A Igreja francesa alertou o Vaticano a não se apressar em retomar a missa em latim como forma de atrair os tradicionalistas sem considerar os riscos de readmiti-los entre os fiéis.
Arcebispo de Paris, André Vingt-Trois disse a um dirigente do Vaticano que os tradicionalistas excomungados em 1988 podem ameaçar a unidade mundial de Igreja e reverter reformas importantes do Concílio Vaticano Segundo, da década de 1960.
Outro prelado francês, o arcebispo Robert Le Gall, de Toulouse, alertou que readmitir a ultraconservadora Sociedade de São Pio 10º (SSPX) pode também voltar os católicos favoráveis às reformas contra o pontificado de Bento XVI.
Fontes eclesiásticas dizem que o papa pretende revogar as excomunhões dos bispos da SSPX e autorizar padres a seguirem a missa latina instituída em 1570 e praticamente abandonada em detrimento das línguas vernáculas nas últimas décadas.
– A verdadeira questão não é a língua usada. Sob a capa de uma campanha para defender certo tipo de liturgia, há uma crítica radical ao Concílio Vaticano, ou mesmo a rejeição explícita de algumas das suas declarações. Isso claramente coloca uma questão sobre a unidade da Igreja e a autoridade do Concílio – disse Vingt-Trois em uma conferência em Paris, da qual participou também o cardeal Francis Arinze, encarregado pelo Vaticano de questões litúrgicas.
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Embora a missa em latim provoque enorme polêmica, a demanda por esse tipo de celebração é mínima. A ampla maioria dos católicos continuaria a frequentar missas modernas, em línguas vernáculas. As reformas do Concílio Vaticano Segundo incomodou os ultraconservadores por abandonar a missa em latim, dar a leigos um maior papel nos serviços religiosos, declarar o respeito pelo Judaísmo e admitir a cooperação com outras denominações cristãs.
A disputa com a SSPX, que tem sede na Suíça e cerca de 1 milhão de seguidores no mundo, se arrasta há 18 anos e também tem repercussões políticas na França, porque alguns de seus membros são ligados a movimentos monarquistas ou de ultradireita. Vingt-Trois lembrou que os clérigos da SSPX insultaram abertamente o falecido papa João Paulo 2o, ocuparam sua principal igreja parisiense à força e tentaram em vão controlar uma segunda igreja.
João Paulo II era menos inclinado a lidar com a SSPX do que Bento XVI. Assim como seu antecessor, o atual pontífice não esconde sua admiração pela missa em latim e pela liturgia tradicional. À diferença de João Paulo 2o, porém, Bento 16 parece mais interessado em resolver o cisma. Le Gall, principal autoridade francesa em questões litúrgicas, disse que uma decisão muito rápida a respeito da SSPX pode incomodar os católicos mais “comuns”, que não veriam com bons olhos uma volta às velhas práticas.
– Arriscamos a criar uma frente de tristeza, desanimo e frustração com a Santa Sé. A liturgia é só a ponta do iceberg – disse ele.
Segundo ele, Bento XVI e Arinze foram mais influenciados por cartas com queixas, muitas delas enviadas por tradicionalistas, do que pela vida real da Igreja na França.
Fonte: Correio Brasil