Livres da prisão nos EUA, Estevam e Sônia dividem o tempo entre a UTI, onde o filho está internado, e os cultos na Igreja Renascer. “Estou dividido”, disse Estevam Hernandes, um dos fundadores da Igreja Renascer em Cristo, logo que subiu ao palco da sede internacional do grupo religioso, durante culto na noite da quarta-feira 5.
As 2,5 mil pessoas que lotavam o galpão da sede, na zona leste de São Paulo, e gritavam em uníssono “ôôô, o paizão voltou” silenciaram. “Estou feliz por estar de volta ao Brasil, mas triste pelo meu “E filho, o Bispo Tid”, completou. Estevam e sua mulher, Sônia – conhecidos como “apóstolo” e “bispa” e líderes de uma das mais poderosas denominações neopentecostais brasileiras – passaram os últimos 32 meses em Miami, nos Estados Unidos, cumprindo pena por tentar entrar no país com US$ 56,5 mil em dinheiro, tendo declarado apenas US$ 10 mil. E voltaram às pressas ao País por causa de um drama familiar.
A 15 dias do fim da sentença, o casal – que cumpriu cinco meses da pena em regime fechado e de maneira alternada, outros cinco em prisão domiciliar e mais um período em liberdade controlada por pulseiras GPS – recebeu a notícia de que o mais velho dos três filhos, Felippe Daniel Hernandes, de 30 anos, sofrera graves complicações durante uma cirurgia complementar ao processo de redução de estômago.
Com a saúde frágil desde a infância – ele fez um transplante de rim, doado pelo pai, aos 14 anos -, o bispo Tid, como é conhecido na igreja, estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, em estado gravíssimo e com possível comprometimento neurológico. Em função das circunstâncias, o juiz americano reduziu a pena em duas semanas para que o casal pudesse acompanhar o filho doente.
Desde então, Estevam e Sônia quase não saem do lado do filho, embora tenham comparecido em culto horas após desembarcarem e na quarta-feira 5. O casal tem tido o apoio da pastora Caroline Celico, a senhora Kaká, presente no palco da sede internacional na semana passada. “Eles se mudaram para o hospital”, diz uma amiga da família. Lá, dois representantes da igreja se alternam para manter uma corrente de oração e canto 24 horas por dia na antessala da UTI, onde estão parentes de outros 33 pacientes.
Nos jardins e no entorno do hospital, fiéis com crachá e colete da Renascer montam uma espécie de guarda espiritual para o herdeiro de seus líderes. Em todas as cerimônias dos 800 templos da Renascer, o estado de saúde do bispo Tid é lembrado. No culto do sábado 1º, por exemplo, os 30 mil fiéis que compareceram à Ceia de Oficiais no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, se viraram em direção ao Hospital Oswaldo Cruz para orar por ele.
A preocupação se justifica. Para muitos, o bispo Tid – que tem uma irmã, Fernanda, 26 anos, e um irmão adotivo, Gabriel, 14 anos – é o sucessor natural de Estevam no comando da Renascer. Como bispo, ele está a um passo de se tornar apóstolo dentro da hierarquia da igreja, que começa nos aspirantes, passa pelos diáconos, presbíteros – como Kaká-, pastor, bispo e apóstolo. Mas a sucessão não estava na iminência de acontecer.
E o casal Hernandes deixou isso claro ainda na Flórida, quando comandava cultos por videoconferência com frequência semanal. “Eles voltam para assumir uma igreja forte”, argumenta um ex-bispo do grupo religioso. “A igreja continuou com um corpo razoável de fiéis, mesmo depois dos escândalos no Brasil e nos Estados Unidos e agora o rebanho deve crescer ainda mais”, explica.
