A casa onde, segundo a polícia mineira, a ex-amante do goleiro Bruno, Eliza Samudio, teria sido morta e esquartejada no dia 10 de junho do ano passado vai abrigar, a partir da próxima semana, uma igreja evangélica.
O imóvel é do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e fica na rua Araruama, no bairro Santa Clara, cidade de Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). A família de Bola – acusado de ser o executor de Eliza – continua a morar no local.
Segundo o filho do ex-policial, Marcos Diego dos Santos, 21 anos, “um pastor alugou a garagem que fica na frente da propriedade”. O local foi o principal ponto das buscas pelo corpo ou restos mortais de Eliza no ano passado. Na época, nenhum vestígio foi encontrado pela perícia da Polícia Civil ou pelos cães farejadores, mas os buracos provocados pelas escavações ainda incomodam a família.
“Está tudo quebrado. A quebradeira que aqueles safados (policiais) fizeram continua a mesma. Agora, o pastor está construindo uma igreja batista, onde ficava a loja do meu pai”, disse Marcos.
O pastor Gilmar dos Santos, 53 anos, conta que teve que fazer vários reparos nos locais onde a polícia quebrou para encontrar algum vestígio da ex-modelo. “Eu estava procurando um imóvel aqui na região e, por acaso, uma senhora me indicou esta casa. Só depois que eu conversei com a mulher do Marcos Aparecido e descobri que o local pertencia a ele”, contou.
Durantes as investigações, o delegado que presidiu o inquérito, Edson Moreira, chegou a vasculhar o imóvel, que tem dois barracões e a loja, em busca do corpo de Eliza. O adolescente J., primo de Bruno, foi quem teria levado policiais do Rio de Janeiro até a casa. O jovem teria contado em depoimento que Bola teria amarrado as mãos de Eliza e, depois de cheirá-las, a teria estrangulado. Em seguida, o ex-policial teria esquartejado o corpo e jogado uma das mãos para os cães da raça rotweiller que ele criava.
No dia 14 de julho de 2010, equipes da Delegacia de Homicídios utilizaram um aparelho de sondagem para identificar espaços vazios sob a terra ou paredes. O aparelho chegou a localizar um espaço oco no chão, debaixo de uma escada. Os cães perceberam algum cheiro no local, mas o odor seria apenas de esgoto. Depois das buscas, o delegado Hugo e Silva, da Divisão de Pessoas Desaparecidas da polícia mineira, descartou a presença do corpo de Eliza: “foi alarme falso, nada foi encontrado”.
Outra hipótese levantada pelo delegado, com base no depoimento do adolescente, seria a de que cães criados pelo ex-policial teriam devorado o corpo da ex-modelo. Dez cães foram recolhidos e analisados pela perícia, que também não identificou vestígios de sangue no pelo dos animais, que morreram no Departamento de Zoonoses de Vespasiano, para onde foram levados. “Hoje temos dois filhotes pequenos e uma rottweiller grande. Um morreu sentido falta do meu pai”, lamentou o filho de Bola.
Apesar da acusação contra o pai, Diego garante que a notícia de que ele teria arquitetado um plano para matar a juíza Marixa Fabiane Rodrigues e o delegado Edson Moreira não passou de “mentira”. “Nosso telefone está grampeado. É uma coisa que não tem cabimento. Ele ligava para minha mãe chorando e eles inventaram que ele queria matar. Vai matar juíza pra quê? Ela não fez nada contra ele”, disse.
De acordo com Marcos, a família visita o ex-policial a cada 15 dias. Eles ainda acreditam na absolvição de Bola. “(Ele) está bem ‘caidinho’, muito triste por tudo que está acontecendo. Mas no final vai dar tudo certo”, disse.
[b]O caso Bruno
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Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida.
O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
[b]Fonte: Terra[/b]