A imponente mesquita de Córdoba, na Espanha, começou a ser construída pelos califas muçulmanos no século 8°. Com a reconquista cristã da Espanha no século 13, foi redefinida como catedral.
Hoje em dia, placas na cidade de Andaluzia se referem ao monumento como “catedral-mesquita” de Córdoba. Mas essa terminologia agora está sendo questionada. No mês passado, o bispo de Córdoba lançou um apelo para que a cidade pare de se referir ao monumento como uma mesquita para não “confundir” os visitantes.
“Não há problema em dizer que os califas muçulmanos construíram esse templo de Deus”, escreveu o bispo Demetrio Fernández no jornal de centro-direita ABC. “Mas é completamente inapropriado chamá-lo de mesquita hoje em dia, porque não vem sendo uma há séculos”.
O debate adquiriu importância com a visita do Papa Bento 16 no começo de novembro. Ele identificou a Espanha como campo de batalha nos seus esforços para aumentar a crença no cristianismo em uma Europa cada vez mais secular e muçulmana.
O monumento de Córdoba, uma das maravilhas arquitetônicas do mundo, recebeu 1,1 milhão de visitantes em 2009, a maioria deles turistas, longe de serem veneradores religiosos. Mas alguns funcionários da diocese ficaram indignados por alguns muçulmanos terem tentado rezar ali.
“Todas as vezes em que algum fundamentalista islâmico, em um vídeo na Al Jazeera ou em outros canais, prega pela reconquista de Al Andalus, o domínio antigo muçulmano, as pessoas aparecem aqui defendendo o uso da catedral como um lugar para o culto islâmico”, disse o referendo Manuel Montilla Caballero, que recebe turistas durante a noite.
Osama bin Laden e outros radicais pregam repetidamente pelo retorno da Al Andalus para as mãos muçulmanas -ou seja, pela reconquista islâmica da Espanha. Mas outros consideram Al Andalus um lugar quase utópico em que católicos, muçulmanos e judeus convivem pacificamente.
“O monumento de Córdoba é uma lição ao universalismo, em como as culturas e religiões podem se encontrar e coexistir”, disse Isabel Romero, a porta-voz da associação local islâmica de Córdoba. Para o desprazer dos católicos da região, a associação quer que a diocese crie um espaço na catedral para o culto muçulmano. “Seria um gesto exemplar”, disse Romero.
Em outra complexa mistura, indicação das ironias históricas da Espanha atual, Romero é um católico convertido ao islamismo.
No começo de novembro, um juiz em Córdoba multou oito muçulmanos austríacos por perturbar a paz quando entraram no monumento em grupos pequenos em dia religioso neste ano, rezaram alto e lutaram com os guardas e a polícia local.
Enquanto isso, um grupo chamado Associação dos Muçulmanos de Córdoba, que representa os 2.500 muçulmanos nesta cidade de mais de 300 mil pessoas, disse que não tem intenção de encorajar seus membros a rezarem na mesquita-catedral.
“Não, não, não”, disse Kamel Mekhelef, o secretário da associação, cujos membros rezam em uma mesquita em Córdoba feita por soldados africanos que lutaram por Franco. “Pedir para dividir a oração significa aumento da tensão”, afirmou Mekhelef.
Ao mesmo tempo, deixou claro que ele e seu grupo são contrários à sugestão do bispo de remover a palavra “mesquita” das placas locais.
“É uma tendência que sinto, uma certa inclinação para cancelar tudo relacionado ao islâmico na história espanhola”, disse.
Em uma tarde recente, visitantes do monumento pareciam divididos. “É uma catedral e tem de ser chamada de catedral”, disse Daniel Ramírez.
Seu amigo Celestino González discordou. “É uma mesquita”, disse González, apontando para a arquitetura islâmica. “Eu não sou fiel e não vejo problema nenhum em combinar os dois nomes”.
[b]Fonte: The New York Times por Folha de São Paulo
[/b]