As católicas dos Estados Unidos admoestadas no ano passado durante o pontificado de Bento XVI esperam que o papa Francisco escute as mulheres e reconheça uma participação feminina mais equitativa na Igreja.

“Nossa obediência prioritária é a Deus”, declarou recentemente ao canal de televisão “CNN” Pat Farrell, ex-presidente da Conferência de Liderança de Religiosas, que representa 87% das 57 mil católicas dos Estados Unidos.

“Obedecemos a Deus e Deus nos convoca para que nos expressemos de maneiras muito diferentes. Não só seguindo a autoridade da Igreja que é, sem dúvida, uma parte legítima do todo”, acrescentou Pat.

A Congregação para a Doutrina da Fé, antigo Santo Ofício e órgão colegiado do Vaticano com a função de custodiar a correta doutrina católica na Igreja, indicou no ano passado que a Conferência de Liderança de Religiosas dos EUA promovia “temas feministas radicais” em assuntos como a sexualidade ou a justiça social.

“Isso me parece medo”, comentou Pat. “O que aconteceria se dessem às mulheres, realmente, um lugar de igualdade na Igreja?”.

Religiosas como Bridget Mary Meehan, eleita bispo pela Associação de Mulheres Sacerdotes, em uma ordenação que a Igreja não reconhece, dizem acreditar que o papa Francisco “siga o exemplo de Jesus, que incluiu as mulheres entre seus discípulos”, expressou Bridget em entrevista à Efe.

A Igreja Católica, a maior denominação cristã nos Estados Unidos, registrou desde 1975 uma diminuição de 20 mil sacerdotes em seu clero enquanto que o número de fiéis aumentou 17 milhões, até 67 milhões, aproximadamente 6% dos católicos no mundo todo.

Mas o Vaticano mantém sua doutrina de que as mulheres não podem ser sacerdotes e nos EUA a Igreja recorreu, inclusive, a encher postos nas paróquias com ex-sacerdotes anglicanos convertidos.

“Jesus não fez ordenações sacerdotais e se alguém pode se incluir como seu discípulo favorito essa é Maria Madalena”, lembrou Bridget, que lidera um dos grupos que deixaram de reivindicar a ordenação sacerdotal feminina para passar diretamente à ação, contrariando as diretrizes da Igreja.

O ex-arcebispo Jorge Bergoglio “é um mensageiro de paz e a solidariedade que expressa para os pobres é importante”, manifestou à Efe, Erin Saiz Hanna, porta-voz da Conferência de Ordenação Sacerdotal de Mulheres.

Durante o conclave no Vaticano que elegeu Bergoglio como sucessor de Bento XVI, um grupo de mulheres desta Conferência acendeu uma vela com fumaça rosa “para lembrar que a voz das mulheres não foi escutada dentro do conclave, e que as mulheres seguem marginalizadas”.

A Conferência de Ordenação Sacerdotal de Mulheres informou que 100 das mulheres nomeadas como sacerdotes católicas no mundo e 75% desse clero não reconhecido pela Igreja vivem nos Estados Unidos.

A reivindicação de ordenação sacerdotal feminina não é, de todos os modos, um dos problemas prioritários para o Vaticano.

Além desse assunto concreto, a religiosa beneditina Joan Chittister, insistiu em recente entrevista ao jornal “USA Today” que “o assunto das mulheres na Igreja é o de maior importância, porque as mulheres sentem que são invisíveis”.

“Eu espero que estes assuntos da ordenação, a participação, a inclusão das mulheres passem para a agenda. Já não podemos continuar esperando. Acho que o tempo de espera se esgotou”, afirmou.

“O papa Francisco deve fazer algo que ajude a Igreja”, concluiu Chittister.

A escassez de sacerdotes foi sentida de maneira particularmente aguda entre as comunidades católicas de imigrantes onde foram as mulheres as que ocuparam várias funções na paróquia, desde a catequização ao atendimento das necessidades sociais.

Christine Haidler, que estuda no Pacific College of Religion para ser nomeada como sacerdote católica, disse à rede de televisão “CNN” que “é muito cedo para formarmos uma opinião sobre Francisco”.

“É o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta, o primeiro que escolheu o nome de Francisco”, comentou. “Muitas primícias em sua eleição, e talvez seja tempo para mais primícias”.

O distanciamento entre o Vaticano e a realidade das católicas nos EUA não se limita ao monopólio masculino no sacerdócio ou a busca por uma igualdade das mulheres na vida eclesiástica. Quase 97% das católicas entre os 15 e 44 anos de idade nos EUA usam anticoncepcionais, segundo um estudo do Instituto Guttmacher.

Além disso, uma pesquisa da Universidade Quinnipiac constatou que 54% dos católicos apoiam a legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

[b]Fonte: Exame.com[/b]

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