Pároco do bairro de Água Fria, Região Metropolitana do Reife, briga com o arcebispo desde que foi acusado por ele de ter um relacionamento com uma paroquiana. Destituído do cargo, ele obteve em Roma permissão para continuar na paróquia.
Todas as igrejas ligadas à Arquidiocese de Olinda e Recife estão divulgando, em seus quadros de aviso, uma carta assinada por 21 padres afirmando que o padre João Carlos Santana, da paróquia de Santo Antônio de Água Fria, na Zona Norte do Recife, está exercendo ilegalmente o ofício de administrador paroquial.
O padre foi afastado, por meio de decreto pelo arcebispo dom José Cardoso Sobrinho, em novembro de 2006, sob acusação de manter um relacionamento amoroso com uma mulher, o que vai de encontro às normas da Igreja Católica. Contudo, ele entrou com recurso no Vaticano para conseguir o direito de defesa, o que suspende os efeitos do decreto.
O padre João Carlos recebeu uma cópia da carta pelos Correios e se disse indignado com o conteúdo. “Ela diz que eu estou cometendo o delito de usurpação de ofício eclesiástico. Mas eu consegui recurso com o Vaticano, que me indicou vários advogados para que eu possa me defender, portanto, conforme o Código de Direito Canônico, eu posso continuar na paróquia. Por que tanta pressa em me tirar da cidade?”, afirmou. Ele também se mostrou inconformado com a assinatura de outros padres na carta. “Eles deveriam procurar conhecer o processo primeiro.”
A polêmica envolvendo o padre começou em novembro, quando o arcebispo recebeu informações anônimas, via e-mail, de que ele teria um caso com a dona de casa Ivânia Olímpio de Almeida, prima de João Carlos em 2º grau. Isso porque um oficial de Justiça esteve na casa da mulher para entregar um mandado e foi recebido pelo padre, o qual teria dito que ela estava dormindo e se identificado como seu marido.
A dona de casa, que é casada e tem três filhos, entrou com um processo criminal contra dom José, por calúnia, injúria e difamação. Segundo registrou na semana passada um blog de um jornalista local, d. José vai depor no Juizado Especial Criminal, localizado na Universidade Católica, no próximo dia 20 de setembro. E estará frente a frente com o padre João Carlos, que vai participar como testemunha.
“Em nenhum momento ele me deu direito de defesa. Tive que recorrer ao Vaticano, que me respondeu favoravelmente em julho. Meus amigos estão se mobilizando para que eu possa constituir um advogado”, declara o padre. “Sei que é uma briga de uma formiga com um elefante e sei que vou sair da paróquia, mas quero que ele prove as acusações que me fez, ou então diga que cometeu um erro e peça desculpas”, defendeu. Não se conseguiu contato com a arquidiocese por telefone.
Padre terá de pagar R$ 4 mil para que seu recurso seja julgado pelo Vaticano
O padre João Carlos recebeu do Supremo Tribunal da Assinatura Apóstólica do Vaticano uma lista com nomes de advogados que poderão representá-lo no recurso que move contra D. José.
Na prática, isso significa que o Vaticano, pela primeira vez, aceita ouvi-lo sobre a denúncia lançada pelo arcebispo. “Tive a alegria de saber que o Vaticano vai querer me ouvir”, disse o padre agora à noite ao Blog, com exclusividade. “Até então não tinha me ouvido. E o bispo terá de se explicar”.
O que ele pede com o recurso é a retratação de D. José.
Embora feliz porque será ouvido pelo Superior Tribunal da Assinatura Apostólica, do Vaticano, o padre João Carlos Santana da Costa sabe que não será fácil aprovar seu recurso contra as acusações feitas pelo arcebispo de Olinda e Recife, D. José Cardoso Sobrinho.
E a primeira dificuldade é o dinheiro que o pároco de Água Fria terá de desembolsar para que o processo ande. De saída, de acordo com a carta enviada pelo tribunal, serão 1,55 mil euros (cerca 4 mil reais).
Não está claro se estes recursos já incluem os honorários dos advogados. Por isso, nesta quinta (2), ele enviou ao tribunal mais uma carta com 18 perguntas sobre os trâmites do processo. Inclusive se há a possibilidade da gratuidade.
“De qualquer modo, para quem trabalha em uma paróquia de periferia, esse valor já é muita coisa”, disse o padre João Carlos, com exclusividade, ao Blog. Ele terá 30 dias úteis, a contar da terça passada, para constituir advogado junto ao Vaticano, a partir da lista que lhe foi enviada.
O recurso visa à retratação de D. José, que o acusou de manter um relacionamento amoroso com a paroquiana Ivânia Queiroga, prima do padre e casada. “Meu pleito é para resgatar a minha honra e contra a calúnia lançada sobre a minha pessoa”, explicou.
Danos
Esta é a terceira tentativa do padre João Carlos de ser ouvido pelo Vaticano. Na primeira, ele enviou seu recurso à Congressão para o Clero, que o aconselhou a seguir a orientação de D. José para que abandonasse a diocese de Olinda e Recife e retornasse a sua diocese de origem: Cajazeiras, na Paraíba.
Na segunda, acionou este mesmo Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, que o orientou a enviar o recurso ao prefeito do órgão. Apenas uma formalidade legal. Deu certo.
Quando o caso for julgado pelo tribunal, a decisão será irrecorrível. Depois dela, padre João Carlos já sabe qual vai ser seu próximo passo.
“Entrarei com ação por danos morais contra D. José. O Direiro Canônico já prevê este instrumento”, contou. “Ele é bispo, mas não pode fazer uma acusação dessas baseado em um email anônimo”. O pároco, de 41 anos, tem 15 de sacerdócio – 12 na paróquia de Água Fria.
Fonte: JC On-line