durante o regime passado” do ex-presidente Hosni Mubarak.
Assim como Muna, a engenheira informática Sari Galal, de 27 anos, também usa seu “niqab” e se apresenta como candidata do Al Nour por um distrito do sudeste do Cairo. “Não acho que esse acessório represente um obstáculo para uma mulher no Parlamento. Trabalho em uma companhia estrangeira sem problemas, além disso, posso representar o crescente número de mulheres que estão usando esse véu no país”, declarou Sari.
Sobre o véu, Sari lembra que começou a cobrir seu rosto com “niqab” há dois anos depois de estudar detalhadamente o islã. “Uso por uma opção pessoal e como um vínculo com Deus, mas admito que não seja um mandamento usá-lo porque os ulemás discordam sobre sua legitimidade. Entre eles há quem o considere obrigatório e outros não”, explicou.
Além disso, a jovem defende a aplicação da lei islâmica, mas depois de realizar uma grande reforma em todos os âmbitos da sociedade.
“Apoio a lei, mas antes o povo deve ser preparado gradualmente e aprender bem sua religião, também devemos reformar a situação social, a economia, a educação, a saúde e a cultura. Como vamos aplicar a lei islâmica para um povo com grandes taxas de pobreza e analfabetismo?”, questionou a candidata.
Nesse contexto, salientou que “a lei islâmica não é apenas cortar a mão de um ladrão e apedrejar uma adúltera como pensa o Ocidente. As pessoas desconhecem as virtudes existentes no que se refere à justiça e os direitos”.
Sari pediu a seu partido para ser candidata “por uma aspiração pessoal e porque durante o antigo regime ninguém podia expressar suas ideias nem tinha oportunidades”.
Caso seja eleita, trabalhará com sua formação política em um programa centrado no âmbito social, investindo em cultura e educação. “Também apoiaremos o fim da Lei de Emergência e defenderemos as liberdades públicas, mas dentro do respeito à religião”, concluiu Sari.
[b]Fonte: EFE[/b]