O cardeal Edward Egan declarou na segunda-feira que o ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, não deveria ter comungado durante a visita do Papa Bento XVI, porque ele defende o direito ao aborto.
Egan, arcebispo de Nova York, afirmou em comunicado que ele e Giuliani haviam chegado a um “acordo” quando ele assumiu a diocese, em 2000, de que “Giuliani não receberia a eucaristia devido ao seu conhecido apoio ao aborto”.
“Lamento profundamente que Giuliani tenha recebido a eucaristia durante a visita do Papa a Nova York”, afirmou o cardeal. Ele disse que gostaria de se encontrar com Giuliani para “insistir em que ele cumpra o nosso compromisso” quanto a não receber comunhão.
Uma porta-voz de Giuliani, Sunny Mindel, disse que o ex-prefeito estava disposto a se encontrar com o cardeal, mas preferiu não tratar de nenhum dos comentários específicos do líder religioso. Mindel acrescentou que a fé de Giuliani “é uma questão profundamente pessoal, e deveria continuar a ser confidencial”.
A declaração do cardeal, divulgada no site da arquidiocese de Nova York, parece representar uma mudança de atitude de parte do prelado, que um ano atrás havia dito que “não acredito que a Igreja deva se envolver em política. Não acredito no envolvimento em conflitos políticos. Acredito no envolvimento com questões morais e éticas”.
A nova declaração surgiu no mesmo dia em que uma coluna do jornalista Robert Novak afirmava que permitir que políticos favoráveis ao aborto recebessem a comunhão durante a visita do Papa “refletia a desobediência dos arcebispos de Nova York e Washington a Bento XVI”.
Novak disse que a presidente da Câmara Federal, Nancy Pelosi, e três senadores – John Kerry e Edward Kennedy, ambos de Massachusetts, e Christopher Dodd, de Connecticut – haviam recebido a comunhão em uma missa campal no Nationals Park, um estádio de beisebol em Washington. Ele também informou que Giuliani havia recebido comunhão na missa que o Papa oficiou no Yankee Stadium, em Nova York. Mas Joseph Zwilling, um porta-voz da arquidiocese de Nova York, afirmou que Giuliani havia comparecido a uma missa na catedral de St. Patrick, e não no estádio.
Zwilling confirmou que a declaração do cardeal havia sido motivada pela coluna de Novak e por comentários de outros jornalistas sobre os ocupantes de cargos eletivos e líderes políticos que haviam comungado. “O cardeal sentia que era importante esclarecer que forma tinha o acordo, e tratar do assunto publicamente”, disse o porta-voz.
Zwilling também disse que não sabia como a reunião na qual o cardeal e o então prefeito haviam chegado ao seu compromisso, em 2000, havia acontecido. “Não sei se o encontro deles tinha originalmente algum outro propósito e o tema terminou discutido”, ou se o cardeal havia solicitado uma conversa com Giuliani especificamente para tratar da questão da comunhão.
No comunicado, Egan parecia estar contestando a posição de Novak quanto à suposta “desobediência” ao Papa. Depois de declarar que a Igreja Católica ¿ensina claramente que o aborto é uma grave ofensa contra a vontade do Senhor”, o cardeal disse que “repeti esse ensinamento em sermões, artigos, discursos e entrevistas, sem hesitação ou compromisso de qualquer espécie”.
O comunicado não fazia menção aos múltiplos casamentos de Giuliani. Os bispos católicos dos Estados Unidos debateram as circunstâncias sob as quais a comunhão deveria ser negada a um fiel. “Trata-se de uma questão que está em discussão na Igreja, e Giuliani é um católico muito conhecido”, disse Chester Gills, professor de Estudos Católicos na Universidade Georgetown. “Alguns grupos vêm denunciando estridentemente pessoas que, na opinião deles, não deveriam receber a eucaristia”.
O jornal Washington Times trazia em suas páginas um anúncio com fotos de membros do Congresso e apelava ao pontífice que “não dê a comunhão a essas pessoas, porque elas têm sangue em suas mãos, e aqui estão suas fotos para que seja possível identificá-las”. George Weigel, um acadêmico conservador e biógrafo do Papa João Paulo II, disse que “é primordialmente responsabilidade da pessoa que comunga conhecer sua situação” – ou seja, disse ele, caberia ao indivíduo não receber comunhão caso ele saiba que Igreja não deseja que o faça.
“Quando uma pessoa ouve bispos católicos declarando durante 35 anos que o direito à vida é a mais importante questão de direitos civis de nossa era e ainda assim toma posições que negam o que a Igreja defende quanto a isso ou, como no caso de Nancy Pelosi, John Kerry e Christopher Dodd, facilita essa negação por meio de suas ações legislativas, ela deveria saber que, em termos objetivos, se encontra em uma situação de comunhão fraturada com a Igreja”, afirmou Weigel.
“Não é um assunto que requeira imensa inteligência, e caso alguns membros do clero estejam dispostos a dizer a esses políticos católicos que a regra não se aplica a eles, então esses religiosos estariam agindo de maneira profundamente errada”.
Fonte: The New York Times