Quando fala de escândalos no Brasil, o dissidente se refere às denúncias do Ministério Público de São Paulo feitas em 2006 contra o casal pelo suposto crime de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e estelionato. Segundo o promotor Arthur Lemos Jr., ainda corre pelo menos um processo por lavagem de dinheiro contra eles. “Vamos notificar a Justiça do retorno dos dois e retomar as audiências”, diz Lemos. Até lá, ainda serão muitos os cultos animados. Com a volta do “paizão” e da “mamãe”, como Estevam e Sônia são chamados pelos fiéis, é tempo de festa na Renascer. E, para esse rebanho, é só isso que parece importar.
Oito anos depois de uma cirurgia bariátrica, filho dos bispos da Renascer está internado em estado grave
Procedimento médico relativamente novo, a cirurgia bariátrica, que reduz as dimensões do estômago de maneira radical e leva o paciente a comer muitíssimo menos, começou como último recurso de obesos em situação de alto risco e se transformou em intervenção mais corriqueira. No mundo dos famosos, seu mais recente adepto foi o apresentador Fausto Silva, 59 anos, que no domingo passado informou ao público ter passado por uma operação de “interposição ileal”, versão da redução de estômago que tem por objetivo principal controlar o diabetes. Mas por características específicas do procedimento, e por mexer num mecanismo complexo como o da fome e da saciedade, a cirurgia bariátrica continua a ser uma operação perigosa. Seu índice de letalidade é de 2%, igual ao das cirurgias para colocação de ponte de safena. As complicações pós-operatórias batem em 10%. As mais comuns são rupturas e infecções provocadas pelo exagero no consumo de alimentos. Outras ainda podem aparecer muitos anos depois de feita a cirurgia, como no caso de Felippe Daniel Hernandes, 30 anos, internado há um mês no Hospital Oswaldo Cruz, de São Paulo. Por causa da gravidade de seu estado, os pais dele, Sonia e Estevam Hernandes, líderes da Igreja Renascer, conseguiram autorização dos Estados Unidos, onde cumpriam pena, para antecipar a volta ao Brasil em quinze dias.
Há oito anos, pesando 150 quilos, Felippe, conhecido como o pastor Tid da Renascer, que já havia recebido um duplo transplante de rins, fez a cirurgia bariátrica. Emagreceu mais de 40 quilos. Voltou a engordar um pouco, mas passava bem até que, meses atrás, começou a ter fortes dores abdominais. Detectou-se uma aderência intestinal, bastante comum em pessoas que reduziram o estômago. Em 9 de julho último, foi operado para remover o pedaço de intestino obstruído. Horas depois, uma das suturas se rompeu, causando hemorragia interna e uma infecção forte o bastante para provocar edema cerebral. Para preservar o cérebro de maiores danos, encontra-se em coma induzido desde o dia 31. Seu estado é considerado muito grave. “Esse tipo de obstrução independe do paciente. Ele pode seguir a dieta direitinho e muitos anos depois da operação desenvolver a aderência”, diz Sidney Klajner, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Albert Einstein.
Além das aderências, facilitadas pela intensa movimentação dos órgãos envolvidos nesse tipo de operação, a cirurgia bariátrica pode produzir mais úlceras (o ácido estomacal passa a cair diretamente no intestino) e hérnias (um estrangulamento por excesso de alimentos, por exemplo). Mesmo assim, para obesos mórbidos que desenvolvem diabetes, hipertensão, dificuldades respiratórias e outras complicações, a redução de estômago é resposta rápida, certeira e cada vez mais recomendada. Gordo, mas não obeso, Faustão encontrou no diabetes a motivação para entrar na faca. Fez a cirurgia desenvolvida pelo médico goiano Áureo Ludovico de Paula: a parte final do intestino delgado, o íleo, em que se produzem hormônios que facilitam a secreção de insulina, é reposicionada próximo ao estômago, que por sua vez é reduzido para diminuir a produção de grelina, o hormônio do apetite. “Quando o paciente é obeso, retiram-se de 30% a 40% do estômago”, diz De Paula. “A diminuição de peso vem a reboque do controle da doença metabólica.”
Fonte: Revistas IstoÉ e Veja